Empreender é se jogar, mas com os olhos abertos!

Empreender é se jogar, mas com os olhos abertos!

“Não vou fazer a consultoria contigo porque você não elogiou minha atitude empreendedora”.

André, que eu havia aconselhado informalmente no ano passado sobre a compra de um restaurante aqui em Florianópolis, procurou-me novamente a uns dois meses atrás porque estava com uma nova ideia de negócio.

Coloquei-me prontamente à disposição até porque, de tudo o que faço na consultoria, uma das coisas que mais me satisfaz é orientar empreendedores de primeira viagem! Curto compreender o que os motiva a encarar o desafio de ser o dono do próprio negócio e ajuda-los a organizar o turbilhão de ideias que eles têm na cabeça. Como eu digo, ajudo-os a passar do “sonhamento” para o planejamento.

Mas o André não queria exatamente discutir e validar sua ideia de negócio. Na verdade, ele já estava decidido a abrir uma loja física de toalhas de banho importadas da Europa em um bairro aqui da cidade. Ele só queria auxílio para calcular o preço de venda das mercadorias.

Falei a ele que poderíamos ajudar com o cálculo que, de certa forma, é simples de se fazer desde que se tenha as informações necessárias em mãos. Como as toalhas seriam importadas da Europa, André já tinha recebido do fornecedor uma tabela com os valores. Então, na concepção dele, seria apenas jogar numa planilha, adicionar os custos com importação, impostos, o lucro que ele queria ter e … shazam! Tabela de preços pronta e loja aberta.

Foi nesse ponto que eu comecei a fazer algumas perguntas e colocações que considero pertinentes para quem quer empreender:

– Você já fez o plano de negócios?

– Você sabe que fazer o preço de venda é somente a pontinha do iceberg? Você pesquisou alguns concorrentes para saber o preço deles? Sabe o que o cliente está disposto a pagar pelo produto? E será que esse preço vai gerar uma margem interessante para a sua loja?

– Como você decidiu pela loja física no bairro? Será que não seria melhor abrir no centro da cidade ou num shopping, afinal, o produto é de alto valor agregado. E loja virtual, você pensou nessa possibilidade?

– Quanto dinheiro você terá que investir pra deixar a loja pronta pra funcionar? E quanto capital de giro será necessário até ela começar a se pagar?

– André, acho muito arriscado você investir em um negócio sem fazer um plano primeiro. Tem que fazer a conta para medir e reduzir os riscos. Ainda mais com o euro a R$ 6,60! Será que importar agora é uma boa ideia?

O André, pelo que pude perceber, não é de falar muito. Mas, visivelmente, ele foi emudecendo depois de tantas perguntas e eu, tentando puxar pela minha sensibilidade, falei: “coloquei muita coisa né, André? Mas eu tenho que te falar isso, afinal, não posso ser leviana a ponto de deixar você arriscar teus recursos sem fazer nenhuma conta. Eu realmente sugiro que você não inicie a importação sem fazer o plano de negócios.”

O final da conversa? A primeira frase desse artigo é o que eu ouvi dele e, infelizmente, perdi a oportunidade de conquistar um novo cliente. Talvez eu não tenha deixado claro que minhas críticas não foram para a sua ideia de negócio, mas, sim, para a forma como ele estava conduzindo o projeto.

Autocrítica

O André deve ter seguido com o seu projeto. Ele deixou claro que faria isso com a ajuda de um profissional que tivesse o perfil mais adequado para atendê-lo. Eu realmente não teria competência suficiente porque não ofereço o que ele busca. Não teríamos convergência e o trabalho não fluiria.

No dia seguinte, ele enviou uma mensagem de texto para mim em que dizia que ele não tinha medo de arriscar e que aprendeu isso com os empreendedores americanos. Afinal, lá o fracasso é visto de forma positiva. E que o meu perfil como mentora era muito acanhado, o que me faria perder muitos clientes.

Esse é o feedback que te faz refletir e ponderar sobre os seus pontos falhos. Mergulhei numa Swot pessoal por algumas horas e confrontei o que eu faço, para quem eu faço e como eu faço. Vou lhe dizer: é muito bom fazer isso de tempos em tempos para validar o foco e ajustar as velas!

Concluí que dificilmente eu conquistarei empreendedores como o André porque a previsibilidade está no cerne do que eu ofereço de valor aos clientes; confirmei que ao definir um alvo, abrimos mão de centenas de outros; ratifiquei que não podemos entregar aquilo que não temos; que tem muita gente se iludindo nas “trilhas de sucesso” dos empreendedores de 1 bilhão de dólares; e que eu deveria segurar a língua e falar de forma mais pausada para não assustar!

E você, quer se jogar no empreendedorismo? Já está mergulhado nele? Pois saiba que você pode fazer isso de olhos abertos. Se isso fizer sentido, é só chamar!

Um abraço e até mais!


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