Extra! Extra! Nicolau Maquiavel publica nota sobre Michel Temer!
O comentário do filósofo político italiano ecoou pelos noticiários, dada a análise fria e acertada sobre a situação política brasileira dos últimos anos e a prisão do ex-presidente Michel Temer, causando grande alvoroço na mídia e nas instituições mundo afora.
Leia abaixo a íntegra da declaração:
“– É que os homens, com satisfação, mudam de senhor pensando melhorar e esta crença faz com que lancem mão de armas contra o senhor atual, no que se enganam porque, pela própria experiência, percebem mais tarde ter piorado a situação”, escreveu, fazendo reverberar reflexões diversas sobre o tema.
Maquiavel estava se referindo ao duvidoso processo de impeachment que destituiu a ex-presidente Dilma Roussef, em 2016, orquestrado com o condão de Michel Temer (à época vice-presidente) em conluio com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e setores da alta elite brasileira.
Calma. Eu não estou ficando louco.
As palavras são, de fato, de Nicolau Maquiavel (1469-1527) e podem ser encontradas no capítulo III de sua magnum opus, O Príncipe. Foram escritas há mais de quinhentos anos, mas se passariam facilmente por declarações proferidas nesta semana.
Cabe a análise: às vésperas do impeachment, pesquisas de diversos institutos apontavam para um amplo apoio popular ao processo, sugerindo que a maioria da população brasileira chancelava a derrubada de Dilma Roussef do posto que haviam lhe conferido mediante as eleições de 2014. O Datafolha registrou, em março de 2016, que 68% dos entrevistados eram favoráveis ao impedimento.
Pronto. Era o cenário perfeito. Os homens queriam mudar de senhor – e com satisfação! Foram às ruas, milhões deles, no afã de buscar uma mudança. Ostentavam suas camisas verde-amarelo, cartazes de conteúdo “revolucionário”, pixuleco e pato infláveis, aos gritos de “Fora Dilma”. Lançaram mão de armas contra o senhor atual, como previra Maquiavel.
Acontece que havia uma linha de sucessão, sendo Michel Temer, o vice-presidente, o responsável por assumir o trono, conduzindo o País e suprindo os anseios daquele povo abrilhantado com o grande feito.
O curioso é que esse mesmo povo brasileiro – antes imbuído de um sentimento apaixonadamente esperançoso – percebeu, por experiência própria, ter apenas piorado. Como previra Maquiavel.
O governo Temer registrou o maior índice de rejeição da série histórica, segundo o Instituto Datafolha: na ocasião, 82% dos brasileiros classificaram o governo do emedebista como ruim ou péssimo e apenas 3% diziam que era ótimo ou bom.
Ora, não eram estes os revolucionários inebriados com a possibilidade de melhoria? Em que momento a esperança se perdeu?
Tenho minhas ressalvas em relação à prisão preventiva do ex-presidente, no contexto e nas condições em que a mesma ocorre. Não pretendo aqui entrar nesse mérito, tendo em vista que me exigiria um texto de igual tamanho para tratar do prisma.
O que convém aqui elucubrar é tão somente sobre um povo que age movido pela emoção, moldado como barro à inexorável vontade da mídia, da elite e dos interesses escusos de uma corja putrefata de políticos e empresários.
Hoje a ex-presidente destituída encontra-se livre, em seus passeios matinais de bike, gozando em plenitude dos direitos políticos e da absolvição que só o tempo poderia lhe referendar.
Temer, seu algoz, que pensava não ter nada a temer (com o perdão do trocadilho) hoje se encontra relegado à condição de corrupto contumaz, desprestigiado e aprisionado. Não por grades, mas pelos próprios atos. A história cobra. Maquiavel previra.
(Publicado originalmente na minha coluna semanal do Jornal Pequeno, no dia 24/03)