"Eu Te Amo" Não é “Bom Dia”

"Eu Te Amo" Não é “Bom Dia”

Eu me lembro nitidamente do dia em que a minha querida amiga Thais Frossard Frateschi me disse:

- William, “Eu te Amo” não é “bom dia”.

A gente sempre proseou em longos papos filosóficos, quando viajávamos por todo tipo de assunto.

Nesse episódio, o foco era como essa expressão tinha perdido o valor e caído na vala comum, por inanição de sentido.

A gente debatia sobre a repetição desenfreada e sistemática do eu-te-amo como se fosse um bom-dia sem endereço e nem remetente; algo sem a profundidade emocional que o torna genuíno.


Recentemente, fiquei emocionado enquanto assistia à conversa da Mel Robbins com a neurocientista Wendy Suzuki , quando elas falavam sobre o poder que há em manifestar as nossas emoções, principalmente dizendo “eu te amo” para as pessoas que realmente amamos.

Wendy menciona um evento quando ela percebeu que a sua cultura não estimulava atitudes como essa, de forma espontânea. E, quando ela resolveu mudar a história, a experiência foi super desconfortável, a princípio, mas prazerosa com o tempo.

Seu pai, que sofria de demência, pôde criar, extraordinariamente, uma nova memória que se mostrou permanente. Ou seja, a força da emoção criada pelo evento do “Eu Te Amo”, iluminou um cantinho escuro na mente daquele senhor de raras lembranças.


Eu mesmo vivi algo parecido.

Meu pai faleceu esse ano, no dia 7 de janeiro.

A minha relação com ele, ao longo dos anos, nunca foi muito boa; mas, para a minha sorte eu tinha conseguido passar uma temporada de 4 meses, com um pouco mais de proximidade com o senhor Warner (não, eu não sou herdeiro de nenhuma fortuna); quando pude engolir o orgulho, e me permitir ouvir as mesmas histórias repetidas que ele insistia em contar.

Dessa vez eu tinha novos ouvidos.

Ainda assim, mesmo tendo reescrito as fronteiras que nos separavam, eu ainda não tinha dito o bendito eu-te-amo.

Quando ele partiu, mesmo que estivesse com o coração em paz, a tal frase não havia saído da minha boca e entrado em seus ouvidos.

Eu sei que as minhas atitudes já haviam provado isso; mas a coragem de dizer as 3 palavrinhas mágicas não veio e a vulnerabilidade perdeu outra partida para o ego.

Ficou a lição para mim de que, sim, eu-te-amo não é bom-dia, mas que ambos, se ditos com o coração, mudam as cores do mundo ao nosso redor.


Contei essas histórias para que você pudesse ver o quanto é positivo estabelecer um relacionamento íntimo com as suas próprias ideias, e como isso se reflete nas outras pessoas.

Crescemos sem intimidade com a nossa própria essência; com medo de errar e cometer falhas.

Durante a nossa jornada pela vida, a gente se agarra ao instinto de pertencer; sim, é um reflexo natural de sobrevivência.

Muito obvio.

Não queremos perder vínculos afetivos, familiares e empregatícios.

Fazemos esforços colossais para não deixar de pertencer àquele espaço onde se configura, de alguma forma, a nossa identidade

O “homo sapiens” que habita em todos nós ainda exerce muita influência em nossas decisões.

O primitivo rege muitas de nossas atitudes.

A nossa própria criatividade e senso de inovação, mesmo que poderosos, são vítimas desse primitivismo.

Temos vergonha de errar e perder esses vínculos que mencionei.

Varremos para debaixo do tapete qualquer coisa que possa nos colocar em risco.

E, por causa disso, perdemos valiosas oportunidade de evoluir.


Temos pouca resiliência e baixa tolerância à pressão; ainda nos prendemos à rigidez de nossas ideias mais básicas, acreditando que o conceito de "concreto" pode nos salvar.

O problema é que o universo está em movimento, e tudo o que é rígido tende a se quebrar em algum momento.

Já que estamos falando em “dureza” e “rigidez”, vamos pensar um pouco sobre como anda a engenharia emocional e como ela interfere no design que usamos para dar “asas” à nossa imaginação.



SÓ É IMAGINAÇÃO SE PUDER VOAR

Imagine um voo noturno sobre um oceano vasto, onde a única coisa que mantém você suspenso são asas invisíveis, flexíveis e preparadas para enfrentar turbulências.

Assim são as nossas ideias.

Muitas vezes, voamos na escuridão, guiados pelo instinto, sem saber exatamente para onde vamos ou se nossas asas suportarão o impacto dos ventos contrários.

É na incerteza, na surpresa e, especialmente, no erro, que a verdadeira inovação encontra espaço para nascer.

Esse é o segredo das grandes lideranças: transformar “falhas” em combustível criativo.

Como a asa de um avião que flexiona até sete metros para garantir estabilidade em plena turbulência, nossas mentes e corações precisam se dobrar e se adaptar, em vez de resistir e quebrar.


EU TÔ COM MEDO

Amy Edmondson , com seus estudos sobre Segurança Psicológica, mostrou que ambientes onde as pessoas se sentem seguras para errar são os que mais promovem a inovação.

É curioso como tememos o erro, como se cada falha fosse um atestado de incompetência.

Na verdade, quando criamos uma cultura que celebra a tentativa, o erro se transforma em um trampolim para algo maior.

Como as asas que se curvam em uma turbulência, o erro nos testa e nos ensina.

O problema não é errar, mas o medo de errar.

Quando abraçamos o erro como parte do processo, ele deixa de ser um fardo e se torna uma força propulsora.


A CORAGEM DE SER IMPERFEITO

Brené Brown tem uma mensagem poderosa sobre a vulnerabilidade.

A coragem, segundo ela, não é ausência de medo, mas a disposição de seguir em frente mesmo quando estamos com medo.

Ao liderar com o coração, permitimos que nossas ideias tenham espaço para florescer, pois não as pressionamos a serem perfeitas desde o início.

Assim como as asas do avião precisam flexionar para resistir, nossas ideias precisam de espaço para experimentar, para falhar e se reconfigurar.

Quanto mais corajosos somos em nossos erros, mais criativos podemos ser nas soluções.


O BERÇO DA CRIATIVIDADE

Linda Hill , em seus estudos sobre inovação em times, destacou a importância da colaboração na criação de ideias revolucionárias.

A verdadeira inovação, diz ela, não surge da genialidade individual, mas da inteligência coletiva.

Quando um grupo se permite errar e aprender junto, ele se torna uma máquina de inovação orgânica.

Como um bando de pássaros que migra em sincronia, flexionando suas asas para se adaptar ao vento, times criativos precisam aprender a confiar uns nos outros.

Errar juntos é construir juntos, e é nesse processo que ideias extraordinárias nascem.


O CÉREBRO EM MODO CRIATIVO

David Eagleman , neurocientista e autor, nos mostra que o cérebro humano é, por natureza, flexível (plástico).

Ele muda, se adapta, e encontra novas conexões a partir de erros e falhas.

O conceito de neuroplasticidade nos revela que o próprio "hardware" da nossa mente é programado para inovar.

Assim como as asas de um avião, que devem se ajustar às mudanças constantes do ar, nossas redes neurais se reconfiguram a partir das experiências, especialmente das mais desafiadoras.

Cada erro, cada queda, é uma oportunidade para o cérebro criar novas conexões, fortalecer rotas alternativas e, com isso, ampliar sua capacidade criativa.


RESILIÊNCIA E FLEXIBILIDADE

Quando falamos em inovação, a resiliência é um termo comum, mas frequentemente subestimado.

A resiliência verdadeira, como nos ensina a analogia da asa do avião, não é simplesmente aguentar a pressão, mas adaptar-se a ela.

Ideias rígidas, que não se curvam diante dos desafios, são quebradiças.

Para voar alto, precisamos de asas flexíveis, que saibam lidar com as turbulências da realidade.

Isso nos remete ao trabalho de líderes que souberam transformar falhas em aprendizado e criar soluções disruptivas a partir do caos.

A capacidade de nos adaptar não só nos mantém no ar, mas nos faz alcançar destinos que antes pareciam impossíveis.


RESÍDUO É RECURSO

Na natureza nada se perde.

Os erros, em um sistema bem ajustado, são reaproveitados como energia para novos ciclos.

Da mesma forma, a Inovação Orgânica se baseia na transformação do erro em recurso.

Quando criamos um ambiente onde os erros não são punidos, mas reciclados, abrimos espaço para ideias verdadeiramente revolucionárias.

O erro é o humus fértil que alimenta as futuras inovações.

Se pudermos ver nossas falhas como sementes de novas ideias, a inovação se tornará um processo natural, contínuo e sustentável.


AO INFINITO E ALÉM

Assim como as asas de uma aeronave enfrentam a pressão do vento, nossas ideias enfrentam os desafios do cotidiano, as críticas e o medo do desconhecido.

Mas a verdadeira inovação vem da coragem de continuar, de ajustar as asas e voar mais alto.

Não é o voo suave que define o sucesso, mas a capacidade de enfrentar as turbulências com flexibilidade.

Ao liderar, precisamos criar ambientes onde as ideias possam flutuar, onde o erro seja um elemento esperado e celebrado, e onde o medo de falhar seja visto apenas como mais uma etapa do processo criativo.


BOM DIA, EU TE AMO

O voo das suas ideias depende da qualidade de suas asas.

Não tenha medo de flexionar, de dobrar, de se curvar diante do vento.

Os erros são parte do processo, eles não te definem, mas te impulsionam.

Inovação é resiliência, é flexibilidade, é saber que o céu não é o limite, mas apenas o começo.

A sua história acontece, literalmente, ao vivo. Você tem o roteiro e a direção nas mãos.

Um “bom dia” sincero olhando-se no espelho reflete o quanto o seu “eu te amo” pode valer.

Comece inovando na qualidade do relacionamento que você tem consigo.

Toda palavra que sair da sua boca carrega a energia de suas convicções.

Sua trajetória não está escrita em pedra, mas em um céu vasto e infinito, onde cada turbulência é uma oportunidade para ajustar o curso e voar mais longe.


O mundo precisa de líderes que saibam como transformar falhas em combustível criativo.

Isso faz sentido pra você? Bora decolar?



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MARCOS MARTINO

Compositor - músico - publicitário - roteirista - jornalista

3 m

Sincronicidade: ontem escrevi uma canção sobre o medo. Sobre o medo da morte, sobre o medo da morte em vida e sobre o medo de errar.

Adrian Tsallis

Te ajudo a usar automações e IA para construir soluções digitais que otimizam o negócio e dão vida a MVPs // TED X Speaker // Pai do Enzo e Nina

3 m

Histórias quando contadas de forma tão bela operam milagres! Incrível meu caro!

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