Ensino vs. Aprendizagem
Vivendo nós numa época tão dada a eufemismos, surgindo a uma velocidade e com um à vontade tais que até já a subtileza dispensam..., não poderemos encarar o título que anuncia este artigo como mais um ? Podemos ! Claro que sim ! Embora..., a ser assim, estamos perante um engano redondo. E de contornos perigosos !
A ideia de que não podemos ensinar diretamente outra pessoa, apenas podemos facilitar-lhe a aprendizagem..., seria petisco saboroso e apetecível para qualquer um criticar, viesse esta frase de um qualquer. O azar, para os sedentos da crítica e para os mais suscetíveis a petiscos de ocasião , é que Carl Rogers não é um qualquer...n--, antes pelo contrário ! E como cartão de visita, para os mais distraídos, basta dizer que é um nome que nãos e pode dissociar do conceito e prática da empatia. E... a empatia está para a aprendizagem como a chave para a fechadura..., sendo que esta é que determina a eficácia daquela.
Mas, o que tem tudo isto a ver com o famigerado título do artigo que teima em aparecer ? Muito ! Tudo, diria ! Porque, de uma vez por todas, é preciso sublinhar que ensino e aprendizagem não são duas formas de dizer o mesmo, não é uma questão de semântica, muito menos uma subtileza ou eufemismo. São processos diametralmente opostos, como poderemos espreitar em autores de referência como Bruner, Lindeman ou mesmo Knowles. E onde estão as diferenças ? O que lhes garante estatuto de conceitos autónomos ? A resposta a estas questões merece uma abordagem que permita um percurso de aprendizagem ao invés de uma abordagem centrada na definição dos conceitos em questão. Podemos começar ?
Se alguém pretende chegar a um destino desconhecido e nos pergunta o caminho, podemos explicar sem hesitação, com todos os pormenores e detalhes. O ouvinte deslumbra-se com o nosso conhecimento, com a eloquência e fica extasiado com a fluência e rapidez do discurso. Incrível ! Impressionante ! Só é pena não ter ficado capaz de chegar ao tal destino por si, depois de tão eloquente explicação ! Então..., ou pede ao interlocutor para repetir, ou tira notas que depois vai consultando religiosamente, ou vai perguntando enquanto faz o caminho. Mas..., mesmo que chegue ao destino, jamais irá desfrutar da viagem e jamais sentirá o processo como seu, antes como de alguém a quem ele recorreu. Mas se, à pergunta da pessoa sobre o tal caminho, a desafiarmos para nos dizer o que já conhece, quais os locais próximos que já visitou e que caminhos percorreu para lá chegar ? E se perante as respostas que a pessoa for dando, formos encontrando pontos de ligação que ele reconheça ? E se partirmos das referências que ele nos vai fornecendo e as transformarmos em referências para o caminho que ele procura ? Torna-se um processo partilhado, é verdade..., fortemente participado, sem dúvida..., e vai permitir algo fantástico, só ao alcance de quem, efetivamente, vai fazer a viagem. À medida que vai andando..., vai desfrutando e, reconhecendo o desconhecido... vai soltando aquela maravilhosa melodia que tem tanto de espontâneo e natural como de celebração pelas conquistas e resultados: Ah !!!