Estratégias de Saúde Digital : Investimentos e políticas no Brasil e no mundo
Definição de saúde digital
A definição da saúde digital é ainda um tema em constante discussão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, a saúde digital compreende o uso de recursos de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) para produzir e disponibilizar informações confiáveis sobre o estado de saúde para pacientes, profissionais de saúde e gestores. O termo saúde digital incorpora os mais recentes avanços na tecnologia, como novos conceitos e aplicações de redes sociais, Internet das Coisas Médicas (IomT), Inteligência Artificial (IA), e Medicina Personalizada.
Saúde digital como estratégia das organizações e governos
Considerando o papel crítico no setor privado, na sociedade civil e comunidades técnicas, a Assembleia Geral das Nações Unidas na resolução 73/218 (2019) encoraja a cooperação contínua entre os stakeholders de países desenvolvidos e em desenvolvimento para o desenvolvimento de estratégias que contribuam para o crescimento da área de saúde digital com equidade.
Com o reconhecimento de que as TICs apresentam novas oportunidades e desafios para o alcance de todos os 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável, existe um verdadeiro consenso de que o uso das tecnologias digitais na saúde poderá garantir que mais de 1 bilhão de pessoas possam ter acesso a cobertura universal da saúde, mais de 1 bilhão possam estar protegidos em caso de emergências, e que 1 bilhão de pessoas possam desfrutar de um real estado de saúde e bem estar (WHO triple billion targets).
No Brasil, o Ministério da Saúde vem empregando cada vez mais as TICs como forma de melhorar os serviços de informação e assistência aos cidadãos, em conformidade com a Estratégia de Saúde Digital Brasil lançada em meio a pandemia em 2020 (estratégia saúde digital Brasil). Dessa política, surgiram já algumas iniciativas importantes do ponto de vista educacional, tecnológico e assistencial.
Por exemplo, a Universidade Federal de Goiás lançou em parceria com o Programa Conecte SUS, o Programa Educacional em Saúde Digital da UFG, destinado para:
• Profissionais de saúde e profissionais da tecnologia da informação interessados na área;
• Profissionais de instituições de saúde interessados pelo tema, tais como: gestores, administradores e usuários de sistemas;
• Gestores públicos que buscam novos conhecimentos e soluções de tecnologia da informação na saúde;
• Demais profissionais interessados/indicados pela tecnologia da informação em saúde.
O programa foi iniciado com uma tríade de micro cursos com enfoque nos conceitos da Saúde Digital, na RNDS e na segurança e ética no compartilhamento de dados pessoais de saúde. Além disso, programas específicos de inovação em saúde, e investimentos em interoperabilidade entre sistemas têm sido observados nessa estratégia nacional, com avanços nos últimos 2 anos.
Uma das dificuldades encontradas na aceleração do processo de transformação digital dos estabelecimentos de saúde do SUS é a carência de infraestrutura mínima para a instalação de sistemas de prontuário eletrônico e indisponibilidade de conexão com a internet.
Para superar isso, o Ministério da Saúde e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações firmaram uma parceria para informatizar e estruturar adequadamente as unidades de saúde das Equipes de Saúde da Família (ESFs). Foram conectadas já mais de 70% das unidades desde outubro de 2020, chegando a mais da metade do objetivo este ano.
Recentemente, em janeiro de 2023, foi criada a Secretaria de Saúde Digital no Ministério da Saúde, sob o comando da Ana Estela Haddad. Como prioridade, está a continuidade de programas como a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), a ampliação do uso da Telessaúde e a criação de regulação para inovação além da inclusão da saúde digital nas grades curriculares das universidades.
A pasta será composta, até o momento, por três departamentos: Departamento de Saúde Digital e Inovação, Departamento de Informação para o Sistema Único de Saúde (Datasus) e Departamento de Avaliação e Disseminação de Informações Estratégicas em Saúde.
Com todas essas ações, vemos que a Saúde Digital faz parte do core estratégico do Ministério da Saúde, e será um ponto de diferenciação estratégica também no setor privado.
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Níveis de investimento em saúde digital no Brasil e no mundo e impacto na economia
Países desenvolvidos têm feito investimentos mais significativos na área da saúde digital. Desde 2001, o Canadá investiu mais de 2 bilhões de dólares no programa chamado "Health Infoway", envolvendo telessaúde, sistemas de informação de medicamentos, diagnóstico por imagem, e prontuários eletrônicos (Green 2017).
A Corea pretende investir mais de 100 milhões de dólares em prontuários eletrônicos, e nas simplificações e melhorias administrativas nos próximos 2 anos (International Trade Administration 2016). A Dinamarca investiu aproximadamente 1% da verba relacionada a saúde na área da saúde digital, levando a economias entre 330 e 490 milhões (Denmark 2013).
No Brasil, uma pesquisa da Sling Hub aponta que as 1158 startups de saúde nacionais acabaram 2021 movimentando aproximadamente 1,8 bilhão de reais. No relatório State of Digital Health, o ranking latino-americano de investimentos fornece informações referentes ao quarto trimestre do ano. Cinco empresas brasileiras se destacam:
· Em 1º a Bionexo, que obteve da Bain Capital investimentos de 81 milhões de dólares de private equity.
· A Sami em 2º lugar, ao conseguirem 19 milhões de dólares investimentos na rodada de Serie B. O valor é obtido através da participação de diversos investidores e representa 16.8% dos fundos totais.
· Em 3º lugar, está a Klivo, com 8 milhões de investimentos obtidos na rodada de Serie A. O que representa 6.9% de seus fundos totais.
· O 4º pertence a Vitalk, com 4 milhões de dólares obtidos em investimentos de rodada Série A.
· Ocupando a 5ª posição, está a SleepUp. Com $0.4 milhões de investimentos, representando 0.3% de seus fundos totais.
Quando avaliamos esses números, precisamos entender a repercussão disso na prática, e na melhoria da qualidade de vida e do nível de saúde da população, além de estimar as economias de recursos que podemos ter com o uso da tecnologia.
Os estudos relacionados aos impactos econômicos da saúde digital ainda são escassos. No Brasil, temos poucos dados relacionados a esse tema.
Contudo, uma revisão sistemática recente conduzida em países desenvolvidos e em desenvolvimento, revelou economia de recursos e melhora da relação custo efetividade após a implementação de estratégias de saúde digital.
Esse mesmo trabalho identificou alguns gaps para interpretação dessas evidências em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, devido, por exemplo, a falta de dados detalhados desses programas.
Fazer parte do ecossistema da saúde digital é uma opção ou uma necessidade?
Com os dados relacionados aos investimentos realizados na área de saúde digital pelos governos ao redor do mundo e pelo setor privado, não temos dúvida que a transformação digital na saúde está a pleno vapor. Portanto, estar fora desse ambiente significa futuramente estar fora do mercado da saúde.
Isso se justifica por dois fatores essenciais: relação cliente x fornecedor e custo x eficiência operacional. Quem não conseguir se adequar a esse novo mundo, terá grande dificuldades em lidar com a evolução desse mercado.
Já é sabido que quase metade dos pacientes refere trocar de profissional de saúde ou de instituição no caso da não disponibilização de recursos tecnológicos adequados para autosserviços e/ou autocuidado. Isso envolve diretamente a criação de uma porta de entrada digital adequada para os usuários, mantendo uma experiência fluida, sem atritos. Além disso, os serviços que envolvem o monitoramento de saúde e a assistência direta através de ferramentas de saúde digital, também tem sido bastante demandado tanto por pacientes como por profissionais de saúde.
Nesse cenário de mudanças do setor de saúde, será necessário para os profissionais e para as instituições um rápido desenvolvimento na área da saúde digital, para fornecer aos pacientes uma porta de entrada digital adequada, unindo uma boa experiência a segurança e eficácia. Portanto, para que esse movimento seja assertivo, uma governança adequada em saúde digital, ou a contratação de serviço de consultoria para dar os primeiros passos, pode ser uma solução viável na criação e execução de uma estratégia bem-sucedida de saúde digital na organização.
Gestor, Educador e Pesquisador na grande Área Saúde
1 aSensacional... certeiro...👍🏼👏🏼👏🏼🌹
Senior IT Medical Manager | Health Informatics | Digital Transformation | Product | Innovation | Speaker
1 aSempre cirúrgico nos temas!