Empoderamento do consumidor, será mesmo?
Empoderar significa dar ou conceder poder a si ou a outrem. A partir da perspectiva do negócio, empoderar significa oferecer ao consumidor o que ele deseja, com acessibilidade, praticidade e produtos e serviços cada vez mais customizados. Para o Marketing, empoderar significa oferecer canais, opções e ferramentas para estimular o consumidor à tomar sua decisão de compra, oferecendo oportunidades de vivenciar boas experiências de compras.
Empoderar também pode significar oferecer ao consumidor informações e soluções mais eficientes, éticas e econômicas, para que ele possa decidir sobre que produtos/marcas e serviços melhor satisfazem suas necessidades e desejos, oferecendo assim uma melhor relação custo-benefício. Nesse sentido, muitos especialistas dizem que as mídias digitais, com uma velocidade extraordinária, oferecem através de fácil acesso às informações em geral e compartilhamento das boas e más experiências de compra, um caminho para uma relação mais ativa do consumidor no mercado.
Essas mídias disponibilizam ambientes onde o consumidor pode expressar sua opinião (poder de opinião), criando certa sensação de empoderamento. Muitas empresas alegam que “ouvem” seus clientes e como resultado, disponibilizam uma grande variedade de produtos para atender os mais diferentes gostos dos consumidores. Embora seja verdade que são inúmeras as opções de produtos/marcas no mercado e uma enorme quantidade de informações na internet disponíveis para o consumidor, ainda existe uma razoável dúvida sobre se essas mesmas mídias podem exercer algum outro tipo de influência, como a de fazer com que as indústrias e varejo possam adequar suas políticas de preços, por exemplo, em prol de uma relação mais justa e ética com o “bolso” de seus clientes.
Essa relação desigual (empresas X consumidores) pode ser demonstrada, quando um consumidor se encontra no supermercado em frente a uma prateleira e precisa levar pra casa uma caixa de sabão em pó. O problema é que sua marca favorita está com um preço que não se adéqua ao seu orçamento. Então, o que fazer? Esse tipo de decisão de compra acontece no ponto de venda sem nenhum aporte de informações que o ajude, “in real time”, a tomar a melhor decisão e fazer a melhor escolha entre as marcas disponíveis. As decisões de compra, dependendo do tipo de produto, como por exemplo, produtos de consumo doméstico de compra recorrente, são tomadas no ponto de venda e na sua maioria, são impulsionadas por percepções empíricas e intuição, e menos por racionalidade.
Nem sempre as escolhas de consumo movidas pelo empirismo e intuição, acabam se transformando em boas experiencias e refletem as melhores escolhas de produtos/marcas. Escolhas baseadas em percepções empíricas e intuições podem levar a experiências decepcionantes na relação custo-benefício.
Sendo o Brasil um país de população com renda média baixa, as famílias dispõem de recursos financeiros limitados para fazer frente suas despesas de consumo doméstico. Assim, o consumidor brasileiro tem que buscar otimizar ao máximo seus recursos financeiros($) de forma a atender todas as suas necessidades e desejos, onde a relação qualidade e preços é fundamental.
Quantas vezes saímos do supermercado com a sensação de que estamos levando menos itens do que da última vez? Isso nos leva a outra sensação: a de empobrecimento. Por que isso acontece?
Em linhas gerais, o que acontece é um “descasamento” entre os índices oficiais de inflação e o real poder de compra dos salários. O governo divulga que a inflação está baixa e preços sob controle. O IPCA (índice de preços ao consumidor amplo), índice oficial de inflação divulgado pelo governo, fechou 2018 em 3,75% (bem abaixo da meta de 4,5%), mas o fato real é que no bolso do consumidor, esse impacto foi bem maior.
Mas o que o consumidor pode fazer para manter o poder de compra de seu salário? Uma das estratégias é o trade down, estratégia de substituir marcas mais caras por outras mais baratas. Existe uma vantagem direta no trade down, que é levar o produto que precisa, só que de outra marca e por um preço mais acessível. Por outro lado, essa estratégia pode levá-lo a comprar produtos com qualidade inferior aos que eram consumidos anteriormente. Outras estratégias podem ser: promoções, descontos e embalagens com conteúdos menores.
Seja qual for a estratégia adotada pelo consumidor para manter seu poder de compra, fica sempre um sentimento de decepção, sensação de empobrecimento e impotência frente aos reajustes de preços praticados pela indústria e varejo. Então, já que o consumidor parece ter pouco poder para influenciar as políticas de preços desses players, de forma que todos possam ter ganhos justos, uma alternativa seria uma ferramenta que pudesse ajudá-lo a fazer a melhor escolha de compra no ponto de venda. Nesse cenário, acompanhamento dos preços e uma boa memória podem ser fatores primordiais para isso.