Eu estava lá e participei
Eu estava lá e participei (com informação actualizada em Dezembro de 2019)
Prof. Carlos Varela Luc prof.carlosvl@gmail.com
Em Portugal, entre 28 de Maio de 1926 e 25 de Abril de 1974, vigorou o denominado Estado Novo, regime de partido único, austero, baseado numa polícia política, que governou um país pobre e atrasado que recusava qualquer "conversa" com os movimentos independentistas dos territórios que, então, integravam o Império Colonial Português, apesar das recomendações da ONU e dos "ventos" de emancipação que varriam África.
1. No dia 25 de Abril de 1974 houve um "levantamento" militar, que ficou para a história como a "Revolução dos Cravos", que provocou a queda do regime, criou condições para introduzir a democracia, formar partidos políticos de diversas ideologias e acabar com a guerra ultramarina o que proporcionou a autodeterminação dos territórios ultramarinos, antes colónias, que integravam o território do "Portugal Colonial".
Na sequência da "revolução" foram criados vários partidos políticos e eu, então, um jovem de 25 anos, cheio de sonhos e muita vontade de intervir, integrei-me numa das novas formações, o que me permitiu participar em vários "episódios" da independência daqueles novos países, então integrantes do Império Colonial Português, e melhor conhecer a sua história, as motivações, as necessidades, os recursos, a organização e planos de desenvolvimento político, social, económico e cultural que tinham. Tive oportunidade de conhecer líderes históricos da autodeterminação, alguns dos quais, ainda hoje, se encontram em posições de destaque nos seus países, como políticos, governantes, embaixadores, altos quadros de instituições bancárias e de organismos públicos, empresários, etc., outros conheci depois na sequência de negócios (países da diáspora portuguesa) e, mais recentemente, alguns por via das redes sociais.
2. Portugal apresentou candidatura a membro permanente da União Europeia no dia 28 de Março de 1977 e ingressou na comunidade em 1 de Janeiro de 1986. Em 12 de Junho de 1985 foi assinado, em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, a adesão de Portugal à CEE – Comunidade Económica Europeia. Na mesma data Espanha também concretiza a sua adesão. 3º alargamento da CEE. Eu estava lá e participei de alguns actos integrado na representação de Portugal.
A UE – União Europeia, nasce com base na CEE – Comunidade Económica Europeia, criada pelo Tratado de Roma em 1957 (vigorou a partir de 1958), com origem na CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, fundada em Paris em 1951, e é uma comunidade política e económica actualmente constituída por 28 países soberanos, com uma população de aproximadamente 600 milhões de habitantes. O Tratado de Maastricht instituiu a União Europeia com o nome atual em 1993 (entrou em vigor em 1Novembro) e também lançou bases para a criação da moeda única europeia, inicialmente designada como ECU / European Currency Unit ou Unidade de Conta Europeia (1ECU=200,482 escudos portugueses).
Hoje Portugal é um país moderno, desenvolvido, política, social e económicamente estável onde se vive uma democracia pluralista apesar de alguns tropeções na esfera política que conduziram a uma recente intervenção do BEI-Banco Europeu de Investimento, do FMI-Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia (entre 2011 e 2014) cujo resgate foi realizado e concluída a intervenção (17Maio de 2014). Portugal dispõe de diversos apoios à iniciativa privada com fundos disponíveis, a fiscalidade vigente é moderada e a burocracia tem vindo a reduzir-se por via da pressão política da União Europeia pressionando o governo a introduzir regras de simplificação.
3. Os países CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Em 1983, o Dr. Jaime Gama, à altura Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, aquando de uma visita oficial a Cabo Verde, numa das suas intervenções lançou a ideia de criação de uma comunidade de povos partilhantes da língua portuguesa. O então Embaixador do Brasil, em Portugal, Dr. José Aparecido de Oliveira, abraçou a proposta e empenhou-se em materializá-la.
Os Ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores, dos "sete", reunidos, em Junho de 1995, em Lisboa, acordaram recomendar aos seus respectivos governos uma Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, que se realizaria em 17 de Julho de 1996,com participação de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe , que marcou a criação da CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa, foi proclamada a Declaração Constitutiva e aprovados os Estatutos da CPLP, versão original.(Rev2007).
Timor-Leste, após a independência, também integrou a CPLP em 20 de Maio de 20012. A Guiné Equatorial, tornou-se o nono país membro permanente em 2014.
Eu vivi e acompanhei estes acontecimentos, integrado no sistema.
São mercados considerados difíceis onde não é fácil entrar pelo que a abordagem usualmente utilizada – enviar um comercial, bom conhecedor do produto, para "desbravar" terreno – dificilmente produz resultados condizentes com o investimento (custos com preparativos – vacinas, seguros, documentação – salário, viagens e deslocações e estadia).
Conhecimento dos territórios, da história e antropologia, da cultura, usos e costumes dos países em foco e alguns relacionamentos pessoais constituem uma excelente ajuda. Construir uma rede que possa ancorar as operações no território é essencial já que sem ela poderão acontecer diversos imprevistos cujos custos não são previsíveis nem mensuráveis quando se faz um planeamento de "conquista" destes mercados.
Abrangência total da CPLP:
África: 38 países c/ cerca de 670 milhões de consumidores
América: 10 países c/ cerca de 400 milhões de consumidores (inclui Brasil e Mercosul)
Ásia: 11 países com cerca de 625 milhões de consumidores
Europa: 28 países com cerca de 600 milhões de consumidores (Portugal e União Europeia)
A CPLP reúne nove países-membros, que têm o português como língua oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial.
Além dos membros plenos e efetivos, a CPLP tem 19 observadores associados: Andorra, Argentina, Chile, Eslováquia, França, Geórgia, Hungria, Japão, Itália, Luxemburgo, Ilhas Maurício, Namíbia, Reino Unido, Senegal, Sérvia, República Tcheca, Turquia, Uruguai e a Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura.
Para análise, em 2020, na reunião na Cimeira de Chefes de Estado e Governo, que terá lugar em Luanda, Angola, no próximo ano, serão avaliadas as candidaturas de adesão, como membros associados, dos Estados Unidos da América, da Costa do Marfim, Roménia, Qatar e Peru, informação do Embaixador Francisco Ribeiro Telles, Secretário Executivo da CPLP, o que, na sua opinião reflecte a importância politico-estratégica dos países de língua portuguesa reunidos na CPLP.
Foram anos de enriquecimento do conhecimento que, hoje, me é útil no desenvolvimento dos projectos a que me proponho. Tive a sorte de viver, "por dentro", experiências únicas em momentos históricos, em cenários políticos, sociais e económicos de excepção.
Saí de Portugal, após me aposentar, para me fixar no Brasil, em Novembro de 2009, desejo acalentado há várias décadas por via da minha ancestralidade (avô materno natural de Manaus-Amazónia).
Prof. Carlos Varela Luc*, PhD
* Director-Presidente da RIGOR – Educação e Desenvolvimento Empresarial
(Diplomacia Empresarial // Negócios Internacionais)