Espancamento e morte no Carrefour. O mercado reagiu à altura?
Pouca gente se deu conta que na sexta-feira, 20, as ações do Carrefour subiam na B3 enquanto rodava nas TVs e nas redes sociais o vídeo do espancamento de João Alberto Freitas, o Beto. Hoje, iniciam a semana em queda de mais de 5%.
Os papéis da varejista francesa fecharam o Dia da Consciência Negra em alta de 0,49%, mesmo com a Bolsa operando em queda, e colocaram na mesa mais uma questão: os investidores estão mesmo preocupados com a atuação das empresas ou só os resultados importam?
Como tem capital aberto, o Carrefour é avaliado também pelos critérios ESG, sigla para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança, aqui e nos 30 países em que atua. É também uma empresa associada ao Instituto Ethos, que defende negócios socialmente responsáveis. Mas parece que o parâmetro ESG só ficou no papel.
A varejista francesa coleciona críticas a ações discriminatórias contra negros no Brasil, e também na França e na África, como bem reportou Bruna Narcizo na Folha de S.Paulo, edições de sexta-feira e domingo.
Questionados sobre seus critérios ESG, gestores de corretoras e outros atores do mercado financeiro disseram à imprensa que iriam (agora) monitorar as explicações e ações do Carrefour para coibir ações violentas nas lojas e a reação da sociedade.
Só no sábado, 21, o CEO do Grupo Carrefour no Brasil, Noel Prioux, se pronunciou em comunicado na TV Globo, depois replicado na internet. Prioux considerou o caso uma tragédia e pediu desculpas à família. No mesmo vídeo, o vice-presidente de RH do grupo, João Senise, disse que a tragédia não representa os valores da empresa, que mais da metade dos colaboradores da empresa é composta de negros e negras, e que são necessárias mais ações concretas para fortalecer a cultura de diversidade da companhia. Por fim, Prioux assumiu o compromisso de combater o racismo estrutural. Será que vai mesmo?
Na dúvida, o Carrefour foi desligado por tempo indeterminado da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, projeto que reúne 73 organizações signatárias. E hoje, depois das manifestações populares que ocorreram contra a empresa desde sexta-feira, parece que os investidores acharam que o caso era grave o bastante, e as ações da rede já caíram 5,88%.
A violência do assassinato do Beto na loja de Porto Alegre na quinta, 19, enseja muitos questionamentos. Qual é a responsabilidade dos comunicadores de marca, dos guardiões da reputação das empresas, quando o mercado não enxerga a gravidade da situação? Pensem: o Conselho de Administração do Carrefour não se reuniu em caráter de emergência, o CEO só foi à TV no sábado e não disse se será revista a política de contratação das empresas de segurança, não acenou com a possibilidade de mexer nos critérios de escolha de fornecedores. Sim, há casos indefensáveis.
Não passa uma semana sem que se veja alguma empresa anunciando programas de inclusão e de diversidade. É bom, mas é pouco e precisa ser real. É fundamental que as empresas participem verdadeiramente das transformações que a sociedade exige, não existe democracia em um país racista. Todos nós temos nossa parcela de responsabilidade nesse processo.
Colaboradora do Diário do Comércio, da Associação Comercial de São Paulo
4 aParabéns ! Endosso! 😘