Eu adubo. Tu adubas. Nós adubamos.

Olá. Meu nome é Francine Lima. Aos 21 anos de idade eu me formei na faculdade de jornalismo com um TCC sobre escolhas alimentares, chamado Comendo de Mentirinha. Foi quando eu decidi que seria o tipo de jornalista que escreve para provocar reflexão, autocrítica, aprendizado e mudança de comportamento, especialmente em prol da saúde. Então foi disso que eu corri atrás. Até os 30 eu fui repórter e redatora freelancer, querendo um dia ser colunista. Aos 32 eu fui colunista, querendo um dia ser especialista. Depois dos 35, já cuspida do mercado de trabalho, fiz um mestrado, lancei um canal no youtube, fiquei quase famosa e dei entrevistas à imprensa como especialista.

Por um tempo eu me senti uma espécie de super-heroína com a missão de salvar o mundo do marketing de alimentos enganoso, dos rótulos cheios de pegadinhas, das escolhas alimentares mal informadas e maléficas pra saúde e pro planeta. Os milhares de likes, comentários elogiosos e depoimentos sobre mudanças de comportamento que eu recebia me estimulavam a acreditar nisso. Só que eu era uma heroína sem superpoderes, sem patrocinadores, sem rede de apoio concreta. Os agradecimentos e os parabéns me mantinham motivada, mas não pagavam minhas contas, não traziam recursos pra continuar o trabalho e não me protegiam dos riscos que eu estava encarando sozinha.

Enquanto eu tive motivação pra sustentar meu heroísmo corajoso quase somente com recursos próprios, com uma pequena ajuda de poucas pessoas, mas sem equipe, eu felizmente consegui impactar a vida de muita gente. Foi muito gratificante saber que meu conhecimento e minha criatividade contribuíram pra espalhar conhecimento, gerar discernimento e melhorar a tomada de decisão de tantos compatriotas.

Saio dessa experiência tendo aprendido, dolorosamente, que nenhum heroísmo solitário se sustenta. As grandes transformações que desejamos para o mundo só são possíveis por meio de um entrelaçamento de desejos, ideias e ações movidas por muita gente ao longo do tempo, com algum grau de participação colaborativa daquele que temporariamente consideramos o "inimigo". Não sem muito custo, entendi que a guerra nem sempre é a melhor estratégia para vencer, especialmente quando se está do lado mais fraco.

Ainda assim, acho que posso dizer que a missão que escolhi na juventude foi cumprida, com a participação indispensável do público, meu grande motivador, a quem devo gratidão imensa. E, como na natureza nada dura para sempre e tudo se transforma, o adeus deve fazer parte do plano. As sementes do canal Do campo à mesa foram plantadas, brotaram, depois deram origem a alguns frutos, depois folhas caíram, galhos secaram. Podemos celebrar o fim desse ciclo de vida. O que nos resta agora é adubo. Um adubo composto de muito aprendizado, que espero que possa ser útil para nutrir outros projetos.

Nos últimos anos, os vídeos do canal foram sendo aos poucos tirados do ar. A maioria já não está disponível para o público. Alguns viraram portfólio, que apresento seletivamente a quem tem interesse em conhecer o que já fiz. O site saiu do ar na semana passada, definitivamente.

O projeto morreu, mas eu pretendo renascer, num outro terreno, quiçá ainda aos 43 numa floresta rica em biodiversidade e fertilidade. Aguardemos o que o universo tem pra mim.

Enquanto isso, experimento uma ideia nova via @frutifera.content, na intenção de usar um pouco do meu adubo para ajudar nutricionistas, médicos, personal trainers e outros profissionais e organizações que trabalham com promoção da saúde a gerar novos conteúdos que nutram ciclos virtuosos. Para quem precisa de jornalista especializada em criar conteúdos e projetos editoriais para esse fim, também sou acessível aqui no LinkedIn.

Seja o que a Mãe Natureza quiser.