Entre exames de baixo valor e exames de alto valor com desfecho desfavorável: A radiologia pode fazer mais

Entre exames de baixo valor e exames de alto valor com desfecho desfavorável: A radiologia pode fazer mais

Se você não é radiologista, talvez não esteja muito familiarizado com essa imagem, mas vamos explicar. Trata-se de uma ressonância magnética da coluna toracolombar, completamente normal. A paciente é do sexo feminino e tem 36 anos. No pedido médico havia apenas "dor". Eu deveria estar contente por ter laudado esse exame rapidamente, gastando menos de cinco minutos na análise da imagem. Sim, realmente é motivo de satisfação.

Ressonância magnética da coluna toracolombar, ponderada em T2 no plano sagital, sem alterações.

Agora veja um outro caso. Tratava-se de uma paciente de 74 anos, com dificuldades para caminhar há cerca de um mês, sem dor. Em julho a ressonância magnética da coluna torácica demonstrava duas lesões expansivas comprimindo a medula.

Ressonância magnética da coluna torácica, corte axial, demonstrando lesão comprimindo a medula.

Essas lesões eram provavelmente benignas, como meningioma ou neurofibroma, mas o crucial é que se tratava de um achado crítico! Liberamos o resultado imediatamente, explicamos à paciente e seu acompanhante a gravidade da situação e a necessidade de cirurgia de urgência, com risco de perda dos movimentos das pernas e lhe demos um encaminhamento para a emergência. Além disso, entramos em contato com o médico solicitante do exame, informando os achados.

Hoje, vejo na minha pilha o exame de controle. A paciente foi submetida à cirurgia em novembro, e, de acordo com os dados fornecidos, já havia perdido a capacidade de andar antes da cirurgia.

No controle pós-operatório não existem mais as lesões, mas sim alterações na medula, provavelmente relacionadas a sequela/cicatriz. Não sabemos sobre a sua condição clínica, porém as chances dela voltar a caminhar são mínimas.

Ressonância magnética da coluna torácica ponderada em T2 no plano sagital, demonstrando alterações pós-operatórias.

O primeiro caso, um exame realizado, muito provavelmente, sem uma indicação apropriada (sem julgar o colega, mas questionando a necessidade dessa solicitação naquele momento) pode ser considerado um exame de baixo valor - custo alto, sem benefício algum.

O segundo caso, temos um exame de alto valor diagnóstico. O protocolo de achado crítico realizado para comunicar apropriadamente tanto o paciente quanto o médico solicitante. E o resultado? Paciente paraplégica operada quase quatro meses depois do achado crítico.

É desmotivador. Sinto uma vontade imensa de fazer mais. Conversar com colegas sobre a indicação de exames e a necessidade de controle. Almejo um serviço integrado no qual possamos verdadeiramente ter resultados favoráveis. A radiologia e a medicina diagnóstica podem fazer mais, bem mais.

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