Escolha ou imposição?
A velocidade das mudanças tecnológicas parece gerar impactos culturais, sociais e econômicos, que tornam a realidade instável demais, exigindo ação. As pessoas se mudam para pontos diferentes em suas próprias vidas, cobram de si mesmas uma adaptação constante ao novo. No entanto, alguma coisa está errada nesse contexto: seria a globalização a causadora de perdas de critérios, de uma cegueira moral (que já foi defendida por Zygmund Bauman)? As pessoas acham que estão acumulando experiências e conhecimento, sem definir o que vale a pena, sem diferenciar ao menos o que é proveitoso daquilo que é inútil e desprezível. Conectam-se. Mas em que porcentagem de tempo isso resulta em felicidade? Em progresso moral? As pessoas vivem conectadas porque querem ou porque serão "estranhadas", se não o fizerem?
Em um corredor de universidade, aguardávamos a autorização para entrarmos no laboratório de informática, onde realizaríamos uma das avaliações do segundo semestre. Um ambiente pequeno, um corredor. As pessoas se aproximavam e, enquanto procuravam um local em um banco ou em um espacinho de parede, para encostar e permanecer de pé, liam e digitavam em seus celulares. Todos eles. Ninguém se interessava pelo outro. Nenhuma curiosidade, sem cumprimentos, sem exclamações sobre o calor. Dava medo de abrir a boca e incomodar aquele agir coletivo. Incomodar suas supostas necessidades de adaptação ao novo, tão exigente. Pereceu-me sem sentido. Na falta de meu celular, não pude registrar o momento. Mas, o que mesmo isso acrescentaria?