Explanação sobre a carência atual de lideranças assertivas nas esferas mais elevadas do poder
Recentemente, li uma matéria sobre a crise política atual que me chamou muita atenção. Seu conteúdo discorria sobre as consequências de uma liderança fraca, sobretudo de políticos do poder executivo. Importante: quero deixar claro que sou apartidário e avesso à política (no sentido mais pejorativo que a palavra apresenta), mas não alheio aos acontecimentos desta esfera. Acima de tudo, sou um defensor do Brasil, amo meu país "de paixão", e, como deveria ser com todo brasileiro, torço para que ele avance e aflore todo seu potencial.
De fato, tempestades são ótimas oportunidades para avaliar a eficácia das ações do comandante da nau, verificar o quão forte é seu braço para segurar o manche, quais estratégias serão direcionadas para manter a embarcação à salvo e se o "norte" apresentado trará a bonança necessária. Ou seja, crises deixam o "teto de vidro" do líder ainda mais frágil e transparente.
Como uma das facetas do brasileiro é a criatividade, há alguns dias vi um meme que dizia: "conseguimos a façanha de alcançar a trindade das crises - política, econômica e de saúde" (e eu ainda incluiria uma quarta vertente: a crise moral). O cenário ideal - seria cômico, se não fosse trágico!
Mas, se alguma das crises atuais foi, de fato, gerada pela atuação (ou falta dela) de uma liderança fraca, quais características denotam essa fraqueza? Mais ainda: o que seria uma "liderança forte"?
É mister reconhecer a existência de figuras importantes, lideranças eficazes sobretudo nas organizações, que contribuem com sua expertise e visão, formam equipes assertivas, deixam grandes legados e despertam nas pessoas o desejo real de segui-las. No Brasil, ouso dizer que estamos sim bem servidos de líderes no meio organizacional privado. Poderia listar aqui vários nomes!
Infelizmente, é comum projetarmos expectativas nas lideranças da esfera pública, aquelas que escolhemos para tomar as decisões que influenciam diretamente nossas vidas, e sem demora, nos frustrarmos. Pode parecer redundante abordar esta questão, mas precisamos traze-las à tona com a máxima constância. Estes desalinhamentos entre expectativa e realidade são gerados porque, ao invés de cumprir o seu papel de representação e defesa de interesses coletivos, a atenção está voltada para: defesa de interesses pessoais e alheios ao coletivo; existência do chamado "rabo preso" que impede o gestor de tomar decisões difíceis, mas necessárias; foco apenas na aparência e elevada hipocrisia (faça o que eu digo e não o que eu faço); oportunismo (no mau sentido, ou seja, ação apenas quando se convém), vaidade, etc.
Nossa carência de representatividade e sede de encontrar boas referências nos leva a conjecturar sobre a eficácia de elevar determinadas figuras ao posto máximo de liderança da nação. Alguém se lembra do clamor (obviamente, existia certo sarcasmo nisto) para lançar o técnico Tite à presidência da República, tendo em vista alguns bons resultados à frente da seleção brasileira de futebol?
Sim, prefiro acreditar que isto foi mesmo uma campanha com tom sarcástico, um conteúdo gerado apenas para divertir e entreter os internautas. Contudo, é bem verdade que somos muito propensos a acreditar que determinadas figuras, por apresentarem algumas características peculiares, podem ser a esperança para a nossa nação, tão maltratada por charlatões e lobos em pele de cordeiros (tema para outro artigo). Não estou afirmando que tais características são inúteis, mas que sozinhas, elas são insuficientes. Para quem ainda duvida da nossa inclinação a depositar confiança de maneira aleatória, vai aí algumas descrições de figuras públicas da história recente do país (em alguns casos, com influência local). Certamente, você conseguirá identifica-las:
-Figuras de forte opinião, algumas de cunho radical - Não é porque alguém se mostra transparente e autêntico, sem "papas na língua", que vai ser um bom representante. Um líder precisa ser polido em suas palavras, preservar a sua equipe e a sua própria imagem. Ele precisa gerar credibilidade e confiança, seja para o público interno ou externo.
-Militantes políticos - Geralmente defendem uma causa específica, mas gerir uma nação tão polarizada e diversificada quanto a nossa exige habilidade política e visão macro, abrangente e de longo prazo.
-Personalidades do meio televisivo e show business - Neste campo, temos postulantes e figuras que já ocupam cargos públicos no poder executivo (foco da nossa explanação). É realmente difícil pensar que estas personalidades pisarão na bola, pois precisam zelar por sua imagem pública. Mas, representar um povo tão diversificado e liderar processos tão complexos quanto os nossos, é outra história...
Além destes, também temos figuras do meio jurídico, religioso, militar,, etc. Todos certamente têm suas qualidades e ferramentas que podem auxiliar no alcance de uma gestão assertiva, mas o mérito aqui é (reforçando): atributos isolados não garantem a eficácia de uma liderança.
Gosto muito de uma série chamada CSI Las Vegas. Um dos personagens mais emblemáticos é o Capitão Jim Brass, uma espécie de suporte à equipe de investigação. Às vezes, ele realiza interrogatórios junto com a equipe; ora, está na cena do crime dando cobertura para os investigadores; também atua como estrategista nos casos que possuem grande repercussão. Num dos episódios, em meio a uma crise com a corregedoria e com a imprensa, a primeira preocupação dele foi blindar a equipe e passar segurança a ela. O mais interessante é o olhar de respeito dos integrantes, a postura de confiança e a elevada produtividade que a equipe consegue alcançar no dia a dia. Sim, eu sei que é uma série de ficção, mas ela desenha muito bem o quanto uma liderança pode ser eficaz sem ser arrogante, centralizadora e impositiva.
Parece contraditório, mas na prática um "líder forte" precisa ser sensível às necessidades do seu público - e às vezes a atenção precisa estar mais voltada para a estruturação física, psicológica e estratégica do público interno. Precisa ser político, no sentido de percorrer muito bem todas as casas de sua gestão, mas também necessita ser mediador, polido e agregador. Um bom líder desperta, de fato, o interesse em segui-lo naturalmente - e ninguém segue alguém que não tem projetos, visão e credibilidade.
Bem, é verdade que existe um vasto acervo de matérias sobre o assunto em epígrafe, mas além de tudo que já lemos, se estamos em busca de referências sólidas e confiáveis, antes de se fazer um "seguidor" de algum postulante a capitão do navio, faça as seguintes perguntas: que tipo de seguidores elx tem (quantidade e qualidade)? Qual legado esta liderança tem construído e projetado para o futuro? É possível vislumbrar projetos sólidos e bem estruturados em sua proposta de trabalho? Ao enxergar a equipe ou colegas de trabalho que já atuam com elx, qual tipo de clima e ambiente você percebe? Ao analisar suas respostas, você estaria disposto a segui-lx? Pense nisso!