Eu sou produtora de conteúdo no Youtube.

Há dois anos e meio, eu pedi as contas do meu trabalho.Tinha ali comigo uma serie de questões e decidi dar adeus a uma etapa bem importante da minha jornada profissional. Depois de ter vivido a experiência da pesquisa na universidade por oito anos, ter atuado naquela instituição com questões as mais diversas - que incluíram estudar mandarim na China e apertar a mão da Angela Merkel - foi algo importante para mim, e também difícil de deixar para trás.

Tendo entendido que tinha chegado a minha hora, me despedi dos meus colegas e passei uma semana assistindo Netflix. Foi quando, numa noite há quase dois anos, antes de dormir, levantei de sobressalto, fui até a sala e disse para o meu marido: “vou abrir um canal no Youtube”. Eu poderia modificar essa história, dizer que passei por longos meses de reflexão e planejamento, ou então dizer que sempre tive facilidade e conhecimento do mundo digital, mas não é isso que eu tenho para te dizer: comecei meu canal no Youtube com quase zero planejamento, ambições ou conhecimento de audiovisual, só para começar. O que eu tinha era o conhecimento que desejava compartilhar com mais pessoas, como fazia antes, em sala de aula, agora sem tantas amarras.

Mas fui com esse foco: levar conhecimento às pessoas e permitir uma conversa com gente dos quatro cantos do Brasil (e, porque não, do mundo). E então, depois de passar um dia inteiro pesquisando, no proprio Youtube, como gravar e editar meus vídeos com as ferramentas que eu tinha em casa, eis que gravei meu primeiro conteúdo: “7 dicas para a escrita dos emails nossos de cada dia”.

Como eu estava interessada em oferecer workshops, palestras ou cursos voltados para linguagem e comunicação em ambientes corporativos, foi assim que eu comecei o canal, lá no dia 04 de dezembro de 2015.

Talvez neste ponto deste artigo você espere que eu diga a você todos os números grandiosos do canal, como eu me tornei a versão feminina do Whindersson Nunes na internet (e se você não sabe quem é Whindersson, volte para o Youtube e procure por ele). Afinal de contas, eu segui uma paixão - o desejo de comunicar e passar conhecimento adiante - e, portanto, deve ter sido só crescimento, cifras e sucesso desde então. Não é assim que nos dizem muitas pessoas por aí?

Eu vou ter que parar essa sua possível expectativa aí.

Porque esses clichês que a gente adora ouvir - e contar - não são parte dessa história. O Youtube, minha gente, mostra para você que consome conteúdo por lá, números exorbitantes, na casa dos milhões, o tempo todo. E pode parecer a você que é simples chegar até lá e que, depois de dois anos, essa é a única trajetória possível.

Pois bem, saiba que, depois de dois anos, tenho uma media de 210 vídeos publicados, cerca de 1400 minutos de informação disponibilizada, muitos mais minutos para produzir e disponibilizar esse conteúdo. E números totais de visualização próximos ao que um canal de grandessíssimo porte tem em um único vídeo. 

Fracassei?

E esta é a chave do que eu queria dizer a você hoje: admitir-se produtor de conteúdo é aceitar que o mundo online em muito se aproxima do offline. Dentro dele, há algoritmos que relacionam números, que "determinam" o sucesso, que se reverte em números novamente. Ser um produtor de conteúdo na internet implica ter persistência, recorrência, como no mundo offline. É preciso estar atento a muitas questões: como entender as estatísticas sobre o seu canal?, quais os “cacoetes" necessários?, o que eu sei de socialmedia?, quais os melhores caminhos para uma boa edição?, como ser chamada para eventos para fazer parte da panelinha de quem é conhecida ou conhece?, quais temas tratar naquela semana?, como dividir seu tempo entre estudar, produzir, publicar e fazer carão por aí? e, last but not least, como monetizar aquilo que produzo?.

Aí entramos numa seara tão cheia de detalhes e relevância, que é melhor deixar para o próximo post. Por ora, que tal curtir, comentar e compartilhar esse texto*?

* aquela ironia básica, afinal, não é isso o que todos falamos nos dias de hoje?