Empreender: pochete vs. cores da estação
A década de 1950 foi marcada pelo avanço do processo de industrialização brasileiro. Este desenvolvimento econômico do Brasil foi influenciado pelo governo de Getúlio Vargas que criou um amplo projeto de desenvolvimento de caráter fortemente nacionalista, e priorizada o fortalecimento do capital nacional. Com essa sua política, Getúlio Vargas criou, por exemplo, a Petrobrás e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (que passou a ser o BNDES), e dificultou a entrada de produtos importados.
Na restrição das importações, meu avô, Enrique Gandara, que antes vendida de porta em porta uma escova importada, viu a oportunidade de suprir o mercado consumidor. Era produzir aqui ou sair do ramo. Foi então que seu espírito empreendedor gritou mais alto e, conhecendo o mercado e suas necessidades de acordo com o conhecimento adquirido na venda porta a porta, ele decidiu desenvolver artesanalmente esses produtos, procurando formas de produzi-lo. Com isso, ele fundou a Escovas Fidalga em 1954.
Foram inúmeros desafios superados em todos esses anos, e sabemos que muitos ainda virão. Dentre esses desafios, tivemos problemas internos (como, por exemplo, desentendimentos entre sócios, incêndio, enchente, espionagem industrial) e problemas externos (Plano Blesser, Plano Collor I, Plano Color II, contrabando, não valorização de produtos nacionais, entre outros). Porém, com muita resiliência, sabedoria e paciência, foi possível superá-los.
Fazendo um comparativo com os tempos atuais, observo que a postura que meu avô teve nos anos 50 de empreender, parece se repetir com mais frequência nos últimos anos. Porém, não como uma oportunidade pelo desenvolvimento de um país, mas sim pela necessidade frente a crise e desemprego.
É inquestionável que o Brasil passou por uma crise econômica iniciada em meados de 2014, cujos reflexos no que diz respeito ao desemprego ainda foram percebidos até 2019 (e provavelmente ainda serão em 2020).
Com o desemprego gerado, era preciso procurar soluções para colocar comida na mesa de casa. Uma alternativa encontrada por muitos brasileiros foi empreender, abrindo seus próprios negócios. Para tanto, utilizaram grande parte, senão a totalidade, de suas economias ou da família.
Infelizmente, as pesquisas mostram que é elevado o número de empresas que fracassam nos primeiros anos. Essa realidade é preocupante, ainda mais quando se projeta no sonho do próprio negócio a alternativa para o problema de uma família.
Quando penso na questão de empreender, uso uma comparação que me faz muito sentido: cores da estação vs. pochete. Estranho quando falo isso no primeiro momento, mas vou me explicar melhor.
Eu adoro observar a tendência da moda e acompanhar as cores das estações primavera-verão e outono-inverno. Nessa brincadeira, já me peguei mais de uma vez usando cores que antes nem imaginaria que conseguiria usar, como um amarelo ou rosa fluorescente.
Também acho muito divertido fazer aquela viagem no álbum de fotografia da família e observar que, coisas que minhas avós e mãe usavam, de tempos em tempos voltam a estar na moda.
Essa dinâmica do universo da moda realmente me fascina, inclusive por ter a consciência de que nem tudo visto na passarela fica bem para ser usado no dia a dia.
Confesso que tenho mais facilidade de incluir no meu look uma cor extravagante em determinada estação. Por outro lado, mais de uma vez encontrei tendências que, particularmente, eu achava lindo, porém não tinha coragem de sair na rua, como, por exemplo, é o caso da pochete. Achei no mercado um modelo mais lindo do que o outro, e vejo as mulheres usando de maneiras muito estilosas. Porém, quando experimentei algumas, achei muito estranho e sem coragem de usar....
E sabe de uma coisa? Está tudo certo se não me encaixo no perfil de quem usa pochete. Provavelmente, serei eu mesma com outros tipos de acessórios de moda.
E é pensando nisso que eu costumo dizer: empreender é como a pochete: é preciso ter as competências para tanto, ainda que essas competências sejam desenvolvidas.
Está tudo certo se não tiver as competências para empreender. Porém, se decidir por empreender, se prepare bem para o seu futuro negócio, possibilitando que prospere por muitos e muitos anos!
E você, conte-me: já pensou em empreender e percebeu que não tinha o perfil? Ou, se empreendeu, qual foi seu maior desafio?
Espero que tenha gostado! E espero você no próximo sábado.
Com carinho, Natalia G. Canosa Marcon