Eliminar as pequenas certezas
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Por incrível que pareça, as empresas devem estar cada vez mais preparadas para os erros, pois somente quem faz pode errar, e essa realidade cabe bem nas organizações atuais
Rogério Tobias
Publicação: 15/04/2018 04:00
Tenho analisado pessoalmente e presencialmente um conjunto de empresas de varejo e prestadoras de serviços. Percebo que existe em boa parte delas algumas crenças e perspectivas que as mantém em caminhos pouco indicados para quem quer se manter no mercado, ou crescer e ganhar espaço na mente cada vez mais seletiva dos consumidores. A fixação no que elas já representaram no passado, por exemplo, tem servido de pretexto para que seus executivos não assumam ou reconheçam a necessidade de atualizações ou inovações em seu formato de relacionamento com o mercado.
Em conversa recente com um empresário pude perceber claramente que para cada tema abordado na conversa sobre a situação da sua empresa ele tinha uma justificativa para manter a empresa como está. Apesar de saber que os resultados eram preocupantes e o caminho denotava decrepitude, ele se escora em “minicertezas”, que lhe dão alento e o levam a seguir sempre pela mesma estrada na gestão da sua organização. Meias verdades em marketing não podem servir como base para a tomada de decisão e muito menos para a definição do que será a empresa no futuro.
Alguns conceitos, ideias, ou até mesmo verdades do marketing que já foram fundamentais no passado, em grande parte já não têm a mesma força. Eles devem até ser evitados no momento atual das organizações, por terem sido superados pelas mudanças e evolução do mercado que transmuda invariavelmente em função do comportamento flutuante dos consumidores, pela tecnologia, inovação e pelas ações de empresas que atuam na arena competitiva.
A zona de conforto em marketing é mortal para as empresas que nela se encalham. Mudanças devem ser parte integrante nas organizações e isso começa pela mentalidade de seus gestores, que precisam desenvolver um olhar clínico, uma postura autoquestionadora e a prática de ações que se baseiem nas novas exigências do mercado.
Muitas empresas acreditam que só o preço mais baixo é o que faz a diferença, outras partem do pressuposto de que os clientes não gostam de ser incomodados em suas compras e assim os abandonam nos pontos de vendas, algumas deixam o processo fundamental de relacionamento para um telemarketing terceirizado, outras não dão a devida atenção ao pós-venda, partindo do pressuposto de que os seus produtos são bons o bastante para que as pessoas reclamem ou se sintam prejudicadas, numa postura muito próxima da arrogância. Esses são alguns erros sinistros.
Desculpas de que não podem investir em inovações por mais simples que sejam, ou a justificativa de que os custos são altos; que o mercado está parado; a concorrência é muito grande; os impostos altos ou os custos de estoque incabíveis, por exemplo, fazem parte de um tipo de enganosas confianças que só levam à mediocridade, ao não desenvolvimento e, por fim, à extinção.
A realidade atual está a exigir dos empresários a convivência inteligente com a insegurança, com as transformações do mercado em todos os segmentos, com a necessidade de adoção de novas posturas e formas de atuações. É fundamental ampliar a capacidade de dar respostas rápidas ao mercado e, para tanto, é questão sine qua non entendê-lo, adaptar-se a ele e até se adiantar aos seus movimentos, com táticas e ações operacionais eficazes.
Por incrível que pareça, as empresas devem estar cada vez mais preparadas para os erros, pois somente quem faz pode errar, e essa realidade cabe bem nas organizações atuais. É fundamental que elas estejam organizadas, com a mentalidade e competência no nível ideal para perpetrar as devidas adequações exigidas pelo mercado. A logística de distribuição, o estoque, o merchandising, a forma de atendimento pelos vendedores, o formato de cobrança, a configuração do pós-vendas, os meios e formatos de comunicação e as promoções devem receber especial atenção, pois a cada momento se tornam ainda mais decisivos na busca de resultados superiores. Além de tudo, as organizações necessitam monitorar os concorrentes o tempo todo, nunca deixando que esses as superem em suas ações de marketing.
Recomendo que as empresas se aproximem cada vez mais dos seus clientes, mantenham uma parceria de alto nível com os seus fornecedores e outros players, façam continuamente updates em seus sistemas de funcionamento e banquem persistentes planos de capacitação e treinamentos para todos os membros das equipes. Melhorar o desempenho junto ao mercado deve ser o objetivo estratégico de toda organização. Não se consegue o aperfeiçoamento organizacional sem mudanças constantes e por várias vezes intensas.