Eleições sem comício
Há quatro anos, 498.302 candidatos a prefeito e a vereador disputaram a última eleição municipal. Ainda existia algum espaço para campanhas analógicas. Houve distribuição de santinhos, corpo a corpo em feiras livres e eventos públicos, comícios e um pouco de Internet. A média de idade dos candidatos era de 49 anos e 51% tinham ensino médio ou superior completo.
A disputa de 2020 caminhava para ser diferente a partir do exemplo da eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, mas a pandemia vai acelerar ainda mais a mudança de comportamento dos políticos. A transformação digital, mantra comum do mundo corporativo, irá impactar a estratégia da classe política.
O Brasil realizará uma eleição sem comícios na qual o candidato que melhor dominar as redes sociais e entender os fluxos da opinião pública digital estará em vantagem em relação aos seus concorrentes.
Diferente de 2016, a disputa deste ano deve reunir quase 1 milhão de candidatos em função da impossibilidade de coligações nas chapas proporcionais, como aconteceu nas últimas eleições. Nesse contexto, se cada um interessado em ocupar uma cadeira de vereador ou prefeito publicar apenas um post por dia no Twitter, Facebook e Instagram, os eleitores serão impactados com três milhões de mensagens por dia.
O Brasil tem 150 milhões de eleitores e 141,6 milhões de usuários de Internet, que se distribuem em centenas de milhões de perfis nas principais redes sociais, como Facebook, Twitter, Instagram e Youtube.
Esses são os perfis que acompanham as publicações de políticos nas suas contas dentro do universo digital. Os 513 deputados e 81 senadores, por exemplo, são seguidos por 185,4 milhões de perfis.
Os governadores por 17,5 milhões de perfis e os prefeitos por 10 milhões. Vários desses seguidores se repetem nessas bases, mas esse volume serve de padrão para identificar o desejo da opinião pública digital de acompanhar de perto os movimentos da classe política.
O interesse no Google sobre candidatos dobrou no Brasil nos últimos 90 dias. Hoje, o tema já é mais procurado que Congresso ou impeachment. Nos últimos dias, já houve mais interesse por candidatos do que por STF.
As buscas indicam que as pessoas querem saber cada vez mais quem são os candidatos os pré-candidatos a prefeito e vereador – mesmo faltando ainda dois meses para o registro das candidaturas nos TREs e um mês para o início das convenções partidárias.
Entre as buscas que mais tiveram ascensão nesses três meses está se Datena será candidato (não será), quais são os candidatos em Goiânia, em Curitiba e em São Paulo. A indexação no Google e a presença nas redes sociais, será essencial em meio à pandemia, mesmo com o adiamento das datas do calendário eleitoral.
Ao contrário do que se espera de uma eleição municipal, teremos em 2020 uma campanha desterritorializada – um desafio para quem quer se candidatar a vereador. Com a pandemia, essa virtualização da política altera completamente a realidade, criando novas práticas e novos comportamentos do eleitor, como previa o filósofo Pierre Lévy, embora alguns candidatos tentem simplesmente emular a realidade nas redes.
Eles podem não se dar conta, por exemplo, que os atores do tabuleiro político são outros e que será possível se eleger sem ter qualquer relação com as forças políticas locais tradicionais – grupos políticos bem situados nas redes podem conseguir impulsionar candidaturas em lugares diferentes, tornando essa eleição uma primeira eleição municipal que não se atém aos limites do município – algo que já se viu com o João Doria em 2016 e que pode se espalhar pelo Brasil inteiro em novembro.
Advogado especialista em Recuperação Judicial - Reestruturação de Negócios - Gestão de Passivo. Membro do Colegiado Empresarial para enfrentamento da crise, soerguimento e restruturação de empresas.
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Sócio em SBC Law Advogados
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Chief Marketing Officer | Product MVP Expert | Cyber Security Enthusiast | @ GITEX DUBAI in October
2 aManoel, thanks for sharing!