ENTENDENDO MELHOR A DEPRESSÃO
A depressão é uma doença que apresenta expressiva prevalência nos estudos ao longo dos anos por cobrar um alto preço social à humanidade. Acomete homens e mulheres e está entre as 20 doenças de maior AVAD (anos de vida perdidos por morte prematura e por “descapacidade”). Nos dias atuais representa 16,4% da Carga Global de Doenças (CGD) na faixa etária que compreende dos 15 aos 44 anos de idade. Hoje existem cerca de 17 milhões de pessoas diagnosticadas com depressão no Brasil e de cada 100 acometidos por esta patologia, 15 cometem suicídio. Estima-se que em 2020 ela possa atingir o segundo lugar de causa de comprometimento funcional, perdendo apenas para as doenças coronarianas.
A depressão não é apenas uma sensação de tristeza, fraqueza ou “baixo astral”. É importante distinguí-la da tristeza comum a todos nós em algum momento da vida. Há tristezas e tristezas, depressões e depressões, com intensidade e sintomas que variam de acordo com o gênero, idade, influências socioculturais, experiências vividas, etc.
É uma doença multicausal: a combinação de fatores genéticos, psicológicos e ambientais podem desencadear um quadro de depressão. Ela atinge o corpo como um todo, afeta o humor, os pensamentos e o comportamento. Acomete homens e mulheres de maneira diversa, sendo as mulheres vulneráveis ao problema na proporção de dois para um, ou seja, para cada duas mulheres diagnosticadas com depressão há um homem diagnosticado com a mesma patologia. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que 5,8% dos homens e 9,5% das mulheres passarão por um episódio de depressão num período de 12 meses.
De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), duas importantes fontes que oferecem descrição clínica e diretriz diagnóstica para os transtornos mentais, a depressão é um transtorno do humor que pode acometer o indivíduo em um único episódio ou em dois ou mais episódios ao longo de sua vida.
Os sintomas mais comuns no quadro de depressão:
- Humor Deprimido: O indivíduo com o humor deprimido ocasionalmente se apresenta triste, denota sinais de desesperança e descrença em si mesmo; apresenta grande dificuldade em encontrar saídas criativas e saudáveis quando diante de uma dificuldade. O pessimismo é uma característica marcante nestes casos, pois o indivíduo entende que a vida lhe ofereceu obstáculos insuperáveis. Em alguns casos queixas somáticas, indiferença ou ansiedade são descritas no lugar do sentimento de tristeza. A vida parece não ter mais sentido e há a presença de uma anestesia afetiva. Algumas características como expressão facial carregada, rugas fortes, olhos lacrimejantes e aspecto descuidado são comuns.
- Perda de interesse e prazer: A perda do interesse ou prazer frequentemente está presente pelo menos em algum grau. Os indivíduos costumam relatar a perda de interesse por atividades que anteriormente despertavam prazer, incluindo as atividades profissionais, sexuais ou mesmo algum tipo de lazer. Muitas vezes são vistas como pessoas extremamente desanimadas e são adjetivadas como "preguiçosas" pelas pessoas com as quais convive.
- Fatigabilidade aumentada e atividade diminuída: Frequentemente o indivíduo apresenta energia diminuída, cansaço e fadiga persistentes, mesmo quando não há esforço físico. Tarefas leves e simples se tornam extremamente exaustivas.
- Alteração nas atividades psicomotoras: As alterações incluem agitação ou retardo psicomotor e são observáveis no comportamento. A agitação psicomotora pode ser indicada por alguns comportamentos como: incapacidade de ficar sentado quieto, ficar andando sem parar de um lado para outro, agitar as mãos, manipular a pele, roupas e outros objetos ansiosamente. Já o retardo psicomotor pode ser identificado por outros comportamentos como: pensamentos ou movimentos corporais lentificados, longas pausas antes de responder a uma pergunta, fala diminuída com volume muito baixo e pouco repertório ou mutismo. Algumas pessoas são naturalmente agitadas ou lentificadas, por isso é importante ressaltar que, para ser utilizada como critério diagnóstico, a agitação ou retardo psicomotor devem ser observados com cautela e levados em consideração apenas quando fogem ao comportamento natural da pessoa que os apresenta.
- Perturbação do sono: O indivíduo pode apresentar insônia intermediária, terminal ou inicial. Insônia inicial é entendida pela dificuldade para adormecer. Insônia intermediária é aquela em que o indivíduo desperta durante a noite e então sente dificuldade para adormecer novamente. Já a insônia terminal é caracterizada por um despertar muito cedo e impossibilidade de retomar o sono. Com menor frequência a hipersônia (sonolência excessiva), seja noturna ou diurna, é observada em pessoas com o diagnóstico de depressão. Muitas vezes a hipersônia é confundida com a fadiga e energia diminuída.
- Alteração no apetite: O apetite normalmente fica reduzido, mas há casos em que ele aumenta significativamente. Nos casos de aumento do apetite o indivíduo privilegia alguns alimentos específicos, tais como doces ou carboidratos em sua dieta como fonte de prazer ou recompensa. Em alguns casos o ganho ou perda de peso podem ser visivelmente percebido.
- Prejuízo na capacidade de pensar, atenção e concentração reduzidas e dificuldade para tomar decisões. A queixa de dificuldade de memória nestes casos também é frequente. Após tratamento adequado as faculdades do pensamento, atenção, concentração e memória tendem a se recuperar por completo.
- Sentimento de culpa e inutilidade: pode incluir uma avaliação negativa que um indivíduo faz de si, não reconhecendo seu valor ou potencial. Apresenta preocupações cheias de culpa ou recriminações acerca de fracassos do passado.
- Ideias recorrentes de morte ou suicídio: Pensamentos sobre morte, ideação suicida ou tentativa de suicídio são comuns, porém a frequência, intensidade e letalidade destes pensamentos são variáveis. Muitas vezes o sujeito não pensa em alternativas para tirar a própria vida e sim na possibilidade de morte como saída de seu estado de sofrimento. É muito comum ouvir de pacientes o desejo de que Deus, uma doença ou uma tragédia dê fim a vida e consequentemente ao sofrimento.
O tratamento para o quadro de depressão muitas vezes é realizado com associação entre farmacos e psicoterapia. A junção destas duas frentes de tratamento provoca melhores resultados.
Os fármacos utilizados são indicados para o restabelecimento do equilíbrio bioquímico dos neurotransmissores cerebrais envolvidos na regulação do humor. A eficácia dos antidepressivos só poderá ser comprovada após quatro semanas de uso sendo que alguns pacientes mostram-se resistentes ou mesmo refratários à medicação.
A psicoterapia atua como facilitador na reflexão sobre as questões do paciente, seus recursos de enfrentamento e as várias possibilidades de mudança. Na "terapia da depressão" é necessário convocar e auxiliar o indivíduo a buscar saídas criativas e saudáveis, uma vez que se encontram imobilizados diante das dificuldades. O reconhecimento e enfrentamento dos disparadores do quadro de depressão e o vislumbre de alguma saída para o estado de imobilização que o indivíduo em depressão se encontra é um ponto de partida para a busca da saúde psíquica, pois será a partir deste momento que ele terá condições de mobilizar-se e perceber a eficiência de suas ações no meio.
Nos casos de depressão a dor psíquica não é só pelo que se passou, mas também pelo estado atual em que a pessoa encontra-se. É muito comum que uma pessoa deprimida deprima-se ainda mais quando se dá conta de seu estado letárgico e imóvel frente à própria vida.
Além do Tratamento psicoterápico e medicamentoso, é fundamental que o paciente tenha uma alimentação mais saudável, que seja fornecedora de substâncias que ajudem na manutenção do equilíbrio do corpo, e que pratique atividades físicas que contribuam para o alcance do equilíbrio físico e mental.
A ajuda da família e de amigos também é muito importante para as pessoas com depressão, uma vez que o desânimo e a desesperança invadem o paciente e este não percebe a gravidade do problema. Conscientizá-lo de sua situação, encorajá-lo a buscar ajuda profissional e oferecer um suporte a quem sofre desta patologia é um grande passo para seu provável restabelecimento.
A depressão pode ser desencadeada por algum evento de grande impacto na vida de uma pessoa. Se apresenta por um conjunto de sintomas descritos nos manuais de diagnóstico. No entanto, derivam de histórias humanas complexas e sempre diferentes. Histórias estas que estão envolvidas com experiências traumáticas. Ou seja, a depressão é uma doença singular, visto que a experiência de cada indivíduo é diferente de outro apesar de ser caracterizadas por sintomas comuns.
Psicóloga Clínica em Consultório particular
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