HUMANOS DESCARTÁVEIS: Incertezas, solidão e descaso

HUMANOS DESCARTÁVEIS: Incertezas, solidão e descaso

Como poderemos continuar a ser relevantes em um mundo de robôs e algoritmos ligados em rede?

Em 2019 a pessoa comum sente-se cada vez mais irrelevante com as novidades tecnológicas – blockchain, engenharia genética, inteligência artificial, aprendizado de máquina - onde, para a imensa maioria, essas palavras não fazem parte do seu vocabulário.

A verdade é que ninguém compreende exatamente o que está acontecendo e como as grandes questões econômicas, em particular as de trabalho e renda, irão ser resolvidas.

O que já acena como certo é que os desafios domésticos farão das relações internacionais problemas acessórios, sendo nítida a falta de prioridade na agenda política dos governantes mundiais para lidar com a obsolescência laboral disruptiva que acontecerá em massa no momento em que as novas tecnologias saírem da sua fase de adaptação e passarem a operar plenamente. 

Até agora a energia dispensada para o tema foi unicamente para promover mais inovação na busca de um lugar de destaque na corrida tecnológica. E isto mundialmente falando.

Além disto, se de um lado os governantes estão ignorando os efeitos da transformação digital dos negócios sobre a capacidade adaptativa dos trabalhadores, de outro lado a sociedade passa por um enfraquecimento do sentimento de coletividade, com uma ênfase cada vez maior para os interesses individuais (Durheim, 2002).

Agora a individualidade é uma fatalidade e não uma escolha. Neste cenário o cuidado com a carreira se converte cada vez mais em uma responsabilidade individual.

Na Era da modernidade liquida, onde a individualidade é uma imposição social, e a culpa e a responsabilidade de não estar seguro das suas perspectivas de carreira e agonias sobre o futuro é imputada exclusivamente aos indivíduos. (Bauman, 2000).

Até onde podemos alcançar esta individualidade sem limites, indo para a fronteira da irresponsabilidade e da debilidade humana, está refletido nas previsões do professor israelense de história Yuval Noah Harari, que sugeriu em seu livro 21 Lições para o Século 21 (2018) que, “talvez no século XXI as revoltas populares sejam dirigidas não contra uma elite econômica que explora pessoas, mas contra a elite econômica que já não precisa delas”, sugerindo que a parte obsoleta da classe trabalhadora além dispensável, por não possuir adaptabilidade, não terá muito o que fazer, já que sua revolta encontrará pouco eco em uma sociedade que é individualista e que não precisa mais dos seus serviços.


Este texto tem todos os elementos de uma ficção, mas infelizmente não é.


Referências bibliográficas:

BAUMAN, Zygmunt. Modernidad líquida. Fondo de cultura económica, 2015.

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Editora Companhia das Letras, 2018.



 

 

 

 

 

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