A EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR 

 A EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR 

(Publicado no Estado de Minas em 20/09/2016)

O ensino superior no Brasil assistiu a uma profunda transformação nos últimos 20 anos. A partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira em 1996, o número de instituições privadas cresceu vertiginosamente: enquanto em 1995 as instituições privadas possuíam 58,4% dos alunos matriculados no ensino superior brasileiro, em 2012 este número alcançou a marca de 71%, tendo ainda um pico de 74,4% no ano de 2009.

 O número de vagas gratuitas não tem sido suficiente para atender o número de concluintes do ensino médio, mesmo com o lançamento do Prouni em 2005. Tal programa foi criado com o objetivo de conceder bolsas em instituições privadas para estudantes de baixa renda. Em contrapartida, as instituições passam a ter isenção no pagamento de tributos federais.

 Por outro lado, o número de vagas nas instituições privadas subiu 316,5% entre 2000 e 2012, gerando uma maior inclusão no ensino superior. No entanto, as instituições convivem com um grande problema: a evasão dos alunos. A evasão em uma instituição de ensino superior representa uma perda para a sociedade, ao reduzir o número de profissionais formados e inibir o crescimento do país, além, é claro, das perdas financeiras para a instituição.

 A retenção de alunos é um dos maiores desafios e problemas das instituições de ensino superior. Aproximadamente 50% dos estudantes deixam seus estudos antes da formatura. Apesar de a perda financeira para as instituições de ensino ser algo notório, o comprometimento do projeto de vida e carreira dos alunos que desistem de estudar e buscar uma qualificação profissional também tem de ser considerado. Uma vez que o estudante evadiu do ensino superior, sua vida pode ser completamente transformada, com a perda de oportunidades e surgimento de restrições à sua trajetória profissional.

 O tema evasão tem sido objeto de inúmeros estudos acadêmicos, que buscam mais analisar os dados estatísticos do fenômeno, tentando explicar as razões para a sua ocorrência, do que efetivamente sugerir ações para sua redução. De modo geral, muitos estudos buscam investigar fatores internos às instituições, ignorando fatores externos, tais como crise econômica e situação financeira, social e emocional dos alunos, ou mesmo a questão da capacidade de aprendizado dos jovens.

 Nesse contexto, o Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) está com uma interessante iniciativa para reduzir a evasão. O projeto pioneiro busca dar um maior acolhimento aos alunos, buscando um maior desenvolvimento da capacidade de aprender com autonomia e a construção do sentimento de pertencimento, já no início da vida acadêmica. A ideia é reduzir a evasão de alunos com baixo rendimento nos primeiros semestres de curso, período mais crítico na decisão do estudante em continuar ou abandonar os estudos.

 Preparar os alunos ingressantes para os desafios da vida universitária e suas implicações, ajudando-os na transição entre o Ensino Médio e o Ensino Superior e potencializando a sua aprendizagem é o grande desafio do UniBH. Os resultados já começam a surtir efeitos: muitos alunos que enfrentavam dificuldades iniciais de acompanhamento dos estudos, de organização do tempo e de utilização de estratégias adequadas de aprendizagem, e que por esses motivos abandonavam seu projeto de vida e carreira, hoje já estão se sentindo mais seguros e adaptados à vida acadêmica. Isso é uma vitória para a equipe, pois sabe-se que, assim, muitas vidas poderão mesmo ser transformadas pela educação.

Eduardo Bueno, Professor do curso de Administração 
do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH)

Denise Andreia Oliveira Avelino

Membro de equipe técnica | Governo do Estado da Paraíba

8 a

Fico feliz ao saber da iniciativa da UNI/BH, por cuidar tão atenciosamente dos jovens estudantes. É preciso lembrar que este mesmo jovem ainda estão em fase de desenvolvimento, assim o processo de transição da adolescência para juventude acontece paulatinamente, não é só uma questão cronológica ou biológica. por isto é importante que as instituições prestam atenção nos calouros. Entendo que a Evasão aqui discutida, não é apenas uma questão socioeconômica, mas para além uma questão psicossocial e abarca os jovens de todas as classes.

Emerson Mello

Professor na Faculdade Arnaldo, Professor MBA Senac, Gestor Acadêmico e de Eventos

8 a

Eduardo e Denilson, Concordo plenamente com os comentários e com o texto, que li quando publicado no Estado de Minas, e gostaria de acrescentar como interessado e estudioso do assunto “captação e retenção de alunos no ensino superior” e pela minha vivência de 20 anos na área que boa parte das IES não investe (e algumas de fato não possuem conhecimento e dinheiro suficiente) na retenção de alunos. Na maioria das vezes elas se preocupam mais em captar do que reter, gastando uma quantia considerável em campanhas de vestibular dentre outras ações normalmente não mensuráveis ao final do processo, ou seja, as IES não sabem o percentual de alunos que optaram ou entraram na instituição por meio de indicação ou por alguma ação de marketing desenvolvida. Da mesma forma, elas não acompanham a vida profissional dos seus egressos e muito menos sabem se a formação oferecida contribuiu de alguma forma para o desenvolvimento profissional de seus alunos. Por isso, acredito que em grande parte das IES existe um despreparo muito grande de seus gestores que possuem um olhar cada vez focado nas questões relativas às exigências do MEC e mais distante do que o mercado realmente demanda de um profissional graduado ou pós-graduado. Um abraço

Denilson R. A. Rocha

Administração | Gestão Estratégica | Projetos | Gestão de Pessoas | PMO | Planejamento Estratégico | Processos

8 a

Eduardo, parabéns pelo belo texto que leva a um ótimo debate. Permita-me algumas considerações. A expansão ocorrida a partir do ano 2000 não teve qualquer avaliação frente às necessidades do mercado de trabalho. Nota-se que as muitas instituições de ensino que surgiram no período buscaram cursos cujo investimento inicial é relativamente baixo (administração, contabilidade, pedagogia, direito...) por não necessitarem de laboratórios caros. Desta forma, há um desequilíbrio entre oferta de profissionais e demanda no mercado de trabalho. Muitos alunos não terão a evolução profissional imaginada. Alguns sequer terão melhorias suficientes para recuperar o investimento na formação superior. Outro ponto importante é considerar que a formação universitária é, exclusivamente, suficiente para garantir qualificação. A qualidade da formação em diversos cursos é insuficiente para se falar em "profissional qualificado". Frequentemente temos pós-graduados que sequer sabem escrever corretamente, que não conhecem minimamente da própria profissão e nem é preciso falar das questões comportamentais. Muitos alunos avaliam que o diploma é suficiente para mudar de vida, evoluir profissionalmente. Na verdade, muitos destes alunos em nível superior teriam maior probabilidade de sucesso se investissem em formação técnica. A evasão é, dentre as muitas explicações possíveis, consequência de oferta desequilibrada, cursos sem qualidade e alunos inadequados para a profissão.

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