Expectativa de manutenção dos FED Funds incendeia as bolsas
Após dois dias de queda forte, a bolsa de Xangai fechou em alta de mais de 4%. E a euforia não tomou conta apenas da bolsa chinesa, está por toda parte, inclusive no Brasil. Apesar de todos os problemas políticos, que podem emperrar o ajuste fiscal, a bolsa de São Paulo sobe com a alta do petróleo no mercado internacional e com a contaminação positiva dos mercados acionários. O fator preponderante para a alta das bolsas globais é a clara percepção de que o FED irá manter os juros em 0% na reunião do Comitê de Política Monetária que começa hoje e termina amanhã. Em pesquisa com 80 analistas, feita pela Reuters hoje, 45 acreditam que o FED manterá os juros inalterados. Hoje foi divulgada a inflação do país e ela apresentou queda dos preços em agosto em 0,1%. A inflação acumulada em doze meses está em 0,2%, muito abaixo dos 2% que são a meta do FED. Veja o gráfico:
A queda dos preços vem se acentuando desde o meio do ano passado, mas o FED mostrou em seus documentos que essa queda não seria tão grave, já que estaria concentrada nos preços dos combustíveis. Com o petróleo caindo de cerca de US$ 110 o barril para os atuais US$ 45-50, a pressão deflacionária sobre os índices é grande. Uma alternativa para evitar esse efeito “isolado” é olhar o núcleo da inflação, que exclui os preços de energia e alimentos:
Olhando por esse lado a inflação está mais próxima da meta, sofrendo poucas influências da queda dos preços do petróleo. Mas se a inflação está abaixo da meta, ao menos desde 2012, qual seria a urgência dos membros do FED em subir os juros? Os dirigentes do banco central acreditam que o nível atual dos juros e a alta liquidez do sistema (cerca de US$ 4,8 trilhões) são patamares anormais, que existem apenas para incentivar a economia dos EUA a se recuperar dos desastrosos efeitos da crise de 2008. Como a economia está se recuperando bem - com o PIB subindo e o desemprego caindo - não há porque segurar os juros em patamares tão baixos. E há quem acredite que quanto mais o FED segura os juros, tanto mais ele dá chance a uma forte inflação no futuro e incentiva a criação de bolhas especulativas nos mercados acionários, imobiliários ou quaisquer outros. Porém, ainda que esses riscos sejam pouco intangíveis, não há evidências sólidas de que alta dos juros agora impeça sua ocorrência. Ao contrário, as evidências são as de que altas prematuras dos juros podem abortar processos de recuperação, tal como ocorreu na Europa recentemente. E é por essa razão que acredito que o FED manterá os juros inalterados.
Mais importante que a decisão de amanhã, será a divulgação das estimativas que os membros da diretoria do FED fazem a respeito da inflação, do crescimento, do desemprego e do comportamento dos juros básicos nos próximos meses. Em junho, último mês em que as projeções foram divulgadas, as estimativas dos juros para esse ano eram:
Nesse quadro havia indicação de que dois diretores acreditavam que as taxas não mudariam nesse ano, cinco acreditavam que elas subiram até 0,5%, cinco que subiria até 0,75% e cinco até 1%. Portanto, quase 90% dos diretores acreditavam em uma alta dos juros nesse ano. Um número elevado, que pode sofrer alguma alteração nessa reunião, com alguns pulando para baixo, para a região de poucas ou nenhuma alta.
Hoje foi dia de decisão do Banco da Inglaterra e os juros ficaram em zero por lá. O presidente do banco, Mark Corney, sinalizou que o BC deverá esperar até o ano que vem para decidir se sobe ou não seus juros. Ele também sinalizou que os riscos globais aumentaram desde a reunião passada e que isso deve ser observado. Já o BCE deve ter mais um problema para administrar: a inflação na Zona do Euro caiu para 0,1% no ano. Veja o gráfico:
Os preços vêm caindo continuamente desde 2011, apesar de todos os esforços do BCE em evitar a deflação. Diante desse cenário, a possibilidade do FED sozinho liderar o ciclo de alta dos juros parece ainda mais remota.
Se os juros nos EUA vão ficar em zero, as bolsas são para cima, o dólar e os juros são para baixo. Exceto no Brasil, que está emparedado pela crise política que, efetivamente, bloqueia o ajuste fiscal.