SÉRIE VIESES COGNITIVOS - E12: Efeito Dunning-Kruger...a síndrome do sabichão
Alison Seiffer

SÉRIE VIESES COGNITIVOS - E12: Efeito Dunning-Kruger...a síndrome do sabichão

SÉRIE VIESES COGNITIVOS - E12: Efeito Dunning-Kruger...a síndrome do sabichão

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O efeito Dunning-Kruger foi descoberto e escrito pela primeira vez pelos pesquisadores David Dunning e Justin Kruger (1999) da Universidade de Cornell. Estes pesquisadores perceberam o quanto as pessoas podem SUPERESTIMAR ou SUBESTIMAR suas próprias habilidades na vida cotidiana. Os pesquisadores testaram um grupo aleatório de participantes em testes de gramática inglesa, raciocínio lógico e senso de humor. Eles descobriram que muitas as pessoas que tiveram um desempenho abaixo da média nos testes, acreditavam que haviam se saído bem e que seus resultados eram melhores do que os demais.

 Em outras palavras, este viés cognitivo ocorre quando pessoas não qualificadas, mas inconscientes de sua falta de competência, têm uma autoavaliação inflada de suas próprias habilidades e uma falta de discernimento para reconhecer sua incompetência, SUPERESTIMANDO sua própria competência. Por outro lado, esse efeito também faz com que algumas pessoas que se destacam e são altamente especializadas tendem a SUBESTIMAR seu conhecimento e desempenho superestimando-os nos outros, e não reconhecem suas próprias habilidades excepcionais.

 Vou dar aqui alguns exemplos:

 1.      Vamos imaginar que você esteja esperando por uma promoção. A oportunidade surge com a aposentadoria de seu gerente imediato e para sua surpresa, outro colega é convidado no seu lugar. Será que de fato você era a pessoa mais competente para assumir aquela promoção ou você estaria sendo vítima do efeito Dunning-Kruger?

2.      Imagine que você e alguns colegas da empresa decidem aprender o idioma, onde todos não possuem nenhum conhecimento prévio. Dentro de alguns dias, você consegue dizer várias frases inteiras, apesar de que você está um pouco desapontado e acredita que já deveria ter um vocabulário mais variado. Por outro lado, um dos seus colegas aprendeu apenas algumas poucas palavras. Ele está MUITO feliz e confiante com seu próprio progresso. Ele não aprendeu quase nada, nem sabe pronunciar direito seu pequeno repertório, sua falta de conhecimento o impede de avaliar seus próprios erros, fazendo com que ele superestime sua proficiência, achando inclusive que está se saindo melhor do que os demais.

3.      Não sei como vocês se saíram quando aprenderam a dirigir. Mas alguns motoristas novatos ou “barbeiros profissionais” tendem a usar seus próprios critérios para o que significa ser um “bom” motorista. Por exemplo, uma pessoa pode acreditar que pelo fato de não ter se envolvido em nenhum acidente ao longo de sua vida de condutor, seja um bom motorista.

4.      Alguns alunos que obtêm notas baixas nos exames às vezes sentem que mereceriam uma nota muito mais alta. Eles superestimam seus conhecimentos e habilidades e não conseguem avaliar com precisão seu desempenho. Em muitos casos, alunos de baixo desempenho consistentemente não recebem bem as críticas e são cronicamente desinteressadas em autoavaliação e aperfeiçoamento.

 Nestes exemplos as pessoas envolvidas só podem se avaliar a partir de seu próprio ponto de vista, muitas vezes limitado e altamente subjetivo. A partir dessa perspectiva limitada, eles parecem altamente qualificados, conhecedores e superiores aos outros. Lin et al (2022) chamam a atenção para o fato de que pensar que você é melhor do que realmente é pode fazer com que você perca oportunidades de aprender com outros, que realmente são mais habilidosos ou mais conhecedores, porque sua confiança os mantém herméticos.

Uma experiência recente refere-se ao contexto do surgimento da pandemia do Covid-19. Muitas pessoas sem formação ou experiência relevantes em epidemiologia, surgiram na mídia com surpreendente confiança em postagens e declarações, discutindo audaciosamente com especialistas, muitas vezes inconscientes do quanto não sabem. Oliver (2022) destaca que percebeu-se uma queda na confiança em especialistas em saúde pública, especialmente quando os especialistas propondo medidas impopulares.

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A combinação de baixa autoconsciência e baixa capacidade cognitiva os leva a superestimar suas capacidades. Como Charles Darwin escreveu em seu livro The Descent of Man , "A ignorância gera mais frequentemente confiança do que o conhecimento". Em muitos casos, a incompetência não deixa as pessoas desorientadas, perplexas ou cautelosas, em vez disso, os incompetentes são muitas vezes abençoados com uma confiança inadequada, sustentada por algo que lhes parece conhecimento.

 Nestes contextos, os indivíduos que são altamente competentes e confiáveis dentro de suas áreas de conhecimento devam se esforçar para informar as pessoas leigas em linguagem simples e acessíveis, para melhorar a compreensão e ajudar a evitar sistemas de crenças defendidos por pessoas incompetentes, mas muito confiantes.

 Como superar o efeito Dunning-Kruger?

 1.      Reserve um tempo para refletir. Se você não tiver certeza se o feedback é justo, reflita sobre suas próprias ações e desempenho antes de decidir que a outra pessoa está errada.

2.      Não se sinta ameaçado pelo feedback. Esteja aberto a críticas construtivas e resista ao impulso de se tornar defensivo. Busque feedback de pessoas em quem você pode confiar e que você sabe que são altamente qualificadas em sua área de interesse.

3.      Não desconsidere as críticas. Pergunte a si mesmo: você já ouviu críticas semelhantes de pessoas diferentes em sua vida e as ignorou? Embora às vezes possa ser difícil ouvir, esse feedback pode fornecer informações valiosas sobre como os outros percebem suas habilidades.

4.      Não tome decisões precipitadas. Algumas pessoas se sentem mais confiantes quando tomam decisões rapidamente, mas decisões rápidas podem levar a erros de julgamento. Refletir sobre onde erramos da última vez também pode nos ajudar a seguir em frente.

5.      Dê uma olhada nas áreas de sua vida em que você se sente 100% confiante. Reconheça a possibilidade de que você nem sempre esteja certo e talvez precise adquirir conhecimento ou praticar mais.

6.      Desafie suas próprias crenças. Existem coisas sobre você ou sobre o mundo que você sempre acreditou e nunca questionou? À medida que o mundo muda, revisitar nossas crenças pode nos ajudar a acompanhar essas mudanças.

7.      Continue aprendendo e praticando. Em vez de presumir que você sabe tudo o que há para saber sobre um assunto, continue se aprofundando, você provavelmente reconhecerá o quanto ainda há para aprender.

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Compreender o efeito Dunning-Kruger pode ajudá-lo a discernir quando confiar em suas próprias habilidades e quando procurar obter feedback honesto de outras pessoas que possam avaliar suas competências de forma mais objetiva e isenta. Brown (2012) destaca que a vulnerabilidade não é fraqueza; é a incerteza, os riscos e a exposição emocional que enfrentamos todos os dias não são opcionais. Refletir sobre nossa própria experiência e habilidade e buscar feedback de outras pessoas pode ajudar qualquer pessoa, independentemente de seu nível educacional, a formar uma imagem mais precisa do que sabe e do que não sabe.

 Referências Bibliográficas

BROWN, Brené. The Power of Vulnerability: Teachings on Authenticity, Connection and. 2012.

KRUGER, Justin; DUNNING, David. Journal of Personality and Social Psychology. Unskilled and unaware of it: How difficulties in recognizing one’s own incompetence lead to inflated self-assessments, v. 77, n. 6, p. 1121-1134, 1999.

LIN, Nidthida et al. Persist or let it go: Do rational entrepreneurs make decisions rationally?. Journal of Business Venturing, v. 37, n. 4, p. 106210, 2022.

 OLIVER, David. Covid-19 and the Dunning-Kruger effect. bmj, v. 378, 2022.

Seguem os links dos episódios anteriores:

E1: Armadilhas do Processo Decisório

E2: Cuidado com a Black Friday...

E3: Atribuições Defensivas ou Erros Fundamentais de Atribuição

E4: Você sabe o que é a Cascata de Disponibilidade?

E5: Você sabe o que o Cinismo Ingênuo?

E6: O que é Criptomnésia?

E7: Você sabe o que é Declinismo?

E8: Efeito Bandwagon ou Maria vai com as outras

E9: Efeito Benjamin Franklin e como vencer o RANÇO

E10: Efeito Enquadramento...preste atenção na forma como embrulham o presente

E11: Efeito Terceira Pessoa...os "OUTROS" acreditam em qualquer bobagem!


#viéscognitivo

#heurísticas

#falácias

#cognitivebias

#escoladeengenhariadauff

#doutoradoemengenhariadeproducão

Max Siqueira

Gerente de Serviços de TI | Gerente de Projetos de TI | Tech Lead | Analista Sênior de TI

10 m

Obrigado por compartilhar Hayala Curto, esclarecedor!

Marcos Pessanha

Plant Manager na WOM DO BRASIL LTDA

2 a

Boa reflexão  Muito desafiadora e reflexiva

Pedro Alves

Gerente de negócios | Saneze Building

2 a

   No primeiro caso o cara estabelece limites muito baixos então ele o alcança e fica satisfeito com por ter atingido seu limite o que na prática esse nível tá muito aquem da média geral.      No segundo Caso, o cara é muito inteligente porém o cara não tem noção do contexto geral né então ele não sabe se situar né assim na vida geral.      

Muito bacana Cyro, faz todo sentido, estamos aprendendo sempre, e, são muitas as oportunidades de melhorarmos como pessoa, profissional e para a vida, uma boa reflexão, tai uma boa dica para auto avaliação, obrigado por compartilhar. Abraços

Michael Mayer

Técnico Eng. Clínica / Calibração / Metrologia / Qualidade / Inglês Fluente / Auditor SGI.

2 a

Mestre Cyro Barretto trazendo um bom material para leitura e reflexão, como de costume. O assunto abordado me fez lembrar e cito o poeta que escreveu: "O tolo que persiste em sua tolice se tornará sábio." William Blake (1757-1827) Se não sabe onde está errando, persista!

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