Estratégia poética

100% privacy-friendly e 100% personalizado. É isso o que as pessoas querem para se deixarem seduzir pelas marcas. E agora?

Como as campanhas publicitárias sobreviverão ao fim do mundo com cookies de terceiros? A tragédia foi anunciada pelo Google e tem data marcada: 2023. Ela pode gerar uma quebra de até 60% na eficácia das campanhas e um prejuízo de quase 70% na receita dos publishers. Isso, se claro, todo o mundo não readequar toda a sua estratégia de mídia. A segmentação exclusivamente demográfica deverá ampliar seus tentáculos para outras fontes de dados (como contexto e grupos de afinidade), para início de conversa.

Inteligência emocional, deep learning e sabe-se lá mais o que para que aprendamos a desenvolver soluções que respeitem a privacidade do outro (do próximo, no caso porque isso é o mínimo que todos nós queremos: sentir nossa privacidade respeitada em primeiríssimo lugar. Certo? Será? Será que no fundo não queremos mesmo ser identificados, conhecidos e reconhecidos pelas marcas pelo tanto e pelo tudo o que somos? Nesse cenário, então, o que vem antes? O respeito ou o reconhecimento? Acima de tudo, a ilusão de sermos únicos.

A mim me parece um desafio e tanto (não só para o mercado). Meu palpite? Só a poesia salva. E, detesto dizer isso rs, não apenas em termos de conteúdo. Poesia na estratégia de mídia. Por que não? Tecnologia de ponta para que nos sintamos próximos, íntimos, respeitados e... Abertos ao novo. O que eu menos aceito nessa história toda é a ditadura dos algoritmos. Essa, que nos faz ficar eternamente presos ao próprio umbigo (e o que acontece com o tão batido “pensar fora da caixa”?), jamais expostos ao novo, olhando apenas para o que já estamos acostumados, de nos colocar sob outros ângulos e perspectivas, podados infinitamente da possibilidade de crescer. Mas, não se esqueça, eu exijo privacidade (ou “a sensação de”? Quem sabe o quanto tudo vale a pena?), faço questão absoluta de ser especial, e, por favor, me surpreenda. 

Sim, é claro, (X) eu aceito me expor ao diverso.

(Samara Sieber, depois de um heartstorming* com o time da Spark’s Brain)

*heartstorming: substantivo genderless, técnica de brainstorming com todos os sentidos aguçados. Aquele que faz o coração bater mais forte.

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