Entenda os impactos que os acontecimentos de 2022 tiveram na sua carteira de investimentos e organize seu portfólio para 2023.
Este panorama é a nossa forma de contribuição, nosso presente de Natal. Mas também tem a função de dar relevância a assuntos que ficam por muitas vezes esquecidos nesta época do ano. Tão importante quanto fazer a lista das metas para 2023, comprar os presentes para as pessoas queridas, é separar um tempo para entender os impactos que os acontecimentos de 2022 tiveram na sua carteira de investimentos e organizar seu portfólio para 2023.
Estamos chegando ao final de 2022, um ano extremamente desafiador, para dizer o mínimo. Ano em que os investidores foram pressionados quase que ao seu limite, tendo que lidar com um sem-fim de fatos e informações com impacto relevante sobre a carteira de investimentos. Num átimo, enquanto o mundo se recuperava de uma pandemia, tivemos que lidar com uma guerra, inflação mundial, alta acelerada das taxas de juros, eleições, PEC de transição, eliminação da seleção nas quartas de finais... Uma corrida de obstáculos de deixar qualquer campeão olímpico sem forças para cruzar a linha de chegada.
O cansaço bateu...e entendemos por que muitos investidores entraram em stand-by. Nosso cérebro não gosta de tomar decisões complexas, como as que envolvem dinheiro. Por isso tendemos a procrastinar, paralisados à espera do próximo evento (pagão, cristão, político ou esportivo) para darmos o próximo passo.
Depois da emergência das finanças comportamentais na década de 70, ficou demonstrado através da condução de inúmeros estudos que o cérebro possui instrumentos empregados para reduzir o tempo e o esforço que envolve a tomada de decisões de investimento. Os vieses cognitivos são como atalhos mentais que ajudam a simplificar a avaliação das informações e que podem nos levar a ter uma percepção equivocada em diversas situações.
Conhecer os vieses emocionais que influenciam nas decisões de investimento ajuda a evitar erros que podem ter um impacto considerável na saúde financeira e nos resultados de longo prazo, uma vez que, preferências emocionais e problemas de autocontrole levam um bom número de investidores à tomada de decisões financeiras irracionais através da simplificação disfuncional de cenários complexos.
RETROSPECTIVA
E diante dos desafios, sanitário e geopolítico que 2022 nos trouxe, os investidores quando não entraram em modo de espera, tomaram atalhos que por fim se mostraram ineficientes na gestão de seus portifólios. Contudo, não era para menos! O ano até iniciou trazendo boa herança de 2021: crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ficou em 4,6% (recentemente revisado para 5%) frente 3,3% negativo em 2020. Resultado que apontava para uma possível recuperação em “V” da Economia. O país estava voltando para níveis de atividade pré-pandemia. Em contrapartida, por conta da alta liquidez na economia via estímulos do governo em socorro às famílias e empresas no período de pandemia e, da desestruturação da cadeia de suprimentos mundiais ocasionada pelas paralisações (lockdowns) em combate a COVID, o “fantasma” da inflação começou a assombrar as economias mundo afora, e no Brasil não foi diferente. Fechamos 2021 com uma inflação em dois dígitos. O IPCA, índice oficial utilizado pelo governo como métrica para evolução de preços, ficou em 10,06% ano passado. A inflação americana, por exemplo, chegou no maior patamar desde os choques do petróleo ocorridos na década de 1970. O CPI (Consumer Price Index), indicador norte americano de inflação, fechou em 7% no ano de 2021.
O cenário se agravou ainda mais quando no final do segundo mês de 2022, o conflito no leste europeu foi deflagrado. Em 23 de Fevereiro Wladimir Putin, presidente Russo, ordenou a invasão do território Ucraniano pelas tropas russas, iniciando assim uma guerra que ainda perdura até o momento sem avanços nas negociações. Com a guerra veio mais um choque de oferta e a inflação, que se pensava ser transitória, tomava proporções preocupantes. Isto posto, os Bancos Centrais intensificaram a política monetária contracionista (alta de juros) que já vinham adotando de forma parcimoniosa em 2021, dado que acreditavam na transitoriedade dos aumentos nos preços de produtos e serviços.
Destarte, o Banco Central do Brasil (BCB) tinha iniciado de forma tempestiva um ciclo de alta da Taxa Básica de Juros (SELIC) lá em março de 2021. Partindo de 2,00% ao ano, chegamos a 13,75% atualmente. De fato, essa postura adotada pelo nosso Banco Central se mostrou adequada frente a dificuldade que outras economias no mundo, por terem começado mais tarde o ciclo contracionista, estão encontrando dificuldades para conter a alta da inflação. Na Europa, os países correm atrás do prejuízo para conter a alta generalizada dos preços, em especial do preço de energia, impactado pela guerra Rússia x Ucrânia. Na Europa 40% do gás natural necessário para suprir grande parte da demanda energética da região era importado da Rússia. Em paralelo a esse cenário, iniciávamos no Brasil o desenho para corrida presidencial, de governadores de estado, deputados e senadores. Eleições 2022! E como já falado no início desse artigo, nós seres humanos tomamos decisões frente a expectativas e, quanto mais distante está a concretização e/ou maior é a indefinição do resultado de um determinado evento essas expectativas nos paralisam. Paralisados, preferimos adiar a tomada de decisão e esperar o resultado ao invés de decidir frente a possíveis cenários. Não se engane, muitos de nós esperamos o fim do pleito eleitoral, o desempenho da seleção brasileira na copa do mundo e agora estamos esperando o início do novo ano, ou melhor, do novo governo para decidirmos que “rumo tomar na vida”.
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Diante de tudo que lemos até aqui, quais insumos (fatos e dados) temos para construir os cenários para o ano novo?
Falando de Brasil: a eleição do candidato Luiz Inácio Lula da Silva para chefiar o poder executivo no quadriênio 2023-2026 trouxe consigo o viés populista, tradicional ao partido dos trabalhadores, o que enseja esperarmos a adoção de uma política econômica heterodoxa, onde catedraticamente acredita-se que o agente propulsor da economia é o Estado. Com isso trazemos para o cenário algo ainda não falado nesse artigo, mas que é o gargalo principal para que o Brasil continue ou não em busca de recuperação econômica pós pandemia: uma Política Fiscal disciplinada. Os gastos já propostos pelo novo governo, antes mesmo de assumir, extrapolam o teto pré-estabelecido em pelo menos R$ 150 bi já no primeiro ano. A PEC de transição como foi denominada está para votação na Câmara dos Deputados e já foi aprovada pelo Senado com mudanças em alguns aspectos, tais como valor e prazo para esse extra teto. Estamos acompanhando nos últimos resultados do indicador dívida x PIB uma trajetória de queda. Portanto, com a aprovação nos moldes originais ou bem próximo do que pede a equipe de transição, a trajetória de diminuição do gasto público e diminuição do endividamento seria alterada, mudando o paradigma de responsabilidade fiscal, saneamento das contas públicas e diminuição do papel do Estado.
Como reflexo do baixo rigor com os gastos públicos e Política Fiscal indisciplinada, já conseguimos antever impactos relevantes na economia e consequentemente nos investimentos.
Quanto mais endividado estiver o país (maior risco fiscal) mais será cobrado de juros (prêmio) sobre os títulos da dívida pública emitidos, e consequentemente sobre todos os outros títulos de dívida emitidos por Instituições Financeiras ou Empresas neste mesmo país.
Com a atual indefinição referente à dívida pública ou mesmo expectativas negativas para a estabilidade econômica, há inúmeras consequências que impactam nos investimentos, dentre elas, oscilações no câmbio e na curva dos juros, retorno da inflação e instabilidade econômica em todos os setores da sociedade.
"Como reflexo do baixo rigor com os gastos públicos e Política Fiscal indisciplinada, já conseguimos antever impactos relevantes na economia e consequentemente nos investimentos."
Sobre China a discussão é até onde o controle no crescimento da economia é algo induzido, para que ocorra de forma mais sustentável ou é resultado de uma saturação do modelo. A nova globalização ou reglobalização (neologismo) como alguns preferem também é ponto de atenção em relação a economia chinesa. Outro ponto de atenção é a política de COVID zero que pode trazer consequências ainda maiores aos resultados econômicos, com efeito transbordamento para outras economias pelo mundo. Na política, o presidente Xi Jinping, ganhou poder no último congresso do Partido Comunista Chinês. Foi reconduzido por mais 5 anos ao cargo e trocou parte dos integrantes da cúpula do governo.
Em nossa leitura, uma flexibilização da política de controle da COVID é fator essencial para melhora das perspectivas para economia chinesa.
E na Europa? Já se experimenta por lá uma pequena contração o que pode se estender de forma mais forte para o primeiro trimestre de 2023. Não há consenso, mas acredita-se numa recuperação moderada da economia já a partir do segundo semestre do próximo ano. Todavia, um ponto necessário é o avanço nas negociações para o fim da guerra Rússia X Ucrânia, para a descompressão dos preços, principalmente os relacionados à energia. Como falamos anteriormente, a guerra trouxe um risco energético esse ano, e a situação pode se agravar muito no próximo inverno. Ou seja, para que na segunda metade de 2023 ocorra uma suavização da crise econômica presente e crescente na Europa a solução das crises geopolíticas faz-se necessária. As Economias mais vulneráveis continuam a ser aquelas com dívidas públicas bastante elevadas, como a Itália e Grécia.
Este panorama é a nossa forma de contribuição, nosso presente de Natal. Mas também tem a função de dar relevância a assuntos que ficam por muitas vezes esquecidos nesta época do ano. Tão importante quanto fazer a lista das metas para 2023, comprar os presentes para as pessoas queridas, é separar um tempo para entender os impactos que os acontecimentos de 2022 tiveram na sua carteira de investimentos e organizar seu portfólio para 2023. Esse talvez seja o presente mais importante que você pode entregar para você mesmo e para os seus. Sabemos que essa é uma tarefa árdua, mas tenha certeza que fazer essa análise contando com o apoio de profissionais experientes, pragmáticos e com rigor técnico tornará a jornada menos tortuosa. Você já entendeu que o seu cérebro está tentando te conduzir pelo caminho mais fácil, mas também entendeu que o risco de iniciar 2023 com um portfólio de investimentos fragilizado pode custar caro.