Elementos de "Risco e Cultura" e a Nova Visão de Segurança

Elementos de "Risco e Cultura" e a Nova Visão de Segurança

Correlação Entre os Elementos de "Risco e Cultura" e a Nova Visão de Segurança de Sidney Dekker e Todd Conklin

Introdução

A segurança organizacional é um tópico de crescente interesse, impulsionado pela busca contínua por ambientes de trabalho mais seguros e eficazes. Neste artigo, buscaremos explorar a correlação entre os elementos apresentados em "Risco e Cultura" e os princípios defendidos por Dekker e Conklin na denominada “Nova Visão” de Segurança. Para isso nos apoiaremos nos livros destes autores (vide bibliografia) os quais abordam a segurança e a cultura organizacional. O objetivo é apontar como essas perspectivas se complementam e onde podem conter possíveis conflitos.

1. A perspectiva de "Risco e Cultura"

Em "Risco e Cultura", Douglas e Wildavsky argumentam que diferentes culturas têm percepções únicas sobre riscos e tomam decisões relacionadas à segurança com base em seus valores, crenças e estruturas culturais. Enfatizam a diversidade cultural e como essa diversidade pode moldar abordagens distintas em relação à segurança nas organizações. A cultura organizacional é vista como um fator essencial que influencia as escolhas e ações de segurança.

2. Os Princípios da Nova Visão de Segurança

A Nova Visão de Segurança, conforme observa-se nas obras de Sidney Dekker e Todd Conklin, é destacada a importância de uma abordagem humanística em relação à segurança. Ambos os autores argumentam que o foco excessivo em normas, regras e punições pode levar a uma cultura de medo e de ocultação de erros. Em vez disso, enfatizam a aprendizagem com os erros, a compreensão dos fatores humanos envolvidos em incidentes e a criação de ambientes em que as pessoas se sintam à vontade para relatar problemas e buscar soluções colaborativas.

3. Correlação Pertinente

A correlação pertinente entre "Risco e Cultura" e a Nova Visão de Segurança pode ser identificada em sua ênfase compartilhada no entendimento dos fatores humanos na segurança. Enquanto Douglas e Wildavsky focam na influência cultural sobre as percepções de risco, Dekker e Conklin abordam as interações humanas e as causas subjacentes dos incidentes de segurança. Ambas as perspectivas reconhecem que as pessoas desempenham um papel crucial na segurança organizacional e que a compreensão dos fatores humanos é fundamental para melhorar a segurança.

Ambas as abordagens enfatizam também a importância de aprender com os erros e incidentes de segurança. Ao passo em que Douglas e Wildavsky reconhecem que as culturas organizacionais aprendem e evoluem com base em suas experiências com risco, Dekker e Conklin incentivam uma cultura que busque valorizar a aprendizagem contínua com base nas lições extraídas de incidentes de segurança.

4. Possíveis Conflitos

Apesar da pertinência correlativa entre as duas perspectivas, podem surgir possíveis conflitos entre a abordagem cultural de "Risco e Cultura" e a ênfase humanística da Nova Visão de Segurança. À medida que Douglas e Wildavsky consideram a influência da cultura organizacional como um fator primordial nas decisões de segurança, a Nova Visão de Segurança pode tender a minimizar essa influência e enfocar mais nas ações individuais e na aprendizagem humana.

Ademais, a Nova Visão de Segurança pode, por vezes, ser interpretada como uma abordagem excessivamente não punitiva

De fato, diferentes culturas organizacionais podem influenciar a forma como os fatores humanos são considerados, como os erros são abordados e como as pessoas se sentem à vontade para relatar problemas e buscar soluções sem medo de punição.  A ênfase na aprendizagem com os erros e na ausência de culpa pode gerar preocupações sobre a responsabilização dos envolvidos em incidentes de segurança, o que pode ser um ponto de conflito com abordagens mais tradicionais e normativas de segurança.

 5. Pontos de Alavancagem entre os elementos

 Para alavancar uma cultura de segurança de forma mais assertiva, é necessário adotar uma abordagem equilibrada, que leve em conta tanto as premissas de Dekker e Conklin quanto as de Douglas e Wildavsky. Algumas diretrizes podem ser consideradas:

Compreender a cultura organizacional: Antes de implementar qualquer mudança na cultura de segurança, é fundamental entender a cultura atual da organização. Isso envolve reconhecer os valores, crenças e práticas existentes em relação à segurança.

Respeitar a diversidade cultural: Cada organização possui sua própria cultura, e abordagens padronizadas nem sempre são eficazes. É importante adaptar as estratégias de melhoria da cultura de segurança às particularidades culturais da organização.

Incentivar uma abordagem não punitiva: Promover uma cultura em que os erros sejam vistos como oportunidades de aprendizado, em vez de motivo para punição, é essencial para encorajar as pessoas a relatarem problemas e buscar soluções.

Fomentar a aprendizagem e a colaboração: Estimular a troca de conhecimentos e experiências entre os membros da organização pode fortalecer a cultura de segurança. Isso pode ser feito por meio de treinamentos, workshops, grupos de discussão e outras iniciativas que incentivem a colaboração.

Liderança comprometida: Os líderes desempenham um papel crucial na promoção de uma cultura de segurança. Eles devem estar comprometidos em apoiar e promover a segurança em todos os níveis da organização, demonstrando com suas ações a importância dessa cultura.

Implementar sistemas de aprendizado: É importante criar sistemas que permitam aprender com incidentes, erros e falhas. Isso pode incluir investigações aprofundadas de incidentes, análise de causas raiz e implementação de melhorias para evitar a repetição de problemas.

Comunicação eficaz: Garantir que as informações sobre segurança sejam comunicadas de forma clara, acessível e frequente é essencial para que todos os membros da organização estejam cientes de suas responsabilidades e das medidas de segurança estabelecidas.

Monitoramento e feedback: Acompanhar o progresso das iniciativas de melhoria da cultura de segurança e fornecer feedback contínuo ajudará a identificar áreas de sucesso e oportunidades de aprimoramento.

Portanto, para alcançar uma cultura de segurança de maneira assertiva, faz-se necessário encontrar o equilíbrio entre as abordagens de Dekker e Conklin, que enfatizam os fatores humanos e o aprendizado com erros, e as premissas de Douglas e Wildavsky, que enfocam a influência da cultura organizacional. Adaptar as estratégias às características culturais específicas de cada organização é fundamental para o almejado sucesso na melhoria da cultura de segurança.

Conclusão

Em suma, as premissas verificadas em "Risco e Cultura" e a Nova Visão de Segurança, proporcionam perspectivas complementares que compartilham um enfoque na importância dos fatores humanos e da aprendizagem para a segurança organizacional. Ambas reconhecem que a cultura e o comportamento humano são elementos críticos na busca por ambientes de trabalho mais seguros. Apesar de possíveis conflitos relacionados à influência da cultura organizacional e à responsabilização, a combinação dessas perspectivas pode fornecer uma visão mais abrangente e holística da segurança nas organizações, permitindo uma abordagem mais humana e efetiva para melhorar a Cultura de Segurança e alcançar um ambiente de trabalho seguro e resiliente.

Bibliografia

  1. "Risco e Cultura":

  • Título: Risco e Cultura: um ensaio sobre a seleção de perigos pelo sistema de categorias de perigo
  • Autores: Mary Douglas e Aaron Wildavsky
  • Editora: Edusp (Editora da Universidade de São Paulo)
  • Ano: 1991
  • Descrição: O livro explora como diferentes culturas percebem e lidam com o risco. Oferece insights sobre como a cultura influencia as abordagens de segurança.

2. "O Guia de Campo para Investigação de Erros Humanos" de Sidney Dekker

3. “Desempenho Humano e Organizacional (HOP)” de Dr. Todd Conklin.

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