Especialistas serão suplantados por generalistas especiais
A dinâmica do mundo atual e aquela sem precedentes do futuro próximo, principalmente criada pela nova revolução industrial trazida pela tecnologia digital, a qual tudo pode romper barreiras e transformar modos de viver, está e estará acabando com profissões outrora soberanas, criando outras e desenvolvendo múltiplas adaptações.
Levando-se em conta a velocidade dessa transformação, já estamos vivenciando mudanças nos nossos ambientes de trabalho, assolados por tantas novidades e tecnologias e nem nos damos conta do quanto estamos distantes dos novos entrantes, sejam métodos, aparatos autômatos, softwares e interações artificiais.
A pergunta é: continuamos atualizados e usamos todo esse progresso para melhorarmos o mundo ao nosso redor (incluindo é claro, nossa empresa e os clientes conexos) e nossas atividades continuamente?
Presenciei nos últimos anos a crescente utilização da expressão “especialista”. Vejo os especialistas da qualidade, de processo, de compras, de logística e assim vai.
O que quer dizer isto?
Ao perguntar para inúmeros profissionais “especialistas”, as respostas sempre foram muito parecidas, pois indicavam que haviam estudado e se concentrado em temas correlatos ao título e ali se fecharam em conteúdo, sendo extremamente bons na matéria. Um componente interessante do ser muito bom num determinado tema é que você é capaz de responder às demandas e resolver problemas, uma vez que você é especialista. Contudo, tudo na vida tem um outro lado e esse vem com um agravante que poucos se preocupam: quanto mais você cava um poço, mais distante você fica da superfície. Em outras palavras, restrições de conhecimento começam a surgir para aqueles que se especializam numa matéria.
O grande tribuno Cícero já dizia "ipse se nihil scire id unum sciat"; o que todos conhecem como “só sei que nada sei”.
Se a transformação do mundo evoca novas necessidades e outras ainda inimagináveis, a especialização pode ser um grande inimigo do profissional, o qual vai ficando prisioneiro do seu saber, podendo se tornar inútil em frações de tempo.
Diversas profissões deixaram de existir nos últimos 10 anos, para não me alongar e outras também serão vagas lembranças até 2030. Algumas estão dando adeus neste exato momento e podem ser uma daquelas que você é especialista. Quem se lembra da telefonista? Qual foi a última vez que você encontrou um ascensorista ou conversou com um projetista de filmes no cinema? Os mais jovens não sabem o que é ou era um vendedor de enciclopédia. Tive um amigo na infância, cujo pai formou uma família vendendo enciclopédia Barsa e Mirador (Britânica).
Essas últimas foram para os mais saudosistas. Mas o que falar das ameaças a profissões mais do que tradicionais, como advogados e arquitetos? Softwares que podem ser comprados on-line levantam milhares de jurisprudências e casos semelhantes e são capazes de montar petições em segundos, o que demandaria dias de preparação e estudos por parte de advogados...Desenhos arquitetônicos e múltiplas disposições tridimensionais ruborizam os arquitetos de raiva, mas é uma tendência firme. Os especialistas em design de interior estão sendo engolidos por projetos instantâneos e multicoloridos, com possibilidades infinitas de arrumação e decoração! Pobre dos especialistas em injeção plástica e ferramenteiros de moldes, atingidos em cheio pela impressora 3-D! Para o pessoal da área financeira, pergunte a um gerente de banco como é difícil uma colocação no mercado tradicional...Quem ainda imagina um taxista em 2030? Carros elétricos autômatos chamados por aplicativos nos servirão para aonde quisermos ir.
Em paralelo a esses especialistas correm os generalistas especiais, que são aqueles profissionais que aprenderam a conviver com as inovações do progresso e suas consequências que moldam o padrão de consumo dos clientes, os quais são a razão de existência de qualquer modelo de negócios. Os generalistas especiais, ao compreenderam e assimilarem rapidamente os efeitos do progresso, buscam conhecimentos superiores e se preparam para multidisciplinas. O que outrora se obtinha com vários especialistas para se ter uma equipe multidisciplinar, busca-se através dos generalistas especiais o mesmo resultado.
Esses serão os profissionais mais bem remunerados no futuro, que não mais de tudo entenderão um pouco, mas sim de tudo entenderão o necessário para a contínua adequação de suas empresas para atender a demandas de um mercado em eterna mutação.
Parabéns pela reflexões Andre! Vêm de encontro a um artigo crítico de Ortega y Gasset, sobre a "barbárie do especialismo", onde o especialista ignora tudo o que não é a sua especialidade, ou aplica o mesmo tipo de raciocínio da área que domina nas demais. Os especialistas são muito importantes para progressos técnicos específicos, mas para grandes saltos na ciência (e negócios) é fundamental uma visão mais vasta, ancorada em amplos conhecimentos.