A Era do Burnout

A Era do Burnout

Em minha jornada como executivo de recursos humanos, venho assistindo a inúmeros casos em que profissionais altamente preparados e com inúmeras conquistas em suas carreiras sucumbem, mesmo em situações aparentemente transponíveis. Recentemente, decidi fazer uma pesquisa simples com 20 gestores de primeira linha sobre quais temas mais os afligem em relação ao capital mais importante de uma organização: as pessoas.

A principal preocupação dos executivos consultados é a pressão a que são constantemente submetidos. A busca para maximizar o resultado das empresas a cada ano torna, gradualmente, mais distante o bem-estar que a posição ocupada deveria propiciar. Desafios como gerenciar equipes que trabalham cada vez mais virtualmente, desenhar plano de sucessão, lidar com novas ferramentas analíticas de recursos humanos e desenvolver cultura e competências ficam bem atrás entre as inquietudes dos executivos.

Atualmente, todo gestor está sujeito a sofrer com a alta carga de trabalho e o curto tempo para desempenhar suas atividades com qualidade. O desgaste resultante desse cenário não prejudica apenas o indivíduo enquanto profissional, pois é bem provável que o que chamamos de burnout esteja impactando, de um lado, vários aspectos de sua vida pessoal e social; de outro, as funções da equipe em que está inserido e, consequentemente, a sua organização.

Para a psicóloga Christina Maslach, uma das pioneiras no estudo sobre burnout, a exaustão é o sintoma central da síndrome. A fadiga emocional e cognitiva torna-se tão profunda que impede o profissional de ser efetivo no trabalho por não conseguir se concentrar nem mesmo em atividades antes consideradas fáceis e agradáveis.

O burnout pode trazer impacto negativo em diferentes áreas e muitas vezes passa despercebido em uma análise superficial.

IMPACTO INDIVIDUAL

Desmotivação, aumento do número de erros e queda de autoestima são alguns dos sinais que podem mostrar que o profissional está caminhando para a completa exaustão. Como a vida não se limita ao ambiente de trabalho, é possível que quem esteja com sintomas de burnout reproduza esses comportamentos em outras áreas: com a família e os amigos, por exemplo. Sem contar os problemas de saúde decorrentes, como doença arterial, hipertensão, distúrbios do sono, depressão, ansiedade, aumento da ingestão do álcool e utilização de drogas.

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As consequências, portanto, podem ser muito mais graves do que o absenteísmo, a baixa performance ou, até mesmo, a saída do emprego. O burnout traz consigo sequelas que devem ser tratadas rapidamente para não impactar outras áreas da vida além da profissional.

Sem apoio da organização, é difícil encontrar um caminho para a recuperação. Por isso, tem sido comum ver grandes executivos tomarem a decisão de não mais ocupar um cargo corporativo e partir para o ramo de consultoria ou desenvolver projetos que envolvam outros desafios, às vezes completamente diferentes de sua trajetória profissional.

IMPACTO NA EQUIPE

Pesquisadores afirmam que a principal consequência do burnout é prejudicar o processo de tomada de decisão. Equívocos no direcionamento (ou a falta deste) podem conduzir todos os membros do time a cometerem os mesmos erros, transformando o ambiente de trabalho em um lugar confuso e de frustração. Os resultados esperados provavelmente não serão alcançados e a equipe ficará desmotivada.

A comunicação entre os membros da equipe e o líder também perde qualidade, dada a falta de confiança na decisão do superior (se ela será ou não o melhor para eles). Cada profissional do time passa a não compartilhar informação com o líder e espera que os outros também não o façam.

É o contato com o gestor que, muitas vezes, define a percepção do funcionário em relação à empresa, pois é o superior quem contribui ou atrapalha o seu desenvolvimento profissional. Nos casos de burnout do líder, o efeito certamente é negativo.

IMPACTO ORGANIZACIONAL

O fenômeno de burnout, que passa da gerência para toda a organização, vem contribuindo consideravelmente para aumentar a quantidade de pessoas afastadas do ambiente laboral. Em 2016, 21% de todos os afastamentos registrados na Secretaria de Previdência Social do país foram decorrentes de estresse e ansiedade. Para a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), dois fatores cooperam para isso: cobranças exageradas e metas abusivas.

A partir do momento que um funcionário deixa de exercer suas atividades, a empresa tem de se reorganizar para suprir tal ausência. Para cargos com baixa contribuição na tomada de decisões estratégicas, o custo maior do ponto de vista da organização pode ser financeiro. No caso de profissionais que ocupam posições críticas e não facilmente substituíveis, as perdas não podem ser tão facilmente contabilizadas. Com a ausência do executivo, a empresa corre o risco de perder conhecimento.

Mesmo após seu retorno ao trabalho, o que pode levar alguns meses, o gestor provavelmente levará tempo para recuperar seu desempenho. Em alguns casos, nunca mais conseguirá retomar suas atividades como antes.

QUAL É A SAÍDA?

Na maioria dos casos, quem vivencia burnout reluta em reconhecer seu estado. Todos à sua volta começam a comentar: “Por que o desempenho dele/dela mudou tanto?”. Para um executivo, assumir que está exausto é muito difícil. O que se espera de alguém que ocupa um alto cargo em uma organização é que seja infalível. Um super-homem ou uma mulher-maravilha.

Construir uma comunicação confiável, verdadeira e transparente nas organizações é um caminho para minimizar problemas relacionados ao burnout. Os funcionários precisam sentir que estão em um ambiente seguro e respeitoso, no qual os erros não intencionais são fonte de aprendizado. É nesse ambiente que um gestor completamente esgotado poderá reconhecer seu estado e se recuperar mais rapidamente. O burnout pode até ser evitado com uma cultura de comunicação autêntica e de mútua confiança.

Estabelecer metas e formas corretas de monitoramento também contribui para evitar que profissionais cheguem a esse estado de burnout. Assim, as expectativas ficam bem alinhadas e qualquer desentendimento pode ser rapidamente redirecionado.

Por fim, conhecer-se é fundamental para que o profissional saiba se o ambiente em que ele está é o melhor lugar para desempenhar suas atividades. Caso, mesmo com muito esforço, avalie que o local não é o ideal para continuar sua carreira, o executivo não deve pensar que é o culpado. Existem diversos tipos de ambientes e nosso desafio é buscar aquele em que melhor podemos nos desenvolver e contribuir para o crescimento da organização.

Edu Lopes

Executivo de Recursos Humanos / Doutorando em Administração - FGV

Fonte: https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/gv_v17n2_ce2.pdf

Kinuani Costa

International Consumer at JPMorgan Chase& Co.

5 a

Professor, a burnout também de estende para área estudantil?!

Maycon Oliveira Amaral

Oncology Account Leader / Specialist GU Bayer Pharmaceuticals

5 a

Parabéns Edu , muito bem observado . Tenho visto isto também no ponta , digo time operacional.

Parabéns Edu! Excelente abordagem 

Marcelo Aparecido Ribeiro dos Santos

Ajudando empresários a reduzir de forma expressiva os custos com energia elétrica, através da implantação de projetos de Energia Solar / Mercado livre em empresas médio e grande porte

5 a

Parabéns !!!  pelo abordagem do tema, conteúdo de grande valor.

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