Eu trafego, tu trafegas, nós trafegamos, então...
Na última década, o aumento percentual do número de veículos foi onze vezes maior que o da população. De 2001 a 2012, a frota brasileira passou de 24 milhões em 2001 para 50 milhões de veículos. Ou seja, em apenas dez anos, surgiu nas ruas a mesma quantidade de carros criada ao longo de todas as décadas anteriores. (Dados Denatran, publicado na Veja em 12/02/2015).
Numa sociedade em que cada vez as pessoas têm condições de terem seus veículos próprios o respeito ao espaço do outro se torna uma habilidade indispensável.
Cada dia fica mais difícil trafegar nas ruas, pois despende muito mais da nossa atenção, além de dividir o espaço com os outros veículos, há sempre o cuidado com as motos, obviamente com o transitar dos pedestres e a crescente frequência de ciclistas. Isto é exercer a cidadania!
Trafegar nos oferece uma gama de reflexões e oportunidades para sermos melhores como pessoa. De que forma? Vejamos...
Exercitando a solidariedade cedendo a vez ao próximo, tem sempre alguém que está numa situação difícil e você pode ser gentil.
Exercendo o senso de coletividade, quando se dá passagem à ambulância, bombeiro e etc. Sempre dá-se um jeito de apertar para um ou para outro e darmos prioridade à vida.
A respeitar as singularidades, ninguém dirige igual a ninguém. Uns dirigem mais rápido, outros mais devagar, mas geralmente todos chegam a seu destino.
Trafegar também nos ensina que podemos ser cuidadosos, atentos, mas não temos o controle de tudo, podemos sofrer uma colisão, ou com alguma ação da natureza. Isso nos lembra de nossa impotência diante de certas situações, o que nos torna humildes.
Queremos nos dar bem a todo custo, fazendo ultrapassagens, mas aprendemos que nem sempre adianta quando à frente encontramos um sinal vermelho e aquele que ultrapassamos pára exatamente ao nosso lado.
Os dias de chuva e de trânsito nos fazem parar propositalmente e a reparar ao nosso redor. Observar um pássaro na árvore, uma espécie de flor diferente, a obra de arte no muro, a arquitetura das casas e prédios, uma troca de gentileza nas calçadas, assim como os vestígios de uma sociedade enferma (moradores de rua, pedintes nos faróis e etc). Enfim, interagirmos mais com a paisagem que nos cerca. Existe vida do lado de fora!
O transitar tem despertado o nosso lado mais primitivo, passamos a agir com mais raiva, xingando os outros motoristas que nos fecham muitas vezes sem intenção, nos irritamos com o tempo que o pedestre leva para atravessar a rua, com o motoqueiro que surgiu do nada. O trânsito acaba sendo mais uma forma errônea de liberarmos nossa agressividade, tirarmos o peso de nossos problemas e coloca-los nos outros. Já reparou que a culpa é sempre do outro!?
Assim como o problema das enchentes é culpa somente do governo, mas não vemos problemas em atirar lixo para fora da janela do carro. Quando dizemos que os pedestres são imprudentes atravessando fora da faixa, mas não respeitamos quando estão nas faixas aguardando para atravessar e aqueles que tentam, são quase atropelados.
Nota-se que estamos cada vez mais agitados, sem paciência uns com os outros. Não estamos conseguindo nem relaxar nem num dia de passeio, mudando de faixa constantemente. O que nos leva a um ciclo de constante ansiedade e fúria.
Todos cometemos erros, afinal não somos perfeitos, mas não podemos deixar de nos rever e tentarmos melhorar sempre. E por que não começarmos pelo trânsito?
Se daqui em diante você se ver tomando uma atitude diferente trafegando, por mais simples que seja, com certeza você também estará dando um passo para ser uma pessoa melhor que antes. Sinal verde, boa viagem!
MIS / ITIL / COBIT / Planejamento / Qualidade / Melhoria de Processos - Em busca de recolocação.
9 aOlá Lígia, tudo bem..!!! Isto me faz lembrar uma frase que vi recentemente de (Roberto Shinyashiki) que diz: ... "Assumir nossos erros, exige muita coragem em um mundo que parece feito de pessoas que sempre 'ganham todas'... 'Assumir nossa ignorância', exige muita 'humildade' nesse mundo de quem sabe tudo"... Parabéns pela matéria!! Abraço!!