ESPAÇO ILIMITADO PARA A ÁRVORE, NO SEU DIA.
ORAÇÃO DA ÁRVORE
De Silvio Luzardo, 21 de setembro de 1983,
Praça da Bandeira, Largo de Fátima, Cruz Alta-RS.
O Comandante do 29º GAC, Tenente Coronel Raimundo Craveiro de Souza planta mudas de ipê na frente do aquartelamento. O então Sargento e hoje professor de comunicação social, Silvio Luzardo recita este apólogo.
Apólogo (*). Técnica narrativa que dá vida para coisas inanimadas.
“Honra-me o homem de bem, que acima de seus interesses me protege. Cuida-me o cidadão zeloso, que além de suas atribuições, me valoriza. Resguarda-me a pessoa íntegra que, no âmago de sua compreensão, me aceita. Vela-me o que sabe do que sou capaz e do que posso promover em benefício do homem e da natureza.
De minhas raízes, de meu tronco, de meus galhos, de minha seiva, de minhas folhas, enfim, o homem tira o sustento e me utiliza nas necessidades vitais para a sua sobrevivência.
Mas, utilizando-se de mim demasiadamente, usufruindo desesperadamente de minha seiva, o homem aniquila a esperança de dias melhores, antecipa desastres naturais, promove voluntariamente alterações no meio-ambiente, provoca erosões, faz surgir desertos e áreas secas e estéreis, mata a flora em meu entorno e extermina a fauna que vive no meu habitat e depende de mim para sobreviver.
Sou, por isso, uma árvore vilipendiada por quem de mim dispõe através da força do braço, da omissão dos governantes, da cobiça dos homens de inteligência escassa, da fria engenhosidade das máquinas que devastam florestas inteiras, dos gases das indústrias e experimentos químicos que me sufocam e me atrofiam. Sou uma árvore que grita por socorro em muitas regiões do Brasil – santuários naturais do mundo – onde sou estuprada em pedaços. Sou uma árvore derrubada pelo descaso, abatida pelo abandono incompreensível e pela ingratidão desse homem desumano e predador.
Acuda-me, enquanto é tempo, o jovem estudante e seu ideal de justiça! Auxiliem-me os protetores da natureza! Ajudem-me as crianças com suas vozes cheias de vida! Plantem-me os que podem e sabem quanto posso ser útil e generosa! Protejam-me o homem que de mim precisam nos campos, nas cidades, nas várzeas, nas florestas, nos bosques, nas matas ciliares! Sou imprescindível e indispensável como o ar que se respira e que também de mim depende para se renovar! Plantem-me no coração dos homens embrutecidos pela selva densa da insensatez! Façam nascerem novas árvores em todos os recantos, a começar pelo coração! Eu fui, sou e permanecerei, se o homem assim o quiser, uma das únicas fontes inesgotáveis da vida e do equilíbrio que tanto o Planeta Terra e o Planeta Água precisam para gerar alimentos, conforto, progresso, desenvolvimento.
É preciso pensar assim, pois, sem mim, o homem também padecerá!...”