Em um ponto qualquer da cidade: diálogos pouco pertinentes ...
Outro dia, em um ponto qualquer da cidade, fui "testemunha" de diálogos que classificaria pouco pertinentes, aliás a expressão correta seria totalmente impertinente !
Me senti triste e desanimado pois perceber como é dura a realidade para a maioria dos brasileiros e, no outro extremo, a dos "impertinentes", como campeia livre a saga dos que tiram vantagem da pujança e da riqueza de nosso país, "entregue às traças" (aqui uso a metáfora e desculpo antecipadamente as verdadeiras traças), pois as que me refiro são "seres humanos" despidos de quaisquer valores morais e éticos.
As frases, entrecortadas por signos que denotavam o lucro despudorado de uns poucos, enquanto um contingente enorme de brasileiros e brasileiras (em torno de 14 milhões), buscam em desespero um novo emprego que garantam a sobrevivência de seus entes queridos.
Me pergunto, na maior parte das vezes, porque isso sempre me acontece: uma vez depois de comprar um ticket em "fast-food da moda" um lanche para um adolescente que pedia por estar com fome (muitos anos atrás), incrédulo tive que me indispor com um "vigilante" que tentava afastar o jovem que pedia o seu lanche com o seu pedido pago por mim. Tentei explicar ao "atendente" que ele tinha seu lanche pago e ia ser servido como os demais que esperavam e que era sua função atender o menino. Ato contínuo fui "aconselhado a levar o menino para casa assim que terminasse o lanche", para ouvir minha resposta de que a existência de jovens famintos como aquele se devia em parte à invisibilidade dos imbecis despreparados para enxergar "determinantes sociais da miséria". Adverti ao mesmo que ele não o servisse o obrigaria chamando a polícia para garantir que o fizesse. Fez entre dentes e se calou olhando com descaso para o menino que tinha a mesma origem: era mais um brasileirinho com fome pedindo ajuda diante de olhos invisíveis.
Hoje com a fome de volta e uma fila interminável de desempregados, me encontro em "um ponto da cidade" onde diálogos impertinentes revelam os "intestinos da nação". Duas pessoas conversavam em voz alta, sem qualquer pudor em ambiente público sobre um tema que têm se tornado "moeda corrente" entre os habitantes da "terra brasilis": como é fácil extrair "fortunas" das entranhas de nosso país, na maioria das vezes de maneira ilegal, ou como o caso, "até que as autoridades descobrissem".
Desconfortável, desviava o olhar, mas meus ouvidos captavam "o que já sabemos de cor e salteado": hoje já não necessários os "santos do pau oco" para escoar as riquezas de nosso país. Garimpos e mais garimpos que sempre existiram matas à dentro, encontram hoje um perfeito cenário que mais parece um "filme de aventura", mas que na realidade é um verdadeiro "filme de terror que nos assombra".
Enquanto brasileiros e brasileiras à margem morrem de fome e buscam emprego, outros tiram desta mesma terra a riqueza de todos nós e a entrega à "supostos" beneficiários que não mais precisam do "pau-brasil oco" para exportar seu "butim". Que vergonha ter recolhido "frases soltas" que devem ser o retrato mais veemente da "saga atual" vivida em pleno terceiro milênio: "poucos têm tudo, milhares têm nada". Hoje a expressão "santo de pau-oco" saiu de moda! Hoje fazem tudo na "maior cara-de-pau Brasil" !
Estou triste e paro por aqui. Continuo me perguntando "até quando esperar?", como dizia a música de uma banda famosa contemporânea do Legião Urbana.
Annibal C. de Amorim, em um ponto qualquer da cidade, triste e desanimado com "impertinências de discursos alheios", RJ, 23/09/17
Diretora na Tec Legis
7 aPertinente o texto e muito real... artigo verdade !