Estamos perdendo talentos...
Um dos temas com pauta prioritária na agenda dos RH é, sem dúvida, a retenção de talentos. Pessoas com potencial, com perfil adequado e que poderiam contribuir muito com o negócio, acabam deixando seus empregos atuais, nem sempre por uma proposta melhor.
Recentemente conversava com um executivo que desabafava sobre a perda de um jovem talento, na faixa dos 20 e poucos anos, que decidiu deixar a empresa. O empresário achou estupidez do rapaz que disse estar buscando por mais "qualidade de vida", e que a jornada de trabalho atual estava "pesada demais". Segundo o executivo, "nessa idade temos que aproveitar para ganhar dinheiro, e deixar para ter qualidade de vida quando se aposentar." Exatamente esse pensamento é o problema e a razão pela qual grandes talentos estão deixando seus locais de trabalho.
Não podemos achar que a solução é a oferta de uma jornada flexível, convênios com academias, atendimento psicológico e/ou "Day off" no dia do aniversário. Isso é só perfumaria. No final do dia, o que conta para que as pessoas desejem retornar para o trabalho no dia seguinte, vai muito além disso.
Estamos falando de relacionamentos, impacto emocional causado pelo ambiente, atividades e projetos com sentido e propósito e, por último mas não menos importante, uma liderança que inspira e conecta com o "eu do futuro". Vamos explorar a seguir com um pouco mais de detalhe cada um desses aspectos.
Relacionamentos: estamos cansados de ouvir o impacto dos relacionamentos em nossa vida. O estudo mais longo sobre longevidade já realizado, revela que as pessoas mais bem-sucedidas em seus relacionamentos durante a vida, além de mais felizes, também são as que vivem mais. Agora imagine você estar num ambiente em que você não gosta ou não tem afinidade com as pessoas que lá estão; ambiente esse em que você fica 8 horas do seu dia. Um ambiente em que você tem medo de falar e ser mal interpretado, e assim ser "cortado" das atividades de integração, happy hour, etc., sem falar no risco de ser "excluído" pela liderança que entende suas ideias e opiniões como críticas pessoais e te trata como "inimigo" e não parte da equipe. Você gostaria de estar num ambiente assim? Eu não!
Recomendados pelo LinkedIn
Impacto emocional causado pelo ambiente: se o ambiente de trabalho transmite incerteza, desconfiança e falta de transparência, isso gera impactos emocionais altamente negativos nas pessoas. Estamos falando de pessoas que vão trabalhar desmotivadas, com medo e desacreditadas do seu potencial. Neste cenário, é impossível você esperar grandes ideias, mais produtividade e engajamento com o trabalho. Sim, porque para aumentar o engajamento no trabalho, as pessoas também precisam de uma rede de apoio, precisam acreditar que aquilo que fazem contribuem para algo além de si mesmas e que possuem as qualidades necessárias para superar desafios. Se o ambiente não oferece essas condições mínimas, esperar que as pessoas dêem o seu melhor e ofereçam resultados além da curva, é como esperar que saia leite de pedra.
Atividades e projetos com sentido e propósito: não diga para os talentos "o que" e "como" devem ser as entregas. Explique para eles o "porquê". Talentos requerem certo grau de autonomia para demonstrar seu potencial, e tratá-los como simples "tarefeiros" só fará com que eles percebam que estão no lugar errado. Aqui cabe uma reflexão: muitas vezes nem as empresas sabem porque fazem o que fazem; simplesmente continuam fazendo porque "sempre foi assim". A falta de alinhamento com a estratégia e revisão periódica das atividades para excluir aquilo que não faz mais sentido, é fundamental para conectar propósitos. Se você não consegue explicar o "porquê", está na hora de rever o "o que".
Liderança que inspira: uma liderança que inspira e conecta com o "eu do futuro" é a cereja do bolo para reter talentos. As pessoas querem alguém para seguir, alguém que sejam melhores do que elas e que as inspirem a buscar sua própria superação. Agora imagine um líder que trabalha 12 horas por dia, não tem final de semana, não cuida da sua saúde e não tem tempo para família e relacionamentos pessoais, e só pensa em "ganhar dinheiro, aumentar o lucro" e quando se aposentar vai curtir a vida. Creio que essa seja a principal contribuição das gerações mais jovens para o mercado de trabalho. Esse perfil de "hard working" ficou no século passado. As pessoas querem desfrutar AGORA de qualidade de vida; querem equilibrar vida pessoal e trabalho AGORA e não quando se aposentarem. Essa é a distorção que está ocorrendo e, enquanto não mudarmos a forma de pensar e parar de querer impor o nosso padrão para os outros, vamos continuar sofrendo com a perda de grandes talentos.
Espero que este artigo te inspire a mudar a forma como sua empresa vem trabalhando e tratando as pessoas. As empresas ditas "humanizadas" são as que garantirão a sustentabilidade no longo prazo. Para mim, não faz sentido uma empresa existir se ela não for HUMANA.