Escala em negócios de Impacto: nem todo mundo cresce igual
Uma dúvida que muitas vezes percorre a cabeça de quem empreende com impacto é: como posso escalar o meu negócio?
Se você empreende um negócio de impacto deve ter se pegado muitas vezes sem resposta certa para essa pergunta. Mas eu quero dar um passo atrás e te perguntar: você precisa escalar seu negócio? e mais: Por quais motivos você quer escalar o seu negócio?
Negócios de impacto podem escalar com a curva J, em que ao longo do tempo o faturamento cresce de forma desproporcional aos seus custos, assim como startups - inclusive temos alguns casos como a Vivenda e a Warren - mas quanto de fato a escala de um negócio de impacto diz respeito APENAS a sua capacidade de escalar em faturamento?
Investidores de risco, preocupados com o retorno monetário que podem obter do investimento em negócios, acabam por vezes "forçando" o empreendedor a apresentar resultados financeiros - uma vez que a "atividade" de investir em risco pressupõe retorno sobre aquele investimento - quando na verdade um negócio de impacto nasce para resolver um problema social ou ambiental e mudar uma realidade. Isso gera conflito quanto falamos também no retorno quanto ao impacto gerado, algo tão importante quanto nos negócios de impacto.
Para apresentar números muitas vezes faz-se necessário deixar de lado o impacto e é aí onde muitos empreendedores entram em crise ou não são compreendidos e acabam não recebendo o investimento que precisam, sendo necessário recorrer a outras alternativas.
Entendendo que a natureza dos negócios de impacto é diferente de uma startup fica claro que existem mais variáveis a serem escaladas do que apenas o faturamento. Negócios de impacto podem e devem escalar TAMBÉM por meio do impacto que geram, orientados pela sua própria teoria da mudança e as evidências que ela deve apresentar.
Diante desse cenário alguns players tem se posicionado para além do retorno financeiro e entendido que negócios de impacto podem ter outros tipos de escala. Um exemplo disso são o J.W. McConnell Family Foundation e Tamarack Institute, que abordam 3 formas de escala de impacto: para cima, para fora ou em profundidade.
Mas como é isso na prática?
Escala para cima é o tipo de crescimento que permite ao negócio gerar impacto em leis e políticas. Ele se propõe a mudar as instituições em nível de política, regras e leis, trazendo novas práticas e abordagens para essas instituições e mudando "as regras do jogo" - quanto mais as leis e a estrutura política são mudadas maior é o impacto gerado por esse negócio e a escala que ele alcança.
O Garatea, negócio acelerado pela Semente Negócios no Programa Vai Tec, tem justamente essa proposta: mudar a forma e a velocidade com a qual os atendimentos médicos de emergência em casos de acidente são feitos para que as vítimas tenham mais chances de sobreviver.
Escalar para fora é sobre impactar números maiores (de usuários da solução que você desenvolveu). É a replicação, disseminação e incremento do número de pessoas e comunidades atendidas pelo seu negócio - e aqui falamos exatamente de número.
Um negócio de impacto que exemplifica bem esse tipo de escala é o Me Salva, um dos nossos acelerados no StartEd. É uma plataforma de ensino online com conteúdo para o Ensino Médio, Superior e cursos preparatórios para o ENEM e vestibulares com preço menor do que os tradicionais cursinhos e com uma metodologia feita de estudante para estudante. Nesse caso, quanto mais pessoas eles atendem, mais pessoas terão conhecimento suficiente para ser aprovado em universidades e terem acesso ao ensino superior - até agora eles somam mais de 3,8 milhões de aulas assistidas.
Escalar em profundidade é gerar impacto nas raízes culturais, mudando relacionamentos, valores culturais e "corações e mentes". Não é sobre números mas sobre a profundidade com a qual seu negócio consegue alterar comportamentos e crenças dentro do contexto social e/ou ambiental em que seu negócio está inserido.
Um bom exemplo disso é a Herself, negócio acelerado pela Semente no AGIR e que produz calcinhas e biquínis menstruais. Com o uso das calcinhas muitas mulheres passaram a ressignificar seus períodos menstruais e a própria relação com a menstruação e corpo. Isso as tem tornado mais confiantes e permitido que elas avancem em aspectos da vida que, em circunstâncias anteriores, não aconteceriam - seja a prática de esportes, a ida à praia, a tranquilidade para trabalhar durante o período menstrual e até o descobrimento de um novo significado de beleza - beleza essa que respeita as particularidades de cada mulher.
É possível também que um negócio de impacto tenha mais de um tipo de escala, o que pode ser chamado de escala transversal: quando esse negócio tem 2 ou até mesmo os 3 tipos de escala em si.
Em todos esses casos estamos falando sobre outros aspectos de escala - como no processo que permite a mudança das problemáticas que o negócio se propõe a resolver - e não apenas do faturamento. Como diz o Maurício Vidor você pode ser um Unicórnio Social e resolver problemas globais como fome, saúde, educação e tantos outros; ou pode ser uma Zebra Social e resolver problemas relevantes locais, sendo esses qualquer necessidade específica de um contexto. Grandes problemas necessitam de soluções escaláveis, enquanto problemas contextuais não podem ser atendidos por soluções escaláveis, por isso os dois caminhos se complementam. Se você quiser ser um unicórnio, deve seguir a mesma lógica das startups: procurar um problema gigante e atender um mercado gigante. Se quiser ser uma zebra, você não precisa escalar em faturamento pois seu crescimento está muito mais relacionado a relevância contextual do impacto que vai gerar.
E o seu negócio de impacto, como vai escalar?
Publicado originalmente no blog da Semente Negócios