Endrick e a precocidade da imprensa esportiva.
Endrick, 15 anos e meio, zero jogos pelo profissional do Palmeiras, brilhou na Copinha e foi eleito o craque da competição além de autor do gol mais bonito.
Há 20 dias, o garoto era, para a grande maioria, um desconhecido. Mais um menino atrás do sonho de ser jogador profissional de futebol. Bastou alguns jogos e holofotes por contados gols e boas atuações na Copinha, maior competição do futebol de base do Brasil, para ser considerado uma nova joia para aqueles que o desconheciam.
Dizem que o garoto é muita bola. Tem centenas de gols na base. É uma grande promessa, nada mais. Pelo que apresentou na Copinha, tem tudo para se tornar jogador profissional. Mas é preciso calma.
Ano passado foi um ano cheio para Medina. Rompeu com o padrasto; mudou sua alimentação (cortou carne vermelha e de frango da sua dieta); teve seu pedido junto ao COB negado e não pôde levar sua namorada às Olimpíadas; resultado super polêmico na semifinal olímpica; ausência da vacina... Não tem jeito, por mais bem preparado mental e emocionalmente que seja, ninguém passa por tantas polêmicas ileso.
E olha que estamos falando de um homem formado, 28 anos, acompanhado dos melhores profissionais e sucumbiu à pressão. É normal. Que ele trate de cuidar da sua saúde para nos dar alegrais e muitos outros títulos mundiais. E que seja feliz vivendo a vida que escolheu viver.
Mas, Danilo, qual a relação entre Gabriel Medina e Endrick?
Como diz o ditado: “expectativa gera frustação”. Ninguém, absolutamente ninguém, se frusta sem que tenha tido alguma expectativa sobre alguma coisa, qualquer coisa que seja.
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No dia 5 de janeiro, na estreia da Copinha, Endrick talvez tivesse apenas uma expectativa: jogar bem a competição, chamar atenção da comissão técnica do Palmeiras para, quem sabe, ao atingir seus 16 anos, poder subir e ter alguma chance de debutar no profissional.
Em 20 dias tudo mudou. A imprensa esportiva começou a cogitar a participação do garoto no Mundial de Clubes. Debates foram travados sobre se Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, deveria ou não levar o menino para a competição.
Imagina um garoto de 15 anos ouvindo isso, ouvindo dos dito especialistas, que tem futebol e deveria participar da delegação que viajará à Abu Dhabi para a disputa da competição de clubes mais importante do mundo.
Não é de se espantar que, por mais que o garoto não tivesse nenhuma esperança em ir, ao ouvir tanta coisa, pudesse nascer uma sementinha de esperança, de expectativa...E aí... bom, aí vem a frustação.
O técnico Abel disse que o jovem atleta deveria passear na Disney, com sua família, por ser muito novo e o que faz a imprensa esportiva? Questiona o menino sobre tal declaração que, muito consciente, responde:
– Eu estou tranquilo, vou torcer muito para nós levarmos este Mundial. Fico tranquilo, penso na base, não penso no profissional para não atrapalhar minha carreira. Se eu subir um dia, vou começar uma nova carreira lá. Fico tranquilo, o Abel está supercerto, vou torcer muito e se Deus quiser vamos levar este título mundial – completou.
Torçamos para que essa pequena frustação gerada por uma expectativa gerada por outras pessoas não atrapalhe o bom futebol do menino. E a imprensa... bom, a imprensa deveria ter um pouco mais de bom senso, deveria pensar um pouco mais nas consequências que seus “debates” e reportagens possam vir a causar.
Que o Medina vire exemplo. Que o caso Medina sirva de referência para que a imprensa e todos as pessoas que se acham no direito de julgar a vida alheia pensem e repensem mil vezes antes de falar do outro. Isso faz mal. Prejudica. E pode até matar.