Empreender para não morrer
Não gosto de empreender.
Mas decidi entrar esse caminho quando percebi que estava adoecendo, trabalhando em esquemas de 44 horas semanais com muitas horas extras onde eu pouco podia exercer minha criatividade e sendo liderada por pessoas despreparadas e infantis. Não foram um, foram vários empregos assim.
"Ah, mas você teve azar, meu emprego é muito bom"
Sim, claro, devem existir empresas maravilhosas, mas no meu mercado eu não tive essa sorte. Nem nenhum dos meus amigos. Na verdade, eu realmente desconheço quem não tem pelo menos uma história horrorosa de trabalho para contar.
Decidi empreender por necessidade e embora as pesquisas apontem como algo positivo o crescimento de negócios liderados por mulheres, nossos negócios são feitos por necessidade de sobrevivência, porque é isso que mulheres fazem desde que o mundo é mundo. Se viram, num mundo cão liderado por homens.
E virou até moda usar isso como discurso de empoderamento: #girlboss, #bctpower, #ladyempire. Tem zilhões de livros, cursos e perfis no instagram exaltando essa "magia" das mulheres fazendo business.
Só que em momento algum somos educadas para ter autonomia e coragem de se jogar num negócio. No entanto, nos vemos diante da urgência de aprender a empreender, porque não cabemos em outros espaços.
Eu realmente não gosto de empreender, gosto de criar! Eu sou criativa e é isso. Eu detesto metas, mindset, growthacking, planilhas, financeiro, banco, imposto de renda, escalar, alta performance e por aí vai.
Nessa horas eu queria um emprego normal com salário certinho no dia 30, férias remuneradas, décimo terceiro e um FGTS para aproveitar um dia.
Aí lembro que eu não caibo mais num emprego normal. Que esse empreendedorismo meio maluco que eu faço me tornou alguém grande demais para as funções que eu desempenhava antes. Apesar de tudo, hoje eu não preciso mais passar por cima dos meus valores inegociáveis para fazer um pequeno grupo de pessoas ganhar cada vez mais dinheiro.
Eu odeio empreender, mas amo a mulher que me tornei desde que comecei. Faço para não morrer e pretendo um dia, aprender a gostar.
Quem sabe até lá, as mulheres estejam de fato dominando o mundo e tudo esteja muito diferente.