ELES NÃO SABEM QUE O SONHO É UMA CONSTANTE DA VIDA...

ELES NÃO SABEM QUE O SONHO É UMA CONSTANTE DA VIDA...


Com o início de um novo ano, é quase inevitável que cada um de nós pause para refletir. Fazemos desejos, traçamos objetivos e, muitas vezes, permitimos que a mente vagueie por sonhos e aspirações.

Sonhamos com uma vida melhor. Não só para nós, mas também para aqueles que nos rodeiam, e, de forma mais ampla, para a sociedade em que estamos inseridos.

Há algo profundamente humano nesta vontade de querer mais, de acreditar num futuro melhor.

Mas, em momentos de introspeção, surge a pergunta: até onde podemos sonhar?

Existe uma fronteira que separa o sonho possível da utopia inalcançável?

É legítimo sonhar para além do que parece possível?

Ou estaremos, por vezes, a iludir-nos com cenários que nunca passarão disso – meras ilusões?

Este tipo de reflexão não é apenas filosófico, mas também profundamente prático.

Os sonhos são o motor do progresso.

É por sonharmos mais alto que mudamos o mundo, mas é também por sonharmos de forma irresponsável que, às vezes, nos perdemos.

Há que saber distinguir entre ambição realista e utopia.

Porque o sonho, quando desmedido, pode transformar-se em desilusão.

Na vida comum, ser utopista pode até ser encarado como uma qualidade. Há quem admire quem sonha grande, quem ousa ir além do que parece ser o limite.

Mas na política, a utopia tem outro peso.

Aqui, as promessas vazias ou os sonhos irrealizáveis podem ter consequências graves.

Não são apenas sonhos, são compromissos assumidos com milhões de pessoas.

Quando um político apresenta uma ideia utópica como sendo exequível, corre o risco de cair na demagogia.

Prometer aquilo que não pode ser entregue não é apenas uma falha ética; é um engano que mina a confiança no sistema político.

A curto prazo, pode conquistar votos ou gerar entusiasmo, mas, a longo prazo, este tipo de comportamento conduz à descrença generalizada.

E esta descrença é perigosa.

Quando a população perde a fé na política, não é apenas a classe política que sofre com o descrédito. É o próprio Estado, enquanto estrutura, que começa a vacilar. O pacto social entre os cidadãos e o Estado – essa relação de confiança que nos permite viver em democracia – enfraquece. Sem essa base, torna-se difícil sustentar o Estado de Direito Democrático.

Se pararmos para pensar, percebemos que o equilíbrio entre o sonho e a realidade não é apenas importante na política. É essencial em todos os aspetos da nossa vida. Precisamos de sonhar para encontrar propósito, para inovar, para criar. Mas também precisamos de manter os pés assentes no chão, para que esses sonhos tenham uma hipótese de se concretizar.

Voltando à política, a questão não é eliminar os sonhos ou evitar grandes visões para o futuro.

Pelo contrário, precisamos de líderes com visão, que inspirem.

Mas a visão deve ser acompanhada por um plano claro, por uma estratégia realista, por objetivos que possam ser cumpridos.

Caso contrário, o sonho deixa de ser inspiração e transforma-se em ilusão.

É verdade que a fronteira entre o sonho e a utopia nem sempre é clara. Muitos avanços que hoje damos como garantidos começaram como ideias que pareciam impossíveis.

Pensemos na conquista do espaço, no fim de regimes autoritários ou em avanços científicos que salvaram milhões de vidas.

Em muitos casos, o que parecia utópico tornou-se realidade.

Mas há uma diferença fundamental: quem conseguiu transformar esses sonhos em realidade não se limitou a sonhar.

Trabalhou, planeou, comprometeu-se. Não prometeu o impossível; antes, encontrou formas de tornar o impossível em algo tangível.

É esta responsabilidade que devemos exigir de quem nos lidera.

Não é errado sonhar grande.

O problema surge quando os sonhos são usados como isco para enganar.

Quando se transformam em palavras vazias, sem compromisso, sem substância.

Enquanto cidadãos, também temos o dever de questionar.

É fácil deixar-nos encantar por palavras bonitas, por promessas que parecem resolver tudo.

Mas a democracia exige mais de nós.

Exige que pensemos de forma crítica, que perguntemos: "Como será isto possível? Que recursos temos? Que consequências podem surgir?"

Sonhar faz parte de ser humano. É pelo sonho que evoluímos, que crescemos, que mudamos.

Mas é pela razão e pela ação que concretizamos.

Entre a ambição e a utopia, o equilíbrio é essencial.

No final, o desafio não é parar de sonhar, mas sim aprender a sonhar com responsabilidade.

Se quisermos um futuro melhor, seja nas nossas vidas pessoais ou na sociedade, precisamos de mais do que desejos. Precisamos de planos, de compromisso e de uma dose saudável de realismo.

E talvez, ao começarmos este novo ano, a pergunta a fazer não seja apenas "o que desejo?", mas também "o que posso fazer para tornar este desejo realidade?"

Bom ano para todos!

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www.realpolitik.org.uk

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Gil Teixeira

Legal advisor in international tax law

1 sem

Os gatos fartam-se de dormir e provavelente sonham com gordos carapaus a saltar das bancadas de peixe caindo-lhes na boca. Acordam com a barriga vazia porque o sonho só é possível pescando. Palavra de pescador...

Fernando ABRANTES

Economista | MBA | Decision making | Getting things done

1 sem

Deixem os jovens sonhar❗️❗️ Analisem a sua produtividade e remunerem-nos de acordo. Não queremos ser escravos das empresas que se apropriam do “excedente do colaborador”

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