Eu deveria desistir da publicidade
“Publicidade é só glamour“. Ouvi isso por anos e anos, até entrar no mercado de trabalho.
Quem bate ponto e trabalha exatamente 8 horas por dia pode se considerar uma pessoa de sorte. Isso é puro luxo. Talvez, qualidade de vida. Não tem frustração maior do que acordar todos os dias e poder planejar coisas para nosso cliente, se às vezes, a gente não consegue nem planejar a nossa própria vida. E aí criativo, cadê aquela ideia brilhante que você teve? Sim, porque tudo o que o cliente quer é uma ideia nova, todos os dias. E que a tendência, seja ela se superar ainda mais.
Jantar na sexta-feira a noite? Esquece. Quem é que nunca ouviu falar do famoso job que entra às 18h para a criação? Não é atoa que tudo acaba em pizza, até na agência. Existem alguns publicitários que levam trabalho pra casa, porque afinal, um trabalho que envolve criação, planejamento e raramente matemática, é fácil,vai? Nem deve ser considerado como trabalho.
Falando nisso, existem diversos departamentos em uma agência de publicidade, e um deles é da área de social media. “ah, mas ficar no Facebook/Twitter/Instagram/YouTube? sério que isso é trabalho? Eles te pagam pra isso?” Tem também aqueles que “desenham” o dia inteiro. E isso é a coisa mais fácil do mundo, não é só desenhar?
Mas claro que uma grande ideia deve caminhar lado a lado com resultados. Muitos ganhos, poucos investimentos. Ou talvez essa coisa de investir seja uma “bobagem”. Uma grande ideia deve ser uma grande ideia e independe do investimento. Existem pessoas que pensam dessa forma.
Mas uma das piores coisas dentro do mercado é ficar transitando de uma agência para outra. No tempo da minha vó, tinham pessoas que ganhavam prêmios e bonificações por tempo de “casa”. Como explicar que “eu não paro em lugar algum”? Ela vai me achar uma péssima profissional, além de achar que publicidade só engana as pessoas, claro.
Agência nova. Pessoas novas. Trabalho novo. Uma nova mesa. Novos clientes. Novos desafios. Mas exatamente os mesmos problemas. Frustrações. Angústias. Noites mal dormidas. E no final de tudo, a gente ainda tem que ter nossa vida social. Séries para colocar em dia. Tarefas de casa e contas, claro.
Talvez se estudasse e passasse num concurso… ou se fizesse Direito ou até mesmo Engenharia e trabalhasse em um escritório eu teria a vida mais estável.
Eu devia desistir disso tudo. Desse mercado que me consome.
Qual a vantagem de tudo isso?
O que nos move são os desafios. A quebra de regras. As discussões e a defesa com unhas e dentes de que a campanha será a mudança geral do seu negócio. Ser publicitário é ser um contador de histórias. Persuasivo. Insistente. E que não se importa com tudo isso que acabei de escrever. Mas também não deixa de reclamar de tudo isso que acabei de escrever.
Seja na publicidade. Seja no seu dia. Seja na sua rotina. Desafie-se. Quebre regras. Seja um contador de histórias. Ou como diz o Rafael Martins, seja um “fazedor de coisas”.
Texto originalmente publicado em Filés do Ofício