Entre clichês e pequenos saltos contínuos
Tempos atrás ouvi dizer que os clichês não eram clichês à toa. Eles acabam por se transformar nessa informação tão repetida e utilizada por todo mundo ao longo de tanto tempo justamente por fazerem... muito sentido! Pois bem, um grande clichê tem me rondado nos últimos dias e não há como escapar de falar um pouco dele, já que o danado tem se mostrado tão verdadeiro e convicto.
Enão cravo aqui a sentença: O que a vida quer da gente é movimento. (Agora, enquanto escrevi, me lembrei que a frase original termina com coragem, mas, para manter-se em movimento também é necessária uma boa dose de coragem, então vou seguir nesse raciocínio).
No último ano escrevi pouco, quase nada. Já falei disso por aqui, mas a bem verdade é que aquele aparente bloqueio criativo realmente me assustou, afinal, eu nem acreditava muito nessa história de bloqueio. Ainda não acredito, em partes. O que tenho entendido e percebido cada vez mais e na vida prática é que a sensação de bloqueio parte de uma falta de ação e movimento.
O vazio na escrita e nas ideias me bateu em um período em que a autoestima criativa baixou. Por algum motivo (por vários, aliás) me senti despreparada, sem voz, sem ideias, uma farsa (um pouco dramática? Talvez). A percepção de me ver rodeada por tantas pessoas incríveis e talentosas em São Paulo, além de uma espera grande, arrastada e ansiosa pela leitura do meu último original fizeram com que eu me distanciasse da ideia de escrita.
Guardei cadernos e bloquinhos de notas. Parei de anotar sonhos, de escrever desabafos que se transformam em textos e personagens, não arrisquei mais poemas e parágrafos ruins ne deixei a caneta dançar escrevendo páginas e páginas bestas até que um parágrafo bom aparecesse. Li menos, deixei a câmera fotográfica empoeirar no armário e parei com os podcasts, entrevistas e textos no @elasnaescrita.
O vazio dos bloqueios
Desse jeito, como algum bloqueio criativo não daria um jeito de se firmar?? Essa pasmaceira vazia em que nos deixamos mergulhar no cotidiano, transitando sem perceber entre o trabalho, a academia e o bar, é a grande motivadora dos vazios imaginativos. E aqui, um momento para destacar que ninguém precisa estar criando, escrevendo ou tendo ideias para histórias a todo tempo, mas, aos apaixonados por esse caminho torto, como eu, a tal pasmaceira cotidiana pode assustar.
Agora, voltemos ao clichê inicial. Decidi sacudir a poeira (e dar a volta por cima) e me colocar em movimento outra vez. Tirei a câmera do fundo do armário, abri o diário e o caderno de sonhos, resgatei o bloquinho de cenas estranhas do fundo da gaveta, escrevi episódios novos para o podcast e entrei em contato com quem precisava entrar. O resultado é que as histórias realmente começaram a voltar. O original tem seguido seu caminho para sair antes do que eu pensava e a ideia de autoestima criativa tem voltado a se apaziguar no peito.
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Lembro de quando me aventurei a dar algumas aulas de escrita criativa e de que um dos temas mais recorrentes entre as dúvidas e perguntas de quem começava a escrever era justamente essa busca meio solitária pelas ideias: onde encontrar a grande história? Cadê essa grande musa? O que eu dizia lá, ainda digo e concordo por aqui: as ideias vão se construindo a partir de um cotidiano em movimento, com possibilidades e caminhos criativos para experimentar de formar livre.
Resgatando espaços de não cobrança
E é nesse ponto em que entra minha reaproximação com a fotografia.
Eu adorava fotografa. E a fotografia era uma das poucas coisas que eu fazia sem nenhuma pretensão de ser incrível, sem cobranças, sem mania de grandeza. Não sou fotógrafa profissional e ainda me falta muito aprendizado na parte técnica, mas tem sido uma delícia reencontrar fotos antigas, de quando eu me divertida fazendo retratos dos meus amigos ou registrava espetáculos na UnB. Enquanto isso me preparo para fazer umas fotos novas, lembrando que a gente ainda pode se divertir com coisas sem muita justificativa.
Acho importante ter hobbys criativas que não transformamos em profissão, trabalho ou carreira. Como a fotografia por exemplo, ou tocar algum instrumento, fazer aulas de dança. Esses espaços nos lembram de deixar o corpo livre, de rir na hora de errar e tentar de novo.
Tenho compartilhado alguns registros por aqui: www.instagram.com/malditafotografa
O nome veio assim, aleatório e nada artístico, antes que eu embarcasse numa onda maluca de me cobrar algum profissionalismo por ali ou uma grande curadoria estética. E assim seguimos. Rabiscando frases ruins, aprendendo notas no ukulele e fazendo alguns retratos de pessoas queridas. Talvez a criatividade se faça um tanto nessas pequenas histórias sem grandes e exigentes saltos.
Jornalista, dramaturgo, diretor--
1 a"Das mulheres e dos peixes ainda prefiro a parte que menos interessa aos homes,,,as cabeças." Gloriosa você! Parabéns!
Comunicadora | Historiadora | Professora Voluntária
1 aLindo demais, Bella!
Bacharel em Publicidade, graduanda em Biblioteconomia e pesquisadora do PROIC/UnB
1 aIncrível, Bella!