Entrevista de desligamento: um bem necessário
Oi, pessoal! Tudo bem por aí? Na semana passada conversamos sobre onboarding e como fazer com que as etapas iniciais do relacionamento entre um candidato e a empresa sejam verdadeiramente estratégicas, além de uma experiência positiva para o profissional, ainda que ele não seja o escolhido para a vaga.
Essa semana vamos colocar o dedo em outra ferida do RH: o offboarding, ou seja, a demissão e a entrevista de desligamento. Esse é um momento onde, teoricamente, há bastante estratégia envolvida e muita burocracia também, mas o que está em jogo são principalmente as emoções e a reputação da empresa.
Olha, vou contar uma coisa pra vocês, é cada história de terror… Semana passada, uma amiga foi demitida depois de quase 15 anos de empresa. Sabe o que a gestora disse pra ela? “Suas entregas são impecáveis, seu comprometimento é exemplar, mas você não tem o perfil da empresa”. Gente?! A pessoa estava há mais de 10 anos lá, como que não tinha o perfil da empresa?
Vem comigo que hoje eu vou te ensinar a não fazer esse tipo de vergonha nem compactuar com essa prática.
O que é a entrevista de desligamento?
Para começar, cabe dizer aqui que entrevista e questionário de desligamento são coisas diferentes. A entrevista é uma conversa mesmo, que se propõe a ser um momento de troca sincera com o funcionário que está deixando a empresa, voluntariamente ou não. Já o questionário é algo mais pontual, objetivo, e costuma ter perguntas que possam ser respondidas apenas com sim ou não.
Se a sua empresa está investindo em estratégias para redução do turnover, você pode e deve usar as respostas do questionário estrategicamente caso tenha um volume muito grande de desligamentos para processar. Nesse caso, fica mais fácil identificar problemas macro no processo, como um gestor que não dá feedback regularmente, o excesso de horas extras não remuneradas, ou a dificuldade de conciliar as folgas semanais da equipe, por exemplo.
A entrevista, por outro lado, tem potencial para ir muito mais fundo e identificar questões relativas ao clima organizacional, ao relacionamento entre gestor e equipe e dentro do próprio time, aos objetivos de produção e metas da empresa e até aos benefícios, que podem estar deixando a desejar em comparação com a concorrência.
Para descobrir porque um profissional está saindo da sua empresa é preciso fazer as perguntas certas, no momento certo e do jeito certo. Você quer mesmo saber as respostas ou está só cumprindo tabela?
Quando fazer a entrevista de desligamento?
A escolha do momento ideal para realizar a entrevista de desligamento pode influenciar muito no resultado, bem como as circunstâncias da demissão em si. É justamente aí que o RH estratégico precisa entrar em cena.
Um funcionário que pediu demissão e está feliz da vida porque vai mudar de cidade ou país ganhando o dobro do salário, por exemplo, pode ser entrevistado no momento em que a demissão é oficializada praticamente sem riscos de problema.
Já alguém que foi surpreendido por uma demissão, ou até mesmo já esperava que isso pudesse acontecer, mas vinha tendo problemas de relacionamento com a gestão ou a equipe está mais propenso a dar respostas enviesadas caso a entrevista seja feita na hora em que o desligamento foi comunicado. Uma boa alternativa é fazer isso quando chegar a hora da homologação, por exemplo.
Por isso, avalie sempre a situação e pense no que pode trazer informações mais confiáveis para você. Afinal, o objetivo da entrevista de desligamento é analisar esses dados depois.
No caso de a sua empresa estar em atividade remota, você precisa agendar um dia e horário com o demitido ou demissionário para esta atividade. Ele precisará parar para te atender, e é bom que ele ainda esteja com o computador da empresa, de forma a estabelecer este como seu último compromisso dando instruções de como devolver o equipamento.
Também é bom checar se o profissional em questão precisará fazer a passagem de conhecimento para alguém da equipe e se este material de handover já está pronto e já foi encaminhado ao líder da área. Se houver outras devoluções a serem feitas além do laptop, devemos também instruir como proceder. O corte de acessos deve ser feito de acordo com a necessidade da situação, e é sempre bom verificar com a área de alocação do profissional antes de ir adiante com isso.
Já cortei o acesso de um profissional que aceitou uma contraproposta no fim do seu último dia; o CEO retirou a oferta e foi um bafafá louco na empresa. Resultado: depois disso eu só procedo com cortes de qualquer natureza com o aval por e-mail da gestão do profissional. Lição mais que aprendida, né, gente?
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Perguntas para incluir em uma entrevista de desligamento bem feita
O funcionário pode estar saindo por conta própria ou sendo demitido. Você, enquanto profissional de RH estratégico, precisa saber os motivos reais que culminaram nesse momento. O mais importante é saber que está na hora de ouvir muito, deixar o funcionário à vontade para se expressar e não pressionar.
Algumas dicas de perguntas são:
Parece bobagem, mas vou falar assim mesmo: não defenda nem justifique as ações da empresa, dos gestores ou dos colegas do profissional que está de saída. Além de tecnicamente a entrevista de desligamento não ser o momento pra isso, essa prática é, no mínimo, deselegante. Não seja essa pessoa.
Não esqueça, também, que essa entrevista é um convite, não uma obrigatoriedade. Sendo assim, o profissional precisa concordar com ela, sendo devidamente informado dos passos que serão dados durante o processo. E, na hora que você for tabular os resultados, não esqueça de contabilizar os “nãos” recebidos para este convite, pois este já é um sinal de como as coisas andam dentro da empresa. Muitas negativas são um sinal ruim.
O que não fazer na entrevista de desligamento
Aí você me pergunta, “Letícia, eu posso adiantar as coisas e fazer a entrevista na véspera da demissão?”. Não! Pelo amor de Deus, muita calma nessa hora. A pessoa pode até saber que vai sair da empresa, mas antecipar a entrevista é pedir pra dar problema, gente. Esse profissional, bem ou mal, ainda tem algumas horas dentro da companhia, e pode usá-las de maneira negativa.
Além disso, nunca, jamais manipule ou altere as respostas do profissional para ocultar situações ou proteger a empresa. Por mais que seja uma situação difícil, é preciso pensar que o funcionário pode acionar a companhia juridicamente depois, e você não vai querer ser confrontado com falas do tipo “não foi isso o que eu disse” diante do Ministério do Trabalho.
E agora, Letícia? O que eu faço com esses dados?
Pois bem, você conduziu a entrevista, deixou tudo registrado direitinho e vida que segue. O que fazer com essas informações?
Como eu disse lá no começo, no caso dos questionários os dados numéricos podem ser muito úteis para diminuir o turnover, tempo de resposta de áreas internas que são envolvidas em determinados processos, falta de equipamentos adequados e por aí vai.
Já com as entrevistas o trabalho precisa ser mais delicado e você precisa estar muito atento. Imagine uma equipe de dez funcionários que vão, um a um, pedindo demissão ao longo de seis meses. Isso não é uma coincidência, e o que está acontecendo precisa ser avaliado por você, profissional de RH estratégico.
Além disso, é interessante você começar a adotar estes indicadores como parte do book de indicadores do RH. As empresas estratégicas mantêm um e, se a sua empresa não tem, talvez tenha chegado a hora de propor isso para o seu líder!
Não esqueça também que o mundo gira, a fila anda e amanhã as posições podem se inverter, passando você a ocupar a cadeira de funcionário desligado. Por isso mesmo, acima de tudo, seja um ser humano decente nesse momento. Se porventura o profissional se emocionar durante a entrevista, pause o momento, seja o mais acolhedor(a) possível e se a pessoa não conseguir parar de chorar, não continue a entrevista. É desumano fazer este tipo de abordagem.
Uma coisa bem importante é que devemos ser bons profissionais sempre. Saber sair é tão ou mais importante do que saber entrar. Laços se formam dentro das empresas e as atitudes que serão lembradas serão sempre as últimas. Cordialidade é igual a canja de galinha, não faz nenhum mal.
Ainda que o profissional esteja saindo da empresa por vontade própria, é um ciclo que se encerra e que merece ser respeitado como tal. Lembre-se de que todos são potenciais promotores ou detratores da marca da empresa, e uma entrevista de desligamento tem um super potencial para afetar esse poder tanto para um lado quanto para o outro.
E aí, curtiu nosso tema de hoje? Me conta aqui nos comentários! Nos vamos novamente na próxima quarta-feira, com mais uma edição de “O Novo RH”! Até lá!
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2 aÉ um momento muito importante, eu diria que mais importante que o onboarding. A entrada é fácil, a saída nem sempre.. Quando o funcionário é pego de surpresa a demissão não é um momento feliz, mas a forma como o RH pode conduzir faz toda diferença. Respeito é fundamental, eu sempre considero como lidar como um período de "luto".. a pessoa está absorvendo a perda.. é preciso muita empatia. Se colocar no lugar do outro em tudo que fazemos e na forma como agimos. Muito obrigada por compartilhar esse artigo Letícia Molinaro