Estudo publicado mostra que 54% dos jovens concluem o ensino médio até 19 anos. Isso não significa melhora. São apenas números!
É impressionante a capacidade de nossa mídia em valorizar pesquisas e seus resultados em relação à educação brasileira.
Não sei se é por força da minha formação profissional, mas sempre que me deparo com notícias e estudos desta natureza, enxergo com olhos de gestor e faço a seguinte pergunta: O que isto importa para mim?
Sabem o que significa para mim termos um aumento no índice de jovens que concluem o ensino médio no Brasil? Nada! Apenas a grande ineficiência quantitativa.
Vamos observar o seguinte: O que importa esta quantidade se levarmos em conta outro estudo, publicado pelo Portal Estadão em 2012, onde mostra que no ensino superior, apenas 38% dos alunos sabem ler e escrever plenamente?
Considere ainda o fato de que um enorme percentual destes 54% não avançam para o ensino superior (muitos por pura falta de condições de acessibilidade financeira ou familiar) e, portanto, de cada 100 que avançam, 38 universitários não aprenderam a ler e compreender plenamente um simples texto.
Na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo, tivemos a oportunidade de fazer parte de um renomado grupo de pessoas da área educacional, que ajudou a construir, elaborar e aprovar a lei do PME –Plano Municipal de Educação, válido até 2025.
Este trabalho durou quase dois anos entre leituras, discussões e rodadas de decisões voltadas exclusivamente para projetar uma lei de politica pública educacional, não vinculada a um mandatário, mas a uma melhora na resposta social da educação naquele município.
Pois bem, o que mais me chamou a atenção, dentre tantas discussões, foi o fato de as universidades locais terem criado “cursos de adaptação” para os novos alunos, ou seja, da forma com que estes novos alunos chegavam à instituição, não era possível iniciar as matérias básicas dos currículos da escola.
Pergunto novamente: Onde está o erro? Está na necessidade de publicar estudos como este que mostra quantidade e não qualidade? Não sei ao certo, apenas não concordo.
No estado de São Paulo, assim como em tantos outros estados brasileiros, normalmente um aluno não é reprovado, já que existe uma tal de “progressão”, ou seja, o estudante de ensino médio ou profissionalizante passa para o próximo ano letivo, mesmo não sabendo ler, escrever ou fazer operações básicas de matemática.
Lembro que certa vez, sendo professor contratado para lecionar matérias junto ao PRONATEC (aquele programa que distribuiu camisetas e vale-lanches mas esqueceu de priorizar a profissionalização), compareci aos habituais conselhos de classes e fui questionado pelo coordenador do curso, porque estaria eu reprovando uma aluna que compareceu menos de 40% nas aulas em um dos meus cursos, sem qualquer justificativa.
Recusei-me, evidentemente, mesmo ouvindo um belo discurso, a atribuir “presenças” para que ela pudesse progredir de ano, mas infelizmente, um dos meus colegas o fez. Sabem qual o resultado? Esta aluna saiu com um certificado de uma matéria que não cursou!
Será ela uma boa profissional com formação técnica adequada? Claro que não, e o mercado aqui fora é desafiador por natureza em épocas de “vacas gordas”, imaginem agora com as “vacas magras”.
Para mim, não há o que se discutir. Não me parece sábio alimentar estatísticas sem objetivar um resultado, tampouco não questionar claramente ou, pelo menos identificar o quão de conhecimento foi apreendido por aqueles 54% que concluíram o ensino médio.
Prefiro metade com conhecimento, que o resto analfabeto!
Luciano Malpelli
Administrador de Empresas e Consultor Empresarial