Estrangeiros compraram R$ 92 bi em ações brasileiras este ano
Os investidores estrangeiros já aplicaram R$ 92 bilhões na compra de ações de empresas brasileiras em 2022, o que representa aumento de 120% em relação ao total aplicado em todo o ano passado, que ficou em R$ 42 bilhões. Esse volume inclui as compras em bolsa de valores (mercado secundário) e as operações de IPO (ações novas) e follow-ons (emissões subsequentes). Mantido esse ritmo, o movimento deste ano deverá ser novo recorde na participação dos estrangeiros na compra de ações de empresas brasileiras, superando o observado em 2009 (R$ 51 bilhões) e 2010 (R$ 46 bilhões). Os dados são da B3.
Ao contrário do registrado em 2002, a possibilidade de vitória do candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, parece não estar assustando os investidores estrangeiros. Tanto que mesmo após o primeiro turno das eleições presidenciais de domingo passado, quando Lula conseguiu mais votos nas urnas do que o presidente Bolsonaro, os estrangeiros continuaram comprando. Nos três primeiros dias úteis de outubro (até quarta-feira passada), os estrangeiros registraram saldo líquido de R$ 4,3 bilhões na bolsa (compras de R$ 3,059 trilhões e vendas de R$ 2,985 trilhões). Nesse período não houve compras no mercado primário (IPO e follow-on). Há 20 anos, quando Lula aparecia liderando as pesquisas o mercado registrava forte estresse e pressão de venda por parte dos estrangeiros.
A forte presença dos estrangeiros está compensando a baixa adesão dos investidores nacionais na compra de ações, especialmente do investidor individual. Segundo a B3, o investidor pessoa física tem movimentado cerca de R$ 4,45 bilhões na média diária, enquanto os estrangeiros negociam quase quatro vezes mais (R$ 15,6 bilhões). Esse ritmo já havia sido observado no ano passado e tem se repetido ao longo dos nove primeiros meses deste ano (ver gráfico).
As operações deste ano têm se concentrado basicamente no mercado secundário, já que houve pouquíssimas operações no mercado primário. Nos últimos três anos, ao contrário, a participação dos estrangeiros foi mais forte nas ofertas primárias realizadas pelas empresas, conforme pode ser visualizado no gráfico acima.
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O apetite dos investidores internacionais pela bolsa brasileira não tem sido observado no mercado de títulos soberanos, emitidos pelo governo brasileiro e negociados no exterior. O Tesouro Nacional tem um estoque de cerca de US$ 50 bilhões de papéis negociados no mercado secundário em moeda forte e os spreads/diferenciais de preços dos papéis brasileiros continuam muito acima do registrado por outros países.
Segundo a plataforma Word Government Bonds, especializada no acompanhamento desse mercado, entre os 30 países que mais negociam esses papéis no mercado internacional, o Brasil é o terceiro pior risco, só ficando em melhor avaliação do que a Rússia e a Turquia (veja ilustração abaixo). O indicador CDS do título de cinco anos (credit default swaps) está em torno de 242 pontos, enquanto o México está com pontuação de 173 pontos e a China 104 pontos. Por esse indicador, o risco de o Brasil entrar em default está em torno de 4,04% (12,63% para a Turquia).
Para atrair investidor, o Brasil tem de pagar um rendimento de 1.157 pontos acima dos títulos de igual prazo emitidos pelo governo japonês (11,57% ao ano). O Brasil paga taxas maiores até do que a Rússia, com diferencial de 178 pontos (1,78% ao ano).