Eleições Mexicanas 2024
Dia 2 de Junho de 2024, próximo domingo, ocorrerá uma das eleições mais esperadas do continente americano. A disputa eleitoral do México parece estar completamente decidida e, pela primeira vez na história, o país deve ter uma presidente mulher. Claudia Sheinbaum (56% das intenções de voto), representante do MORENA, partido de esquerda do atual presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), tem grande vantagem sobre a principal opositora, Xochitl Galvez (32% das intenções de voto), empresária indígena, apoiada pela coligação dos partidos tradicionais PRI, PAN e PRD.
A candidata do MORENA se destaca pelo apoio do atual presidente, que tem um dos maiores índices de aprovação das Américas, passando dos 65%. Este nível alto de aprovação é um “corpo estranho” entre os presidentes latino-americanos e até no mundo. Em média, os índices de aprovação têm sido muito mais baixos e caem com o tempo após as eleições presidenciais. Porém, AMLO conseguiu manter índices altíssimos, mesmo após os 6 anos de mandato (sem reeleição, como instituído no México). Mas como ele conseguiu tal índice e, mais importante, como ele mantém esses índices e quais as consequências para o país?
A alta popularidade de AMLO é mantida por um alto índice de crescimento q o presidente conseguiu manter no seu mandato e garantido pela adoção de políticas sociais de transferência de renda iniciadas em governos anteriores, mas ampliadas e disseminadas nos últimos anos. Um exemplo dos bons resultados é que o peso mexicano é a moeda que mais se valorizou frente ao dólar americano desde 2019. Mesmo durante a pandemia, quando, em momentos, o presidente fez campanha contra lockdowns e foi considerado um extremista antivacina, o país teve um resultado relativamente bom em seu crescimento, apesar de a crise sanitária da Covid-19 ter afetado os índices de saúde tanto quanto em outros lugares de renda média do mundo.
O MORENA também tem amplo favoritismo nas eleições para o congresso. Esse fator é de extrema importância para os acontecimentos futuros no país, visto que o Partido e a candidata Claudia Sheinbaum já fizeram menções a mudanças na constituição no que diz respeito a organização do Estado. Essas mudanças, em parte, têm um contexto social, com criação de mudanças institucionais sobre propriedade de casas de baixa renda e linhas de crédito para financiamentos. Por outro lado, são muito criticadas por setores da oposição, que argumentam que o MORENA tem a intensão de criar instituições que perpetuem o Partido no poder.
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Os movimentos do MORENA e a popularidade fora do padrão de AMLO trazem um lado sombrio para os possíveis desenvolvimentos das eleições mexicanas. O governo atual faz uso constante dos meios públicos de televisão e publicidade para autopromoção e desvalorização da oposição, o que é muito malvisto por analistas. Isso se soma ao uso constante do discurso “nós contra eles” característico dos populismos vistos ao longo de anos na américa latina. AMLO é considerado por analistas um populista latino-americano clássico. Usa a expressão nacionalista e o discurso “nós do povo contra eles do capital” como seu grande discurso e mantém programas de distribuição de renda implementados em outras gestões para angariar seguidores, assim como usa propaganda política desses programas e a ameaça de sua extinção para pôr medo em seus usuários. Táticas clássicas em toda a América Latina e que tem funcionado no México.
Assim, a grande popularidade e o uso do conglomerado de mídia estatal de forma populista deram a AMLO a oportunidade de apontar a sua sucessora, fato que nunca ocorreu neste século e tem precedentes problemáticos na cultura mexicana. A prática relembra o mesmo mecanismo de apontamento utilizados por 70 anos pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), desde a década de 20 (com outro nome) até o ano 2000, quando o partido foi destituído da presidência e se iniciou um novo momento da política mexicana. Durante este tampo, o PRI era o partido dominante no México e, chamado de “a ditadura perfeita”, descartava seus oponentes dominando completamente o aparato estatal e de mídia.
Sendo assim, um desavisado poderia pensar que as eleições mexicanas deste ano seriam “simples”, que seu resultado é claro e uma continuação do governo atual. Logo, não teríamos muito a que avaliar para os próximos anos que não uma continuação do governo MORENA de AMLO. Todavia, com todas as características institucionais envolvidas, desde um passado complexo de dominância partidária que pode se repetir, até a montagem de um sistema político que controla a mídia, o estado e as possíveis mudanças institucionais da nação daqui para a frente, mostram que a Eleição de Claudia Sheinbaum deve ser observada de perto pelos analistas. É necessário estar atento aos próximos passos do MORENA e no governo de sua próxima liderança.