ESTRATÉGIAS AUTOPREJUDICIAIS NA AGRICULTURA BRASILEIRA - Afonso Peche Filho*
As estratégias autoprejudiciais são conjuntos de ações, pressupostos ou mesmo declarações verbais que tem como finalidade interferir negativamente no desenvolvimento de uma propriedade agrícola. Geralmente essas estratégias são utilizadas em função da dificuldade que o agricultor teve em realizar determinada operação ou mesmo executar uma diretriz de manejo. Tem aqueles que até se consideram incapazes de mudar, a fim de proteger sua autoestima. Os agricultores que geralmente utilizam dessas estratégias possuem crenças frágeis frente a sua capacidade de sucesso na realização de uma atividade agrícola. Apesar de todo avanço tecnológico que leva ao sucesso produtivo, a gestão tecnológica em muitas propriedades brasileiras é arcaica prejudicando a capacidade produtiva das terras, colocando em risco a rentabilidade. Não é difícil encontrar uma máquina de ultima geração produzindo resultados negativos. É comum encontrar áreas irrigadas com processos erosivos avançados pelo uso excessivo de água. Na pecuária tem-se uma convivência passiva entre a alta genética e a degradação das pastagens. Muitas são as áreas com sistemas agroflorestais instalados de morro abaixo.
Uma analise expedita na propriedade agrícola ou no momento das operações mostra facilmente resultados contundentes das estratégias autoprejudiciais mais utilizadas pelos agricultores. Uma grande dificuldade é que não praticamos efetivamente uma assistência técnica e nem um modelo de extensão que encare esse desafio de frente. Infelizmente só o tempo vai corrigir esse problema da agricultura brasileira.
A lista abaixo mostra algumas das muitas estratégias autoprejudiciais que facilmente podemos encontrar nas propriedades agrícolas do Brasil:
- aquisição e uso de fertilizantes sem realizar análise de solo.
- aplicação de corretivos e fertilizantes a lanço sem regulagem adequada e sem monitoramento da qualidade na uniformidade e regularidade de deposição.
- revolvimento profundo do solo antecedendo períodos de chuvas intensas.
- exposição do solo em períodos de sol intenso.
- escarificação/subsolagem cruzada.
- mobilização do solo morro abaixo.
- eliminação de práticas conservacionistas.
- pouca manutenção de práticas conservacionista.
- semeadura /plantio morro abaixo.
- semeadura cortando terraços
- semeadura com fertilizante químico misturado com a semente.
- escolha de cultivares suscetíveis à nematoides.
- pulverização sem conferencia de vazão, produtos inadequados, não uso de adjuvante.
- colheita sem monitoramento de perdas.
- falhas grotescas no armazenamento.
- altas perdas no transporte.
* Pesquisador científico de Instituto Agronômico de Campinas - IAC
Engenheiro Agrônomo de Desenvolvimento de Mercado
4 aLucas Ryuichi Muraoka
Especialista de Manejo de Doença em cana de açúcar e em Conservação de solo
4 aBom dia, Prof. Afonso, se me permite, acrescentar na sua lista, muito bem enumerada, porem existe no campo,alem da eliminação de práticas conservacionistas e pouca manutenção de práticas conservacionista, entre uma e outra, verificamos também falhas grotescas no execução, na elaboração e construção das praticas conservacionista no campo, sem qualquer responsabilidade por parte de quem executa; não sei se é por falta de conhecimento técnico ou simplesmente má vontade de fazer ,bem feito.
Senior Analist at the Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa)
4 aPrezado Afonso, bom dia!!!! Primeiramente, concordo em todos os aspectos colocados pelo amigo e digo mais, estratégias autoprejudiciais adotadas pelos nossos agricultores é mais uma sistemática de defesa frente a incapacidade de acesso as inovações tecnológicas. Mas isso se dá por um desajuste imenso do nosso sistema de Assistência Técnica e de Extensão Rural, morto à décadas atrás e absolutamente incapaz de se recuperar. O que hoje é praticado de Assistência Técnica, é de certa forma impositiva, além de ser determinada pelas empresas que produzem e comercializam ativos tecnológicos e que precisam de maneira cada vez mais agressiva, vendê-los. Na década de 90, trabalhei em um projeto do PNUD das Nações unidas, no Ministério da Agricultura, que se chamava Novas Fronteiras da Cooperação. O modelo metodológico adotado era calcado em três pilares: Monitoramento de Rebanho, Sistema de Avaliação Tecnológica - SAT (Boas Práticas) e a Assistência Técnica Personalizada a Grupo de Produtores. O segredo estava neste último, pois praticávamos uma ASTER aonde o conhecimento empírico (estratégias autoprejudiciais) eram aliadas do conhecimento científico e vice-versa. Vale à pena um papo mais longo sobre isso. Abração.
Agricultura conservacionista, otimização da mecanização e avaliação da estrutura do solo. Sócio da Agritel Telemetria Agrícola (agritel.com.br)
4 aBoa contribuição caro Afonso. Obrigado. Não se pode simplificar o que é complexo.
Gerente Técnico at Sistema Famasul
4 aMuito interessante!!