ENQUANTO A ISO INOVA, OS CERTIFICADORES PERMANECEM NO PASSADO
Por que estaria o instituto ISO a publicar continuamente normas complementares a serem adotadas para dar maior robustez aos sistemas de gestão da qualidade, mormente aqueles concebidos com base nos requisitos da Norma ISO 9001, se elas não são passíveis de cobrança em auditoria?
A cada ano somos brindados com assuntos importantes que se tornam mais um objeto normativo, o qual auxilia na compreensão mais profunda de dado requisito presente nas Normas que abordam o tema sistemas de gestão, particularmente o da qualidade, mas que precisam de melhor esclarecimento.
Se olharmos para o acervo ampliado pela instituição ISO somente nesse primeiro quarto do século XXI, nos parece evidente que algo está sendo feito para atar várias pontas soltas da teia que envolve o sistema organizacional. Tais conexões unidas ultimam a robustez corporativa, tão necessária para se alcançar os objetivos estratégicos e proporcionar valor às partes interessadas que se nutrem dos efeitos das relações mercantis. Quanto maior a saúde econômica empresarial, melhores condições são conferidas à sociedade. Os resultados dos empreendimentos corporativos são, ipso facto, um promotor ou restringidor da melhoria do padrão social.
Estaria o organismo ISO deixando de ser um agente promotor da melhoria social em seus múltiplos aspectos, se submetendo obtusamente a propósitos mercantis pela venda indiscriminada de Normas para apenas provocar a felicidade de alguns? Recuso-me a aceitar tal fato como verdade ou tendência, por mais que já esteja observando uma corrente de profissionais que se apoia nesse busílis, o que não deixa de ser preocupante.
Ainda me amparando nos princípios da boa-fé, entendo que a criação de tantas outras Normas, com ou sem fins de certificação, está procurando fechar lacunas e interligar elos soltos, porque, como sempre afirmo, o assunto gestão é por demais complexo para ser contextualizado em uma única Norma. Quando abordo explicitamente a temática certificação, o quadro recrudesce, uma vez que os profissionais conexos com a atividade, seja por qualquer motivo, até mesmo os menos republicanos, se entrincheiram e se protegem unicamente apoiados com o que está explicitamente descrito na Norma objeto da certificação contratada. Em meu entendimento, isto é uma visão ortodoxa inapropriada, fundamentada em interpretações ao pé da letra, medindo cada palavra e expressão. Não quero fazer qualquer juízo de valor de seu modus vivendi e pressupostos conexos, pois me são indiferentes e não desejo levantar querelas sobre seus comportamentos, porém digo que me interessam apenas os efeitos provocados na gestão das empresas e na sua capacidade de gerar desempenho sustentável, sendo este o objetivo que me proponho abertamente defender.
Posso entender que Normas que versam sobre comunicação, conscientização, cultura corporativa, desenvolvimento de pessoas etc. encontram motivos de ser distintas, e poderiam ser optativas em face das características singulares entre as organizações. Todavia as Normas ISO 9004:2018 e a Norma ISO 9002:2016 jamais estariam em dissintonia com o que foi previsto na ISO 9001:2015. Vejamos, também, que esta Norma demanda a leitura de mais outra, a ISO 9000:2015, cujos conceitos e definições são amplamente esclarecedores, dando sentido unívoco ao que lemos.
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Os efeitos gerados nas organizações provenientes desde o lançamento da Norma ISO 9001 em 1987 até hoje não podem ser menosprezados, tanto nas empresas certificadas quanto nas que adotaram seus preceitos, não obstante seus resultados se mostraram, infelizmente, insuficientes para garantir a perenidade de milhares dessas companhias ao redor do planeta, cujo encerramento de suas atividades não pode ser creditado unicamente ao desinteresse dos sucedâneos de seus fundadores para com as empresas herdadas ou assumidas, havendo outras causas mais significativas a serem exploradas.
Auditar as empresas, ou mesmo assessorá-las com um propósito de tanto aferir quanto proporcionar desempenho econômico sustentado, objeto que já se encontra previsto nessas Normas, seria impeditivo para a continuidade das atividades exercidas por profissionais sem a devida expertise? Estariam sendo desmoronados centenas de serviços inócuos, treinamentos abaixo do basilar, bem como os Kits ISO condenados à morte? Tal abordagem inviabilizaria as auditorias de certificação como conhecemos hoje?
Enquanto vemos de um lado a tentativa de elevar o nível das empresas através de conceitos divulgados em padrões normativos, objetivando sua pujança econômica, cujo corolário é a melhoria da própria sociedade em si, mesmo que à guisa da venda de Normas, vemos do outro lado um conjunto de partes interessadas se protegendo mutuamente, permanecendo presas a paradigmas autoimpostos, não lhes sendo importante os efeitos gerados pelo que fazem e como servem às empresas.
Estaria o propósito de elevar o conhecimento corporativo assolapado pelos interesses comerciais que se agigantaram na esteira das Normas ISO, enquanto, por outro lado, muitas empresas se apequenaram?
Sapere aude!
Gerente de RH | Grupo Junqueira Rodas
6 mPriscila Finoto Paola Carolina Almeida
Mentoria para líderes | Treinamentos | Educação Corporativa
6 mIh! Vai faltar auditor no mercado!
instagram.com/ricfer
6 mSe for auditar a estratégia corporativa e a gestão de negócios, vai faltar auditores no mercado!
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6 mExcelente reflexão, André! Dito isso, continuaremos a ver inúmeras empresas certificadas, e que respondem por fraudes financeiras, crimes ambientais e de segurança do trabalho, como também, à beira da falência. Os certificados que adoram expor em suas recepções são apenas um papel, que não denotam nenhum valor verdadeiramente estratégico para tal companhia.
instagram.com/ricfer
6 mHá pouquíssimos auditores que sabem auditar gestão de negócios.