Empresa voltada para a autonomia
Educar os filhos sempre foi um grande desafio. Primeiro é preciso pensar o que queremos que nossos filhos sejam, o que para muitos se resume no que queremos que os filhos tenham e não exatamente no que eles sejam. E depois é preciso pensar em como os encaminharemos para chegar lá.
Piaget, falando do desenvolvimento das crianças falou de três fases, a anomia, quando a criança não tem regra nenhuma, a não ser suas necessidades de comer e dormir, típica dos recém-nascidos. Conforme a criança se desenvolve entra na fase da heteronomia, quando há regras, mas elas vem de fora, particularmente de seu principal cuidador. A última fase do desenvolvimento é a autonomia, quando o adolescente ou jovem adulto assume valores como seus, confirmando os valores dos seus pais ou negando-os parcial ou totalmente.
Na educação, tanto em casa como no ensino formal, durante muito tempo, o que dominou foi a heteronomia, pais e escolas diziam quais eram as regras e quase ninguém ousava questiona-las, limitando com isso as iniciativas e criatividade das crianças. As empresas refletiam isso sem nenhum problema ou reação, com normas, processos, controles e avaliações dominando o cenário corporativo.
Como reação natural entramos na fase do "porque não, não é resposta!" e começou uma busca por autonomia em todas as áreas de nossas vidas. Alguns educaram os filhos sem regra nenhuma criando pessoas que não se adaptavam a nenhuma estrutura, tanto nas escolas, nos círculos sociais, como nas empresas. Todo mundo conhece alguém que não se encaixa em nada na vida. Também há Startups que entraram nessa onda e gastaram todo o dinheiro dos investidores de forma irresponsável, com festas, desperdícios e poucos resultados. Mas, fora esses casos extremos, começou a surgir um enfoque menos hierárquico, mais participativo e adaptado à geração de pessoas que buscam realmente sua autonomia pessoal e profissionalmente (o que na verdade é a mesma coisa).
Muitas empresas ainda trabalham com a ideia da heteronomia, ou seja, "manda quem pode, obedece quem tem juízo", sem entender o constante aumento de colaboradores frustrados e inquietos com sua vida profissional. Mais recentemente, está amadurecendo a cultura organizacional voltada para a autonomia. A missão e valores dessas organizações tem que estar nas pessoas e não nos quadros nos corredores. Há um grande esforço dessas empresas em comunicar o quanto antes e da melhor forma possível qual é a sua cultura organizacional. Cada um tem que se cobrar pelos seus resultados e pelo de seus pares. Erros são vistos como oportunidades de crescimento e a pergunta a ser respondida todos os dias é o quanto cada um quer fazer parte dessa comunidade que vive os valores dessa cultura organizacional. Se a resposta for pouco ou nada, certamente você estará no lugar errado.
Como ocorre com muitos pais que enchem os filhos de brinquedos, muitas empresas acham que basta colocar muitos locais de lazer para os funcionários que tudo se resolve, salas coloridas, lanches grátis e mesas de bilhar, só que não é bem assim. Há muito mais para se criar uma cultura organizacional voltada para pessoas autônomas, dar oportunidade para que as pessoas se manifestem dentro da organização, dar espaço para a criatividade e inovação com tempo exclusivo para isto, e muito mais. E um passo fundamental para que esta transformação ocorra é que seus fundadores demonstrem essa cultura pelo exemplo. Ensinar pela vida e, se for preciso, usem a palavra.