A encruzilhada: Decisão de juros no Brasil e no mundo
A última semana evidenciou os diferentes momentos de política monetária no mundo. De um lado, o Brasil elevou sua taxa básica de juros enquanto os Estados Unidos cortaram a sua. Reino Unido, Japão e China optaram pela manutenção das taxas, mas por motivos diferentes. Ao que parece, os movimentos em uníssono, que ocorreram após a pandemia e se intensificaram com a guerra da Rússia e Ucrânia, com inflação e juros andando em sentidos semelhantes, tem dado lugar às particularidades das diferentes economias globais.
O Brasil, que vive um momento de atividade econômica forte, desemprego baixo e fiscal pressionado, optou por uma elevação de 0,25% na taxa Selic, que alcançou 10,75% e reverteu o movimento que se iniciou com o primeiro corte na taxa em agosto de 2023. Pesou pela decisão a elevação marginal na inflação corrente junto com uma desancoragem na expectativa inflacionária futura. Segundo comunicado do Banco Central, "Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante"
Em sentido oposto ao brasileiro, os juros americanos foram cortados em 0,50%, com a taxa atingindo a faixa máxima de 5% e evidenciando um cenário de inflação convergindo para próximo da meta e esfriamento na atividade econômica, embora ainda sem sinais de recessão. O presidente do Fed, Jerome Powell, buscou afastar os temores recessivos, embora o corte de 0,50% tenha superado as expectativas iniciais, de algumas semanas atrás, de um movimento mais suave, de 0,25%. Segundo o presidente do Banco Central americano, a instituição segue focada no seu mandato duplo, de manter a inflação sob controle, mas também focar no nível de emprego elevado, "Estamos comprometidos em manter a economia americana forte", afirmou.
Do lado das economias que mantiveram as taxas de juros estacionadas, os motivos e as projeções foram bem diferentes. O Japão manteve sua taxa básica de juros em 0,25%, após a elevação anterior ter gerado um caos no mercado japonês, com direito a uma queda de mais de 12% na bolsa local. Os dirigentes do Banco do Japão destacaram que o ciclo de elevação pode continuar nos próximos meses, mas depende da estabilização mais completa dos mercados. A China manteve sua taxa de juros inalterada em 3,35%, e surpreendeu o mercado que esperava um corte na taxa, dada a fraqueza na atividade econômica chinesa, em particular com números ruins no setor imobiliário e crescimento inferior ao esperado de 2022 para cá. Já o Reino Unido manteve os juros em 5%, vindo de um corte de 0,25% na reunião anterior. A decisão veio apesar da inflação estar se aproximando da meta e evidencia um comportamento parcimonioso do Banco da Inglaterra. "O Comitê continua a monitorar de perto os riscos de persistência da inflação e decidirá o grau apropriado de restrição monetária a cada reunião", afirmou a autoridade monetária.
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Os próximos meses devem manter algumas tendências de divergência nas decisões de juros ao longo do mundo. Devemos ter Estados Unidos seguindo os cortes nas taxas e Brasil seguindo nas elevações. Do lado europeu esperam-se cortes, tanto no Reino Unido quanto na Zona do Euro (que cortou na semana passada), mas num ritmo lento. Já nas grandes economias asiáticas os estímulos econômicos devem prosseguir na China, incluindo possíveis cortes nos juros e o Japão em algum momento deve retomar seu ciclo de alta. Embora algumas tendências estejam contornadas, a efetividade das decisões e a velocidade dos ciclos, como destacado por muitos bancos centrais pelo mundo, dependerá dos dados de inflação e atividade que virão.
Por Cristian Rafael Pelizza, CGA - Economista-chefe Nippur