Esporte e Educação: Gestão do Desenvolvimento Pessoal

Esporte e Educação: Gestão do Desenvolvimento Pessoal

Apesar de esporte e educação serem complementares, na prática nem sempre andam juntos. Mas este cenário parece estar mudando: nunca se falou tanto em esporte nas empresas. E nunca se falou tanto em profissionalismo no esporte.

O desenvolvimento pessoal se volta hoje para os valores do esporte e é o foco central na conduta corporativa. Grandes empresas promovem palestras, treinamentos ou incentivam a prática esportiva entre seus colaboradores. CEOs viraram verdadeiros atletas. Em paralelo, os debates no esporte envolvem a postura dos atletas como marca, seu empreendedorismo e a forma como gerem suas carreiras e imagem para se tornarem exemplos.

Eu vivenciei os dois lados deste debate. Por isso resolvi escrever este artigo para apresentar um ponto de vista de dentro destes dois mundos com uma análise sobre todo este movimento e seus desafios.

Fui jogador de futebol por mais de 20 anos. Iniciei ainda criança e, após me profissionalizar, cheguei onde todo atleta gostaria: a Europa. Participei de alguns dos principais campeonatos do mundo ao lado de atletas de alto nível. Conheci diferentes países, pessoas e culturas, aprendi línguas e pude desfrutar de uma experiência que nenhuma outra atividade poderia me proporcionar com tal idade. Hoje, após a aposentadoria (cedo nesta área), sinto que terei sempre este legado intrínseco à minha conduta.

Quando atleta de base, era dos poucos que conseguia seguir com a prática esportiva comprometida e diária que os clubes exigem e ao mesmo tempo estudar profundamente visando o vestibular que se aproximava. Os deslocamentos eram grandes e os custos altos, e a minha persistência e comprometimento unidos com uma estrutura familiar de classe média e pais que valorizavam os dois lados desta moeda me deram o suporte que precisava.

Posteriormente, no início de minha vida corporativa, enquanto ainda jogava e alternava períodos de atividade esportiva e estágios em multinacionais, pude perceber que o que as empresas mais buscavam nos jovens candidatos a cada dinâmica de grupo era justamente tudo aquilo que o esporte havia me ensinado – era meu diferencial nestas seleções. Nas empresas em que trabalhei, com exceção do recente projeto olímpico Rio2016, observei pouquíssimos ex-atletas como profissionais em ambientes corporativos. O curioso é saber que, apesar destes dois universos serem tão valorizados juntos, eu sempre fui uma exceção.

Contrariando possibilidades e ultrapassando dificuldades, me formei em uma das melhores universidades do Brasil, a PUC-RJ. Fui aprovado em todas as opções nas quais prestei vestibular (algumas delas entre os 10 primeiros) e pude escolher o curso que gostaria – o esporte mais ajudou meu desempenho escolar do que atrapalhou. Na mesma época, também me tornei atleta profissional de futebol, com rotina de treinos cada vez mais intensos e viagens cada vez mais frequentes. Negociei com muitas regras pré-estabelecidas e tive que tomar decisões duras para não abrir mão da faculdade e nem da carreira corporativa para seguir a vida de atleta. Nenhum dos dois lados me facilitou ou forneceu alternativas prontas neste caminho. Tive que criá-las e abrir portas por conta própria.

A distância prática e estrutural de cada lado mais competiu entre si e me impôs barreiras do que convergiu e apoiou. O mérito foi muito mais meu – e é de quem também consegue equilibrar estes dois caminhos – do que do modelo educacional e esportivo existente. E esta é a grande questão! E mais, a opção de ter tentado este equilíbrio ao longo do trajeto em alguns momentos me fez abrir mão de muitas oportunidades – tanto corporativas, quanto esportivas. 

Como unir educação e esporte desde a base já que na ponta é o que é valorizado e exigido tanto de um bom profissional corporativo como de um bom atleta? Departamentos pessoais de empresas tentam incentivar a prática esportiva de seus colaboradores – mas e nas escolas e universidades? E nos clubes, o que está sendo feito neste sentido? Claro que o ditado “antes tarde do que nunca” vale para a maioria destes casos, porém seria muito mais importante, disruptivo e barato a atuação na formação do indivíduo na base, de modo que este futuro profissional chegasse muito mais maduro – seja nos clubes e (ou) corporações.

Até mesmo como business o esporte é valorizado no mundo corporativo, com patrocínios que geram resultados bastante positivos, como aumento de exposição e ganhos de marketshare. Mas poucos executivos têm uma visão esportiva para gerir uma marca neste segmento. O formato atual é de curto prazo com foco mais tático e em audiência e menos em estratégia e cultura de marca, demandando custos muito elevados e resultados piores do que aqueles que poderiam ser de fato atingidos.

Fiz parte de uma das primeiras turmas do MBA em Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan, a primeira universidade a promover este curso no Brasil. Hoje já é oferecido por instituições como PUC, Ibmec e Estácio – o que demonstra o crescimento de sua relevância.

Os clubes também buscam cada vez mais atletas com um nível intelectual elevado, já aptos a gerirem suas próprias carreiras, marcas e patrocínios e a representarem com responsabilidade a bandeira de uma instituição centenária e a de seu país nas competições internacionais.

A mudança já começou no exterior. A criação de universidades próprias pelos maiores clubes de futebol do mundo, como Barcelona, Real Madrid e o Manchester United (através da “classe de 92”) formam e capacitam todos os seus atletas (não somente futebol) com uma segunda carreira. Promovem ainda cursos à distância adaptados à sua rotina intensa de viagens e funcionam como uma incubadora de startups, convocando, financiando e aproximando as melhores ideias de novos negócios ao clube e muitas vezes aplicando em sua própria atividade. Outros exemplos vêm de países menores porém gigantes em sua forma de gerir o esporte, como Uruguai e Islândia. Ambos promoveram uma verdadeira revolução no futebol nos últimos anos capacitando treinadores e atletas e concentrando esforços no desenvolvimento do ser humano antes de tudo.

É necessária uma reflexão (e ação!) urgente sobre a atuação unida das estruturas educacional e esportiva para que esta integração realmente aconteça desde cedo e não seja exigida apenas na ponta. Este artigo pretende ser um incentivo às iniciativas que possam gerar esta construção do atleta-gestor e gestor-atleta, disseminando nas crianças e jovens desde cedo a educação empreendedora, a cultura e os valores olímpicos e paralímpicos da amizade, respeito, excelência, determinação, coragem, igualdade e inspiração.

Alexandre Cerdeira

Finance | Marketing | Management

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Obrigado Soares, você também faz parte desta história! Grande abraço!

Ivo Soares

Diretor Executivo | Negócios | Comercial | Projetos

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Oi Cerdeira, bom tema, bela história. Parabéns pela força e perseverança. Grande lição de vida e de força de vontade. 

Grande Alexandre, como está essa canhota? Abração

Rafael Volpi, Me. CFP®

Líder Sr Atendimento Investimentos

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Excelente artigo. Admirável a sua trajetória.

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