Escolha de carreira “tipo miojo”
Você encontrou sua vocação?
Durante muito tempo me fiz essa pergunta e a resposta era uma decepção completa.
Não! Era a sonora voz que ecoava em minha cabeça e isso me deixava muito ansioso.
Sempre tive facilidade com várias coisas, embora não percebesse nenhum “dom” para absolutamente nada. Isso sem contar minha falta de foco – era como se eu me apaixonasse por uma profissão hoje e amanhã ela fosse minha última opção.
Já pensei em ser professor de história, mas diziam que professor não ganha bem no Brasil. Já pensei em ser psicólogo, mas convivi com tanta gente que se decepcionou com a profissão. Já pensei em fazer hotelaria, mas me disseram que eu nunca compraria meu hotel sendo empregado em um hotel. Pensei em muitas opções, mas disseram que essas profissões era "alternativas demais", logo, não davam status nem futuro.
Por outro lado, também pensaram que eu seria muitas coisas – médico ou veterinário, em especial – mas nunca me perguntaram se eu cogitava mesmo escolher algum desses dois. Não quis...
Quando cheguei ao terceiro ano do Ensino Médio sabia um pouquinho sobre várias profissões, mas sempre pelas ótica de quem as escolheu (ou não) tempos atrás e hoje já estava em outro patamar. Sendo bem sincero, não me preocupei muito em aprender minuciosamente sobre cada alternativa olhando o “quadro geral” e isso não parecia um grande problema, afinal, eu ainda tinha tempo.
Quando se é um adolescente você acredita em um mundo louco onde as coisas vão se resolver, sempre, sozinhas. Não tinha reparado até então o quanto as pessoas ao meu redor haviam participado de tudo que "se resolveu sozinho" e ignorei o fato de que essa escolha poderia engolir alguns anos da minha vida.
Escolhi minha carreira como quem prepara um macarrão instantâneo. Daqueles que você nem gosta tanto assim, mas vira sua única opção quando demora demais para decidir o que fazer e só resta 3 minutos para morrer de fome. E eu já estava no meio do último ano de colégio.
Foi assim que, após escutar vários argumentos contrários às minhas opções anteriores, marretei: “vou fazer direito”. Isso aconteceu logo após assistir uma palestra na FGV-Rio sobre Advocacia. Foi um dos primeiros contatos que tive na vida com essa profissão, mas, curiosamente, ainda assim recebi pouca resistência.
- “É, você argumenta bem e sabe falar”
- “Muita coisa para ler, mas gostando de história vai conseguir"
- “Que ótimo! Concurso público é a melhor coisa do mundo e ninguém te demite”
- “Muito bem, aqui só o judiciário é reconhecido"
Confesso que fiquei feliz.
Em especial porque dali em diante eu não precisaria ver a cara de tristeza das pessoas com as profissões malucas que eu inventava, ou, pior, quando assumia que ainda não tinha decidido. Depois de um tempo eu repeti tantas vezes que acabei acreditando que era uma boa ideia. O próximo passo era ser excelente em explicar e convencer os outros sobre porquê da escolha (será que eu tinha encontrado minha vocação acidentalmente?).
No final das contas, o que é uma vocação? Eu precisava mesmo de uma?
Aquilo continuava na minha cabeça, mas deixei para lá. Me convenci de que no direito eu conseguiria ganhar o dinheiro que o professor de história não ganhava, não teria as decepções de mercado da psicologia e, algum dia, compraria meu hotel. Melhor ainda, não teria que conviver com o clima pesado nos hospitais dos médicos, ou com as perdas dos bichinhos que são inevitáveis na veterinária. Parecia ter sido uma boa escolha. Não foi...
Naquela época eu me gabava de saber cozinhar. De fato, eu me virava bem com o fogão, mas uma das minhas especialidades continuava sendo.... o Miojo.... E quando lia aquelas receitas cuja descrição dos pratos envolvia 18 horas marinando em algo, ou qualquer outra técnica trabalhosa e demorada, eu só conseguia pensar "que frescurada inútil!"
Logo, se entende porque não via a menor necessidade de gastar meses definindo minha escolha de carreira, nem tampouco considerando minhas habilidades naturais, sonhos e metas, ambiente de trabalho, mercado atual e futuro, progressão de carreira, valores pessoais, influências e interferências externas..... "Ahhhhhhh, que coisa chata!!!!"
Voltando à pergunta da vocação, pode ser que você associe com “apelo ou inclinação para o sacerdócio, para a vida religiosa”, como muitos dicionários definem a palavra. Mas, se formos na origem do termo, estamos falando de um chamado. Nada mais. Um convite irrecusável para seguir qualquer caminho que seja. Isso é vocação.
Desculpe te decepcionar, mas nossos jovens não vão encontrar suas vocações.
Eles podem até acertar na escolha, mas o percentual de "chamados atendidos" permanecerá baixo. Por alguns motivos:
- Para escutar um chamado você precisa, primeiro, escutar.... algo em falta nas relações familiares (não estou falando sobre conversas amenas no jantar, ou conversas sérias após alguma besteira feita... é muito mais do que isso); e
- Ninguém escuta nada se não estiver próximo o bastante para isso.... enquanto nossos filhos não vivenciarem a experiência de trabalhar enquanto ainda não precisam escolher eles não saberão o que é o "mundo real" daquela profissão e farão escolhas baseadas na sua imaginação.
Existem vários outros pontos como a supervalorização do estudo pelo estudo (aprender sem conectar com a aplicação prática e individual) e a falta de sentimento de progressão (definir e medir marcos de maturidade profissional), entre outros, mas isso é assunto para outro dia.
O fato é que do dia para a noite (na visão do jovem) mudamos a regra do jogo. Ontem dizíamos que eles só precisavam brincar e estudar, como uma criança normal. Hoje ele PRECISA tomar juízo e escolher uma profissão que dê dinheiro! Como??????? Ele nem sabe quanto vale, de fato, o dinheiro!!!!!
Nosso sistema de ensino precisa evoluir, nossa abordagem em casa precisa se atualizar, nosso mercado de trabalho precisa aprender a extrair o melhor das antigas gerações e compatibilizar com o potencial das novas. Contudo, isso só será possível quando NÓS escutarmos quem está vindo e não só o contrário.
A pergunta "o que você vai ser quando crescer" não pode ser feita quando já crescemos. A resposta precisa ser moldada ano a ano com novas informações e aprendizados desde o início do Ensino Médio, se possível até antes. A escolha baseada no quê você não quer ser é um caminho muito longo, mas, às vezes, é o mais adequado.
Enquanto esse meu sonho de mudança não acontece, me tornei Coach de carreira e ajudo jovens em escolha profissional e preparação para o vestibular durante esse processo tão intenso e acelerado. Ajudo esses jovens a valorizar seus talentos e valores, diferenciando os hobbies do que podem virar profissões, além de executar um planejamento adequado para o tamanho do sonho escolhido.
Faço isso para que outras pessoas não possam economizar o tempo, dinheiro e energia que eu gastei de forma equivocada no Direito. Para que não excluam uma profissão de forma precipitada, como eu fiz, por me conhecer pouco.
Aliás, para encerrar esse texto, compartilho uma apresentação minha sobre Sonhos e Realizações. Não há nada pior do que deixar de viver um sonho real pelo medo de não ser bom suficiente para percorrer a jornada.
Assista em: Palestra - O DITADO
Se você acompanha um jovem em fase de escolha de carreira, se você é um vestibulando, ou se está em um momento de decisão sobre mudar ou não sua trajetória profissional, entra em contato que terei enorme prazer em conversar sobre a tua história!
Assista em: Palestra - O DITADO
Grande abraço.
Até a próxima!
LinkedIn Top Voice | Top 10 RH Influencer América Latina | Linkedin Creator | Mentora de Recrutadoras | Especialista em Recolocação e Carreira | Psicóloga
7 aMuito banana mesmo!! Adorei ler e vou compartilhar!
Especialista em inovação, agilidade e uso de IA para negócios
7 aQue depoimento bacana. Não sou vestibulando e nem estou lidando com algum, mas quando paro pra ler algo no LinkedIn quero encontrar conteúdo relevante e verdadeiro assim. Parabéns pelo primeiro (de muitos, espero) artigo é sucesso na sua missão.