Estéreo
Semana passada eu estava ouvindo uma música com fones de ouvido. A música não era nada de mais, era "Lose yourself to dance" do Daft Punk, mas no meio da música há um momento que alguns sons ficam alternando no fone esquerdo e direito. Achei legal, gostei, me diverti com esta música. Lembrei de quando era criança e da primeira vez que ouvi uma música em um aparelho "estéreo" , e na época achei que isso era o máximo da alta tecnologia. Hoje em dia, aparelhos "estéreos", são tão banais, músicas que ficam "girando" da esquerda para a direita nos nossos ouvidos são tão comuns. Os equipamentos hoje tem "surround", que não se limitam mais a jogar o som da direita para a esquerda: os sons vão pra frente, pra trás, pra cima e pra baixo. Mas ouvir esta música do Daft Punk com um robô falando "c´mon c´mon c´mon" na esquerda e na direita me fez voltar no tempo, e foi bom.
Mas ao mesmo tempo me bateu uma tristeza muito grande. O fato de lembrar da primeira vez que ouvi uma música alternado os sons na direita e esquerda quando eu era criança, me fez lembrar do meu filho mais velho. Eu devia ter mais ou menos a idade que ele tem hoje, 10 anos. O Erik não ouve no ouvido direito. Já nasceu assim, e nos diagnósticos até agora não há esperanças de mudar isso. Como ele ouve muito bem no ouvido esquerdo, até agora nunca percebemos nenhuma dificuldade que ele tenha tido por causa disso. Quem o conhece e não sabe disso nem percebe a deficiência de audição. Então, a tristeza que me bateu foi por tomar a consciência de que a experiência que tive na infância, de ficar espantado com sons de uma música alternando no ouvido direito e esquerdo, ele não vai ter.
Tirei uma lição disso. A deficiência de audição do Erik em um ouvido até hoje não o atrapalhou em nada, ele tem uma vida totalmente normal. Não dá nem para comparar com pessoas que tem deficiências muito mais graves, que impedem de ter uma vida com o mínimo de normalidade, de familiares que precisam adaptar suas vidas para cuidar dessas pessoas, e tantas outras coisas. Nunca fui alheio a esses sofrimentos, mas agora entendo melhor. Mesmo de uma forma infinitamente menor, pude me colocar no lugar dessas pessoas. Esta foi a lição.
09 de junho de 2013
Obs.: Este não é um texto com "cara de |LinkedIn". É bem pessoal e importante pra mim. Gosto de repeti-lo com certa frequência, principalmente quando começo a querer cair na tentação de me lamentar.
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3 aDaft Punk é bom demais! :D