EMPREGABILIDADE x TRABALHABILIDADE – Um novo olhar para o mundo do trabalho
Durante muitos anos, falei sobre Empregabilidade para meus alunos, como a principal ferramenta de permanência ou sobrevivência no mercado de trabalho. E claro, sobre todas as competências que envolvem tal capacidade.
Neste último fim de semana, tive contato com um novo termo, apresentado pelo meu Mestre Maurício Sampaio: Trabalhabilidade.
Mais uma palavra nova prá dizer a mesma coisa?
Qual a diferença entre Empregabilidade e Trabalhabilidade?
Vamos começar, situando cada um na linha da história: O termo Empregabilidade surgiu nos anos 90 para explicar como o indivíduo devia se manter atraente para as empresas, considerando o seu valor para o mercado e sempre com foco no emprego formal. Afinal, nesta época era assim que funcionava, lembra? Procurar um trabalho significava apresentar seu currículo para alguma empresa, ou especificando um pouco mais, para qualquer local que pudesse contratá-lo, para desempenhar uma função, de acordo com a sua experiência profissional e sua formação acadêmica.
Já o termo “Trabalhabilidade” surgiu nos anos 2000 para demonstrar que os talentos, experiências e aprendizados dos indivíduos podem ser transformados em oportunidades de negócios. A Trabalhabilidade é a capacidade de se adaptar às novas formas de trabalho e enxergar, de forma criativa, as oportunidades e possibilidades que estão ao seu alcance. Especificando mais: Manter-se atento a todas as oportunidades, sim porque o mundo é uma fonte inesgotável de possibilidades. Aqui, o foco é outro: geração de renda prá você. Pode também, ser para uma empresa, porém em modelos diferentes daqueles conhecidos, até então.
E por que esse novo olhar? Quando tudo mudou?
O mundo tem se tornado um local cada vez mais complexo para se viver. Você não tem a impressão de que antigamente tudo era mais simples, mais devagar e mais tranquilo? Há muito tempo atrás, as pessoas nasciam, iam para escola, cresciam, prestavam um vestibular para um curso escolhido por seus pais (o curso superior da maioria, era mantida pelos pais, então eles tinham o direito de escolher o curso que seus filhos fariam), se formavam, casavam, trabalhavam a vida inteira até se aposentar, se desse tempo, vivia um pouco e depois morriam. The Circle of Life. Tudo muito simples e esperado dentro de um roteiro que foi seguido durante anos, por muitas gerações.
Porém, para nós, habitantes dessa nave, esse modelo não serve mais. O mundo tem se mostrado cada vez mais complexo e segundo Murilo Gun, especialista em criatividade, não estamos atravessando a “Era da Mudança”, mas sim estamos vivendo uma “Mudança de Era”. Essa concepção faz todo sentido: tudo está diferente, em todas as áreas. E isso envolve diretamente o termo "TRABALHO".
Naquela época “longínqua”, o trabalho era tido como algo duro, árduo, difícil, torturante e que impedia o indivíduo de fazer o que gostava pra ser feliz. Ou seja, a palavra Trabalho era dissociada de Felicidade. Muitos, ainda vivem nessa era, e está tudo bem.
Mas no mundo atual, ser feliz no trabalho, é uma necessidade. E quando as pessoas não tem essa necessidade atendida, muitas chegam a adoecer (física e emocionalmente).
Ao conviver com as pessoas da geração milênio ou simplesmente, conversar sobre isso, constata-se rapidamente que o importante para eles, é ser feliz no trabalho, ter qualidade de vida, fazer o que gosta, ter realização e liberdade. E ninguém espera ficar doente para “virar a chave”: simplesmente mudam de cenário, buscam coisas novas, não perdem tempo com mi,mi,mi porque estão sempre prontos para novas oportunidades, desde que atendam às necessidades mencionadas. Tudo isso está intimamente ligado à Trabalhabilidade, uma vez que só tem essa característica, quem busca o desenvolvimento do seu Autoconhecimento, da sua Inteligência Interpessoal, da sua Criatividade, do sua capacidade de se relacionar com as Tecnologias e o seu estado permanente de Aprendiz. E você pode estar me perguntando: Mas eu não sou da geração milênio e agora? Estou fora do jogo? Não sirvo mais, prá nada?
Vou devolver a pergunta: você está disposto a permanecer no jogo? Quanto você está comprometido com isso? Está disposto a fazer tudo que for necessário para continuar? Se a resposta for sim, é importante você saber que precisa mudar. Essa responsabilidade é sua. Ninguém fará por você. E mudar dá trabalho, dói e nos tira da zona de conforto. O jogo agora, é outro. Nada funciona mais, da forma que contaram para você na escola. Em algum momento, por exemplo, a água foi citada como um recurso natural infinito, lembra? E hoje? Quantos são os planetas do sistema solar, mesmo? Até o mapa-múndi é outro.
E diante desse mundo novo, desafio maior, é educar seres humanos para um futuro que não sabemos qual será. Os profissionais da educação repetem a todo instante que os alunos não querem saber de nada, a escola está desmoralizada, a concorrência com a tecnologia é injusta, ninguém gosta de ir para escola e blá, blá, blá. Outro dia, vi num post de uma escola, a forma como as crianças da educação infantil estavam comemorando a chegada da Páscoa. Imaginem o susto que eu levei ao me deparar com fotos das crianças em sala de aula pintando orelhinhas de coelho que vestiram para cantarem “Coelhinho da Páscoa que trazes...” exatamente como eu fazia ao 4 anos de idade no meu “Jardim da Infância”, até o desenho das orelhinhas era o mesmo. Fiquei procurando o mimeógrafo na foto. Socorro!!!! Não adianta fazer tudo igual, há mais de dois séculos e esperar resultados diferentes. Esses alunos pertencem a qual momento da história? Quem é que está no momento errado?
Então, não basta falar sobre as profissões do futuro, qual dará mais dinheiro, cursos a serem feitos, se ninguém sabe o que vai acontecer. O que se sabe, dentro de todas as incertezas, segundo um estudo de Oxford, também mencionado por Murilo Gun, é que 47% das profissões existentes hoje, poderão ser automatizadas nos próximos 20 anos. E com isso, como as pessoas sobreviverão nesse mundo?
A resposta é simples: quem conseguir desenvolver as competências que não poderão ser automatizadas, ou seja, quem conseguir desenvolver suas competências de “ser humano” e a principal delas é a Criatividade, condição sine qua non pra a TRABALHABILIDADE.
Desta forma, em vez de olharmos para as listas contendo as profissões do futuro, a melhor estratégia será investir na formação para o desenvolvimento das competências aqui, mencionadas, para que os indivíduos, independente da idade, enxerguem todas as possibilidades para sua realização e possam ser felizes em qualquer profissão e ocupação que venham a desempenhar ou em qualquer modelo de negócio que possam desenvolver.