"ESG e aquecimento global exigem urgência!"

"ESG e aquecimento global exigem urgência!"

Existem muitas evidências acerca das mudanças climáticas que temos sofrido, eliminando qualquer dúvida que ainda possa existir. Segue nesse artigo uma reflexão que faço sobre o tema. Durante nossa Jornada Técnica do IBCG à Inglaterra com uma turma de conselheiros, visitamos o colégio Huges Hall em Cambridge, onde tivemos a oportunidade de assistir à palestra sobre mudanças climáticas de alguns professores que lideram essas pesquisas. Nessa oportunidade, nos mostraram as pesquisas na Antártida nas camadas de gelo e amostras retiradas do solo a profundidades de 3500 metros, que podem evidenciar a temperatura e composição dos gases atmosféricos da época. Com esses estudos, conseguem mostrar gráficos que nunca evidenciaram, em 800.000 anos, as temperaturas ambientes e quantidades de gases de efeito estufa que temos visto na era pós-revolução industrial. Resumindo, uma evolução rápida e crescente sem precedentes históricos.

Sabemos que este ano, no dia 2 de agosto, foi o dia da sobrecarga da terra, data em que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade do planeta de produzir ou renovar esses recursos ao longo de 365 dias. Precisaríamos de 1.7 planetas para nos sustentar do modo como vivemos, e a cada ano isso acontece um pouco mais cedo... Creio que temos evidências suficientes para acreditar e agir!

Tivemos também a oportunidade, nesse mesmo dia, de participar de uma pesquisa em andamento sobre recomendações que tem sido gerada sobre o futuro dos conselhos. A pesquisa está sendo realizada com financiamento e em conjunto com o escritório de advocacia global DLA Piper, que está ajudando o Instituto de Liderança em Sustentabilidade da Universidade de Cambridge (CISL) a identificar fontes de dados e coletar insights de vários locais ao redor do mundo. Também está fornecendo orientação e aconselhamento à medida que o projeto avança. É importante notar que, embora a DLA Piper tenha financiado este trabalho, a administração intelectual cabe à CISL. De forma sumarizada, existem algumas tendências mostradas nessa pesquisa até o momento:

Tendência 1: Os códigos de governança corporativa e os códigos de stewardship adotam princípios de sustentabilidade. Esses instrumentos de soft law estão sinalizando expectativas regulatórias crescentes de um comportamento de maior sustentabilidade por parte das empresas e podem mudar mais rapidamente do que o hard law em algumas jurisdições.

Tendência 2: Os requisitos de relatórios e divulgação de informações de sustentabilidade passam da autorregulação voluntária das empresas para serem cada vez mais consagrados em quadros legais obrigatórios. Esta mudança para uma abordagem legislativa visa promover a transparência das empresas e melhorar a comparabilidade entre as empresas. Espera-se que isso permita que os conselhos avaliem melhor seu desempenho e capacitem as partes interessadas a usarem dados de sustentabilidade para avaliar melhor os riscos e responsabilizar as empresas.

Tendência 3: Os riscos de sustentabilidade criaram riscos de litígio e responsabilidade. Esses riscos de litígio podem afetar tanto indivíduos quanto conselhos como um todo. Eles podem operar em direções opostas, tanto para aumentar a aderência a reivindicações e práticas de sustentabilidade, quanto para dissuadir tais atividades por parte dos conselhos.

Tendência 4: Há uma pressão crescente das partes interessadas para esclarecer os deveres fiduciários dos conselhos de administração e torná-los consistentes com as considerações de sustentabilidade. Esta tendência está se tornando cada vez mais politizada à medida que as implicações da "primazia dos acionistas" enfrentam um maior escrutínio, enquanto o impulso para alargar os deveres fiduciários encontra resistência em certas jurisdições.

Tendência 5: Legisladores e reguladores estão adotando cada vez mais requisitos de diversidade nos conselhos. Esta mudança é impulsionada pela mudança das influências culturais e pela percepção de que certos critérios de diversidade desempenham um papel significativo na abordagem dos desafios complexos de hoje.

Tendência 6: Os requisitos de due diligence da cadeia de suprimentos estão ganhando força. Ao concentrar mais atenção nas práticas da cadeia de suprimentos, isso amplia a responsabilidade e, portanto, o escopo do foco de um conselho. Estes requisitos, em particular as regras pendentes da União Europeia em matéria de cadeia de abastecimento, têm, em geral, uma aplicação territorial extra e implicações multijurisdicionais.

Tendência 7: Os Estados estão adotando formas corporativas inovadoras que unem benefícios privados e públicos. Essas empresas de duplo propósito, como as sociedades de benefícios, permitem a busca tanto do interesse público quanto dos interesses dos acionistas e das partes interessadas mais amplas.

Tivemos uma visita à LinkLaters por dois dias com apresentações de diversos convidados, inclusive uma discussão sobre a revisão ainda em andamento do código de governança do UK. Segundo as apresentações, destacou-se que o papel dos conselheiros, tanto no Reino Unido quanto na Europa, está evoluindo impulsionado com maior ênfase na sustentabilidade e na ética. Isso deve-se a uma ação crescente do ativismo dos acionistas, pedindo estratégias sustentáveis de longo prazo para evitar assim o greenwashing.

Nos dois casos, de uma forma geral, o debate sobre sustentabilidade é muito amplo, ou a mais conhecida no mundo dos negócios é a abordagem do acrônimo ESG, que é imperativa para o futuro da governança. Sabemos que o “E” e o “S” sem o “G” não se sustentam. O “S” é um desafio grande para a sociedade, onde a lacuna, de forma geral, entre pobres e ricos é cada vez maior, indo em direção oposta a uma sociedade mais justa e equilibrada. Entretanto, o “E” tem uma grande urgência, pois o aumento de temperatura e gases de efeito estufa desenfreados colocam em risco a vida na terra.

Os cientistas e organizações diversas têm buscado soluções para combater esse aumento de temperatura e gases de efeito estufa, mas não existe até o momento e dificilmente haverá uma bala de prata única, provavelmente uma combinação de soluções em diferentes locais, de acordo com a necessidade e a disponibilidade de recursos existentes. Cabe aos executivos, mas principalmente aos conselhos que têm a missão de perpetuar as organizações, conhecer e acompanhar a evolução das tecnologias e analisar os devidos trade-offs nas suas decisões. É um grande compromisso que temos com as organizações e a sociedade.

Um dos pontos mais críticos do “E” é a geração de energia. Sabemos que as soluções tecnológicas que existem hoje têm pontos positivos e negativos que precisam ser analisados caso a caso, e, portanto, riscos e benefícios de sua adoção em localidades específicas. Assim como sua eficiência energética (existem várias formas de se medir a eficiência, entretanto falemos aqui da eficiência de conversão em energia elétrica).

Dentre as fontes energéticas mais comuns hoje, vamos analisar a eficiência na conversão para energia elétrica e as vantagens e desvantagens das mesmas:

1- Petróleo: a eficiência na produção e uso varia de acordo com sua aplicação. A eficiência dos motores a combustão interna que utilizam produtos de petróleo é de aproximadamente 30 a 40%. Vantagens: tem uma alta densidade energética, disponível em vários locais no mundo e infraestrutura estabelecida. Desvantagens: emissão de CO2 e outros gases de efeito estufa na queima do petróleo, reservas finitas e riscos de derramamento causando catástrofes na natureza, como já evidenciamos algumas vezes.

2- Hidroelétrica: a eficiência é alta, maior que 90%. Vantagens: sua eficiência em conversão para energia elétrica, armazenamento de água, energia limpa. Desvantagens: causam grande impacto nos ecossistemas e comunidades locais e necessitam de grandes quedas d’agua para se instalar, limitando sua disponibilidade.

3- Eólica: Também tem eficiência relativamente alta, podendo converter de 30 a 50% aproximadamente da energia cinética do vento em eletricidade. Vantagens: energia limpa, é uma fonte estável e sua obtenção ainda está em evolução. Desvantagens: é uma energia intermitente pois depende da existência de vento e por isso requer armazenamento e backup, as turbinas requerem grande quantidade de espaço, impactam a vida selvagem, a paisagem e geram poluição sonora. A reciclagem dos materiais utilizados na produção das pás eólicas (fibra de vidro, adesivos e outros) assim como as pás após vida útil ainda está em evolução. A vida útil projetada das pás eólicas é de aproximadamente 20 a 25 anos.

4- Solar: convertem aproximadamente 15 a 20% da energia solar em energia elétrica. Vantagens: é uma energia limpa e uma vez instalado os painéis requerem baixa manutenção. A tecnologia está em evolução. Desvantagens: é uma energia intermitente pois depende a existência de sol e requer armazenamento e backup, requer grande quantidade de espaço, embora o custo de instalação tenha se tornado mais competitivo. A reciclagem dos painéis solares (principalmente as placas fotovoltaicas) após vida útil ou por modernização ainda é complexa e está em evolução, pois os materiais estão misturados (principalmente plástico, cobre, silício e alumínio). A vida útil é de aproximadamente 20 a 25 anos, são materiais finitos e a sua reciclagem tende a ser mais regulada e modernizada no futuro próximo.

5- Hidrogênio: a eficiência da produção de hidrogênio depende do método utilizado. É necessário fazer eletrólise da água, utilizando eletricidade para separar o hidrogênio do oxigênio, podendo ter eficiência na geração de energia elétrica de aproximadamente 60 a 80%. Essa eficiência pode reduzir se utilizar outros métodos. Se a fonte de energia elétrica utilizada na eletrólise da água for uma energia limpa, como solar, eólica ou hidroelétrica, temos o hidrogênio verde. Se utilizar combustíveis fósseis, temos geração de gases de efeito estufa. Vantagens: o hidrogênio é muito versátil, podendo ser utilizado em grandes máquinas, transporte e produção industrial. Desvantagens: sua produção possui um alto custo, e o armazenamento e transporte eficientes ainda representam desafios significativos. A tecnologia relacionada ao hidrogênio está em constante desenvolvimento, mas é considerada bastante promissora no contexto das soluções energéticas sustentáveis.

Como conselheiros, precisamos pensar no longo prazo, na sobrevivência do negócio e entender os impactos ao negócio e a nossa própria imagem. Precisamos continuamente nos aperfeiçoar no entendimento dos assuntos relativos à sustentabilidade e ética, entender as alternativas e trade-offs antes de fazer as escolhas. Analisar o impacto local e global, pois o planeta é único e a contribuição de todos é a soma final. Não dá para esperar que a solução venha somente dos setores que são os maiores ofensores, o resultado requer colaboração de todos. Além dos aspectos de energia, outro fator relevante para o conselheiro é a reciclagem, economia circular dos produtos existentes e novos produtos em desenvolvimento, independente do setor em que atua. A sociedade está se conscientizando aos poucos, cabe aos negócios também ajudar a promover esse entendimento e escolhas por parte do grande público. Nosso dever ético!

Poderia mencionar aqui muitos exemplos, mas faço uma provocação a um tema em específico, o carro elétrico no Brasil: em termos de eficiência energética, são mais eficientes que os movidos a combustível, incluindo o biocombustível de álcool de cana. Entretanto, ainda não temos infraestrutura suficiente nas estradas, as baterias utilizam uma série de minerais raros cuja atividade de mineração não é sustentável e é extremamente competitiva no mundo. Os carros elétricos são mais caros. Temos uma tecnologia desenvolvida para o álcool há muitos anos e poderia ser mais bem utilizada. Assunto para pensar...

Fechando, a consciência é única e nosso papel é desafiador! É imperativo estudar e se atualizar sempre!

 

Marilza Benevides

Consultoria Empresarial em Governança Corporativa e Compliance | Comitê de Ética e Programas de Integridade | Cultura Ética Organizacional | Instrutora Credenciada do IBGC

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Excelente artigo, Ana Gati, Dra e CCA, esperanos qur a questão da responsabilização legal aja mais para promover a adesão do que para fomentar a inércia em torno do tema.

Helenicy Lima

Conselheira Consultiva e Investidora | Conselheira Empresarial em Saúde | Relacionamento com Operadoras de Saúde e Odonto | Especialista e Beneficios e Riscos Empresárias | Co-Founder da Ecoinnovar.

1 a

Excelente artigo 🙏

Parabéns pelo belo artigo. Grato pela clareza e contribuição a esta causa, que requer tratamento imediato.

Anubis Rezende

International Partner at CMOE

1 a

Ana, ótimo artigo. A minha parca contribuição é que, li num artigo da Harvard que um carro elétrico não de luxo, só zera o carbono de sua produção após algo entre 28 e 68 mil milhas (50 a 100mil Km). Entretanto, por conta dos incentivos em diversos países, a maioria dos que podem acessar e usar um carro elétrico, o troca após 20 e 30mil milhas, em média 2 anos. Assim teríamos p.ex. que pensar em expandir geometricamente o transporte de massa. Há anos defendo que as empresas discutam POLÍTICAS para o país, usando a força criativa que gera lucro, eficácia, eficiência e efetividade para o negócio como forma de pensar (e exigir, cobrar) alternativas que beneficiem a todos. É de longevidade, rrentabilidade sustentada e qualidade de vida que estamos falando. Neste ano já ficou claro que, se não nos dedicarmos ética e diuturnamente à busca de soluções duradouras e coletivas, muito possivelmente não teremos a chance de deixar algum legado. Vamos ter que engoli-lo. Congrats mana!

João Prates

Gestão da Sucessão | Governança Familiar | Corporativa | Societária Desenvolvimento Individual | Famílias Empresárias | Empresas Familiares

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