Esporte e política se misturam
Está na Constituição da República, artigo 217. "É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um". Se fomentar o esporte é dever do estado, é política pública. Acho que já está claro onde quero chegar.
O caso da concessão do Complexo Esportivo do Ibirapuera, que prevê a demolição ou o "retrofit" de uma série de equipamentos esportivos para darem lugar a edifícios comerciais, sob a desculpa de construção de uma arena multiuso, escancarou quanto o esporte depende de decisões políticas. E só há uma forma de influenciá-las: fazendo política.
Umas das últimas prioridades do estado, o esporte precisa da política para subesistir. Sem fazer política, sem se envolver politicamente, sem manter um diálogo constante com autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, o esporte será sempre preterido quando for confrontado com os interesses do "mercado". Porque ninguém diz que "mercado e política não se misturam".
Tomamos o oposto como verdade. O mercado está o tempo todo negociando com as instâncais de poder, tentando fazer sua vontade. Ao atleta, ao esporte, é relegado o papel de competir dentro do ginásio, da piscina, da pista, subir ao pódio se puder, ganhar sua medalha, e se contentar com isso. Enquanto isso, ao não fazer política, o atleta vê seu ginásio virar shopping, Sua piscina virar hotel e sua pista se transformar numa arena para shows.
Não estou aqui discutindo os aspectos da concessão, que entendo ser muito mal pensada. Mas, sim, que o esporte não só tem o direito, ele tem o dever de participar da vida política, de fazer política. Todos os atletas e dirigentes que se omitiram ao longo dos anos enquanto os equipamentos públicos iam sendo sucateados são responsáveis pelo cenário atual de destruição. E não só eles. Também todos aqueles que tentaram prender os esportes dentro de uma caixinha, sob amarras e mordaças, ao longo dos anos, sob a falácia de que esporte e política não se misturam.
Proprietário e editor do site Esportividade
4 aTiago Leifert dizia o contrário. Para o bem do jornalismo esportivo, ele saiu da área.